O que a vitória na Câmara significa para futuro de Temer?

 

O presidente Michel Temer demonstrou que ainda conta com a maioria dos votos na Câmara dos Deputados ao barrar o pedido da Procuradoria Geral da República (PGR) para que fosse processado por corrupção.

Mas a perspectiva de novas denúncias da PGR, o esvaziamento dos cofres públicos e defecções na base aliada tornam incertas a conclusão do mandato de Temer e a retomada de sua agenda de reformas, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.

Na votação da última quarta-feira (02/08), 227 deputados se posicionaram a favor do prosseguimento da denúncia contra Temer, e 263 foram contra – bem além dos 172 votos de que o presidente precisava para arquivar a iniciativa. Dezenove deputados se ausentaram, e dois se abstiveram.

Embora tenha vencido com alguma folga, Temer viu sua base de apoio encolher a 51% da Câmara – o que pode pôr em risco sua agenda de reformas e forçá-lo a reorganizar a composição do governo, cedendo a partidos que pedem mais espaço em troca da fidelidade.

‘Tirando o Brasil da UTI’

Em nota, o vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), disse que o resultado “dá força para que o presidente continue trabalhando para tirar o Brasil da maior crise política e econômica de sua história e avançando nas reformas necessárias”.

“Venceu a energia positiva que está tirando o Brasil da UTI”, afirmou.

Já o líder da minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que o “governo ganha, mas não leva”. “Sai enfraquecido e perde na governabilidade, que era a única coisa que o sustentava.”

Em outubro, quando Temer aprovou a proposta que limitou os gastos públicos, primeiro grande teste do governo no Congresso, ele obteve o apoio de 63% dos deputados. Na aprovação da reforma trabalhista, em abril, o número de votos caiu para 58%.

Em maio, a delação da JBS – base da denúncia da PGR contra Temer, acusado de receber ilegalmente R$ 500 mil por intermédio de um aliado, o ex-deputado paranaense Rodrigo Rocha Loures – fez com que mais parlamentares deixassem a base.

Para o vice-líder da minoria, deputado Silvio Costa (PTdoB-PE), a expectativa da oposição é que, caso a PGR apresente uma nova denúncia contra Temer, a população pressione os deputados que apoiaram o governo a mudarem de lado.

“Daqui para a frente é esperar uma nova denúncia, começar um novo debate e ver se as ruas agem.”

A professora de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) Flávia Biroli diz que, vencida a votação, aliados de Temer no Congresso e os empresários que apoiam o governo pressionarão o Planalto para terem suas demandas atendidas.

“Ele terá de mostrar algum serviço para conseguir se manter.”

No caso dos parlamentares, Biroli cita a bancada ruralista, um dos principais pilares do governo no Congresso. Desde que assumiu, Temer fez vários agrados ao grupo – como a aprovação de uma Medida Provisória que facilita a regularização de terras, a paralisação de demarcações de áreas indígenas e quilombolas e o alívio a dívidas de agricultores.

“Imagine então o que virá adiante, com base em que foram feitos os acordos para essa votação?”, questiona.

BBC Brasil

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