A Guerra de Trump

Na semana passada um fato assustou o mercado mundial de grãos. A previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicou uma redução da área plantada de soja e de milho lá. Ninguém esperava. Todas as previsões anteriores apontavam um pequeno aumento. O motivo assustou ainda mais, os agricultores norte-americanos estavam com medo das retaliações da China. Na quarta-feira, 4 de abril, um segundo susto. Os chineses anunciam uma taxa de 25% para a importação de soja dos Estados Unidos.

O presidente Trump começou uma guerra comercial com a China. O seu objetivo é reduzir o déficit comercial, que anda ao redor de 350 bilhões de dólares ao ano. A primeira iniciativa foi aumentar as tarifas de importação de aço e alumínio. Atingiu mais o Brasil e outras nações consideradas amigas, do que a China.

Numa segunda rodada de aumento de tarifas de importação ele escolheu os produtos eletrônicos de alta tecnologia. Atingiu o que queria, a estrutura industrial da China. As penalidades chegam a 60 bilhões de dólares. Elas começam a valer em junho.

Sabe-se como as guerras se iniciaram. Só que depois elas têm um dinâmica toda própria. É o que está acontecendo na economia norte-americana. Todos estão achando que podem ser vítimas das sanções dos chineses.

As exportações norte-americanas de soja para os chineses estão 20% abaixo do ano passado. Os chineses estão migrando para o Brasil. Em quatro ou cinco anos os chineses não precisarão comprar mais soja dos Estados Unidos.

Os agricultores norte-americanos estão se antecipando a uma queda das compras chinesas de soja, e começando a reduzir a sua produção. Isso não era esperado pelo mercado. Mas o comportamento dos agricultores é lógico, estão com medo de plantarem soja e não terem para quem vender.

Esse comportamento conservador vai atingir os fornecedores dos agricultores como os fabricantes de equipamentos. O que tende a reduzir o crescimento da economia dos Estados Unidos. Esse movimento já está acontecendo. Os fabricantes de equipamentos já estão reduzindo os seus planos de produção de equipamentos agrícolas nos Estados Unidos e aumentando no Brasil.

Para o Brasil os efeitos já começaram a ser sentidos. Os volumes de embarques de soja para a China estão bem acima do ano passado.  Os preços nos portos brasileiros estão um dólar acima da paridade dos portos norte-americanos, do Golfo do México.

O aumento dos preços internos no Brasil melhora a lucratividade dos nossos agricultores. A essa disputa entre a China e os Estados Unidos se soma a quebra da safra argentina, que deve estar entre 15 e 20 milhões de toneladas. A primeira previsão da safra 2017-2018 foi de 57 milhões de toneladas. As últimas já falam de 38 milhões de toneladas. O número real será conhecido dentro de dois meses. No início do plantio da safra norte-americana. A safra brasileira será um pouco maior que a inicialmente prevista, ao redor de 120 milhões de toneladas. E não será o suficiente para compensar as perdas argentinas.

Uma redução maior da safra norte-americana deve mexer com os preços. O que deve melhorar a atratividade para os agricultores norte-americanos. O resultado do plantio só será conhecido daqui a quatro meses. Até lá o mercado ficará muito instável.

Os estoques brasileiros são bons, mas não o suficiente para amortecer a quebra da safra argentina e uma redução drástica da safra norte-americana. A próxima safra brasileira só começa a ser plantada em setembro.

Um aumento drástico dos preços da soja e do milho, essas duas commodities andam muito juntas, pois em muitos usos uma pode compensar a outra, melhora muito a lucratividade dos agricultores brasileiros.

Uma mudança de patamar dos preços pode ocorrer nas próximas semanas. O que deve aumentar bastante as exportações brasileiras e o superávit da balança comercial. Com preços mais altos, as vendas antecipadas da próxima safra podem crescer bastante. O que vai aumentar a entrada de dólares, criando um ambiente bastante favorável para a economia brasileira. Isso num ano de eleições presidenciais e de graves crises políticas.

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