Embraer & Boeing

Um pouco antes do Natal, o ambiente empresarial mundial foi sacudido pela notícia de conversas entre a Embraer e a Boeing com respeito a uma possível fusão. A líder de mercado estava conversando com a 3ª colocada para juntar forças. O motivo era a necessidade da Boeing fazer frente à associação entre a Airbus e a Bombardier.

O mercado de aviação comercial é dividido em duas classes: grandes aviões (mais de 200 passageiros) e médios aviões (de 70 a 150 passageiros). Boeing (faturamento de 90 bilhões de dólares) e Airbus (faturamento de 60 bilhões de dólares) dominam o mercado dos grandes aviões. Embraer e Bombardier disputam o segmento de médios aviões com faturamento em torno de 6 bilhões de dólares. O faturamento é na ordem de 10 a 15 vezes maior. Só que o valor de mercado das empresas é mais concentrado ainda. A Boeing vale 180 bilhões de dólares. A Airbus vale 80 bilhões de dólares. A Embraer vale 3,8 bilhões. E a Bombardier vale 5,0 bilhões de dólares.

A Boeing vale mais do que a Airbus por ter metade do seu faturamento na área de defesa (armas). A participação da Airbus nesse segmento não é tão grande. A rentabilidade na venda de armas e sistemas de defesa é muito maior do que na área de aviões comerciais.

A Bombardier tem mais de 50% do seu faturamento em trens e veículos para metrô. O segmento de aviões comerciais é o seu calcanhar de Aquiles. Lá não estava mais conseguindo concorrer com a Embraer.

A saída da Bombardier foi uma aposta de alto risco. Fazer uma nova linha de aviões que variariam de 100 passageiros até 200. No projeto inicial seriam três aparelhos. Com um custo de desenvolvimento de aproximadamente 5 bilhões de dólares. O objetivo era concorrer com a Boeing e Airbus nos modelos menores.

A saída da Embraer foi não enfrentar diretamente os dois líderes de mercado. Decidiu que o seu maior modelo teria 150 assentos, e focou no menor custo operacional por acento, mesmo comparado com os aviões de 200 lugares da Boeing e da Airbus. A linha de aviões da Embraer era bem mais nova que a da Bombardier, uma troca de motores e melhoria do projeto das asas já daria um ganho de mais de 20% de eficiência, com relação a família de aviões da Embraer em operação. O que resultou num custo de investimentos na ordem de 1,5 bilhões de dólares. Era uma estratégia bem mais conservadora que a da Bombardier.

Na realidade Boeing e Airbus fazem aviões menores que 200 passageiros. Só que usam como base os aviões de 200 lugares e reduzem de tamanho, o que resulta num aparelho pouco eficiente e caro, no segmento de 120 até 150 lugares.

Com um avião de 200 lugares e com custo operacional melhor que os modelos atuais da Boeing e da Airbus a Bombardier esperava roubar clientes da Boeing e da Airbus.

No desenvolvimento dos respectivos projetos começaram a aparecer as diferenças entre a Bombardier e a Embraer. O projeto da Bombardier atrasou e os custos explodiram. Na Embraer os prazos e custos acompanham o cronograma. É um projeto menos ambicioso e a empresa tem uma tradição bem diversificada no desenvolvimento de projetos.

A Bombardier é uma solteirona, desesperada para achar quem possa lhe pagar as contas. A Airbus ficou com 51% do projeto do novo avião, sem pagar nada. O acordo é formar uma parceria e ver o que que dá. Até agora Airbus e Bombardier tiveram pouco tempo para definir como salvar o projeto do novo avião.

O primeiro passo foi de tentar escapar das sobretaxas que o governo norte-americano impôs à venda de 75 aparelhos à Delta. Foi feito um anúncio que os aviões da Delta seriam produzidos nos Estados Unidos na fábrica da Airbus que acabou de ser inaugurada.

Mas a Boeing não quer correr nenhum risco. Quando a Airbus lançou o seu primeiro avião, a Boeing menosprezou a capacidade de crescimento da empresa. Hoje é o maior concorrente. Não quer cometer o mesmo erro duas vezes. Sabe que a Airbus tem capital e habilidade em desenvolver bons aviões e consertar o projeto da Airbus se achar adequado.

Uma parceria com a Embraer fortaleceria muito a Boeing e também a Embraer. As duas empresas são líderes nos segmentos que atuam. Em vários projetos elas já trabalham juntas e sabem como a outra se comporta.

A Embraer está cautelosamente otimista com relação a sua associação com a Boeing. Os especialistas brasileiros na área acreditam que seja uma ótima oportunidade. Os políticos brasileiros só falam bobagem, mas isso não é novidade. Vamos acompanhar o desdobramento das negociações.

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