O bicho homem e as florestas

A relação do bicho homem com a floresta já foi muito íntima. Em determinado período do ciclo evolutivo, a floresta – e só a floresta – o alimentava. Frutas, caules, folhas, bulbos, brotos… Depois ele aprendeu a se alimentar dos produtos indiretos da floresta: da variedade de mel e dos habitantes da floresta… Hoje, o homem não depende mais da floresta. Ou, será que depende?… Vamos refletir.

Com efeito, das matas retiramos muito alimento “in natura”, como castanhas-do-pará, palmitos, pariri (fruta doce e saborosa), pinhão, coco, guaraná, cacau… Hoje, também cultivamos esses alimentos. A rigor, quase tudo vem originariamente das matas e vegetações nativas, mesmo que de outras regiões e países, como abacate e manga (América Central), parreira (Palestina), milho (México), trigo (Egito), etc…

O homem desenvolveu miscigenações, quer de frutas, quer de cereais, aprimorando qualidades que lhe interessavam. Atualmente, temos mangas híbridas (tommy, palmer, haden e keitt), parreiras (bordeaux, champagne, niágara, bergerac, thompson, etc.), pêssegos (amora, chiripá, chimarritas, etc.), melancias (congo, crimson sweet, fairfax, etc.)… Centenas de hibridismos, por polinização ou enxertia. Desse modo, temos frutas mais agradáveis ao paladar. Quem diria que se conseguiria uma manga mis doce que a bourbon?… Temos a palmer, bem mais doce. Variedades de trigo menos sujeitas às principais moléstias (oídio, septoria, giberela…), milhos mais produtivos… Há pouco mais de 50 anos, colhiam-se 150 sacas de milho por alqueire e, hoje, colhemos em média 450. Batatinha, então?!… Eram 6 a 7 toneladas por hectare; estamos com 30 a 40 toneladas! Todo mundo ganhou mais dinheiro, passou a uma vida mais confortável… Mas alguém perdeu, não perdeu? Sim: a floresta perdeu boa parte de sua área. Vale dizer: o homem perdeu, porque ele precisa da floresta.

Vamos pensar juntos: quem absorve os gazes tóxicos dos veículos, das fábricas e das próprias queimadas? As florestas, a vegetação, a cobertura verde! Sem a vegetação de médio e alto portes, estaríamos mortos, asfixiados por ar pestilento, com preponderância de compostos de carbono, carregado de outros componentes nocivos. A emissão de gases de efeito estufa aumentou 8,9% em 2016, segundo o Observatório do Clima. Além disso, a floresta é crucial para a estabilidade dos fluxos aquosos (vertentes, riachos e rios), como também das lagoas. Quase impossível uma floresta que não tenha rios… Quase impossível a existência de rios sem floresta. Em verdade, são interdependentes. Só para manar o raciocínio: já ouviu falar em algum rio no deserto do Saara, de Gobi ou do Atacama?… Sem árvores, sem matas, sem vegetação… sem rios, sem água. Precisamos preservar as matas não somente pela respirabilidade do ar, mas também como garantia da permanência da água.

Vamos pensar numa situação prática, comum em nossa cidade. Criou-se uma lei que proíbe o corte do pinheiro, quer nativo, quer plantado. Quem plantará pinheiro para não poder usufruir dele?… Os pinheiros remanescentes serão vítimas de raios, vendavais, cupins e da própria idade. Perguntamos: está certa essa lei?…

- Anuncie Aqui -