Pacificação com fuzil

Por Roberta Jansen, Estadão Conteúdo

O major Douglas, da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), se prepara para falar com a imprensa. A cara fechada, de poucos amigos, disfarça a adrenalina que ainda corre por seu corpo, após uma operação malsucedida na comunidade do Morro da Laje, na zonal sul do Rio de Janeiro. A ação terminou em tiroteio, deixando um policial ferido e uma “suposta traficante” morta.

Enquanto Douglas tenta explicar que seus homens foram recebidos a tiros pela mulher e forçados a revidar, moradores da favela, aglomerados às suas costas, o desmentem: “Era uma trabalhadora, não estava armada, foi executada”. Os repórteres tentam amplificar a voz dos moradores e pressionam o major sobre a morte. Ele perde a paciência e responde aos berros: “Vocês só querem saber de nos acusar, vocês têm noção do que a PM passa aqui o dia inteiro? Por que vocês não me perguntam sobre o policial ferido? Vocês não sabem de porra nenhuma”.

A cena bem poderia ser real, daquelas que acontecem todos os dias no Rio, uma cidade cada vez mais violenta, sob intervenção federal na segurança pública. Uma cidade falida, onde o inicialmente aclamado programa das UPPs foi completamente desmantelado, deixando PMs e moradores de favelas completamente reféns de bandidos. Onde PMs são executados rotineiramente e matam com mais frequência ainda, simulando tiroteios.

Na verdade, no entanto, a cena foi filmada na tarde de terça, na favela de Tavares Bastos, zona sul. Faz parte do longa Intervenção, do diretor Caio Cobra, com roteiro do ex-policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Rodrigo Pimentel e do jornalista Gustavo de Almeida, ex-assessor da PM. O major Douglas é Marcos Palmeira, com a cabeça raspada e uma farda da polícia. “Ih, perdi a linha com a imprensa”, constatou o ator, rindo.

O filme, que estreia em 15 de novembro, vem sendo aguardado como o grande lançamento do gênero deste ano, no rastro de Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, e Tropa de Elite 1 e 2, de José Padilha. Só que retrata um outro momento da violência, mais atual. Entre policiais idealistas e PMs assassinos, defensores de direitos humanos, moradores de comunidade e traficantes, o filme tenta abordar todos os lados dessa complexa questão de forma imparcial. “Acho que o filme gera uma discussão, uma reflexão, não ódio e polarização”, diz a atriz Bianca Comparato, que vive a soldado Larissa.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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