Conheça mais sobre o vício em comprar que atinge pobres e ricos

Desde pequena, Larissa* tinha a impressão de que todas as amigas da escola tinham mais dinheiro e eram mais bonitas do que ela. Quando chegou na faculdade, ganhou um cartão de crédito do pai que era para emergências, mas um dia se viu comprando roupas e presentes para a família toda com ele.

Já na vida adulta, após uma rotina estressante no trabalho, se deu ao luxo de gastar US$ 800 em uma bolsa e mais US$ 120 em outra em uma breve passagem por Nova York – dois itens que ela tinha certeza de que precisava e de que “merecia”. Resultado? Dívidas e mais dívidas no cartão de crédito.

Miguel* também se sentia inferior com relação aos amigos quando criança. Hoje, comprando presentes e gastando dinheiro, consegue driblar a rejeição e se sentir melhor. Mas admite que, não fosse pela ajuda de seu pai, teria feito a filha passar dificuldade.

No caso de Antônio*, ele teve uma infância difícil, com poucas condições. Chegou a passar fome quando o pai alcoólatra deixou de comprar comida para gastar o dinheiro em bebida. Quando cresceu, mesmo ainda na pobreza, queria uma vida diferente, mas, trabalhando como professor particular, acabava cobrando dos alunos menos do que gastava em transporte e alimentação para dar as aulas. Foi acumulando faturas que não podia pagar, emprestava valores que não tinha, deixava de comer para pagar dívidas e chegou até a fechar um plano de R$ 3.000 em uma academia de muai thai que não frequentou.

Ele diz que sua situação só não ficou pior porque “não tinha mais dinheiro”.

Já Elis* sempre foi uma mulher bem-sucedida, com duas faculdades, empresária desde os 17 anos. Mas quanto mais dinheiro tinha, maior era sua ganância para adquirir negócios e imóveis – até ver R$ 300 mil de suas reservas acumuladas em quatro anos irem pelo ralo em uma empresa que acabou quebrando em pouco tempo. Seu fundo do poço chegou quando teve a casa penhorada com oficiais de Justiça batendo à porta, e um desespero que a fez pensar em suicídio.

Para amenizar a situação, pegava pães de mel consignados com uma doceira e ia vender na porta da Igreja.

As histórias desses que são chamados “gastadores compulsivos” se repetem e caracterizam uma doença pouco conhecida e geralmente ignorada pelas próprias vítimas dela. São homens, mulheres, jovens, velhos, mais ricos ou mais pobres, que têm em comum um passado com problemas sociais e/ou psicológicos, e encontraram no cartão de crédito o alívio e o prazer momentâneos de que precisavam.

“É bem parecido com a dependência química. Você começa a fumar primeiro com o cigarro dos amigos, depois vai comprar seu próprio maço, até passar a fumar todo dia. Você percebe uma expansão daquele comportamento na vida da pessoa. Não é o objeto em si, mas é o ato de comprar”, explicou a psicóloga Tatiana Zambrano, psicóloga que atua nesta área há 14 anos e é coordenadora do tratamento para compradores compulsivos no Hospital das Clínicas, em São Paulo.

“A pessoa tem necessidade de adquirir demais e não tem um planejamento adequado. Esse transtorno compulsivo independe da condição socioeconômica. O que vai acontecer é que a pessoa vai acumular dívidas proporcionais ao seu nível econômico”, emendou Zambrano.

Oniomania

A chamada oniomania é a doença que se caracteriza por um vício em comprar ou gastar dinheiro. A pessoa não consegue controlar seus impulsos e acaba gastando mesmo quando já está cheia de dívidas.

 

Fonte: BBC Brasil

- Anuncie Aqui -