Briga no Mercado de Aviões Médios

Nesta semana está ocorrendo na Inglaterra a maior feira de aviões no mundo. Todos os fabricantes estão expondo os seus últimos modelos e falando dos próximos projetos. É o momento que os fabricantes anunciam as suas maiores vendas.

A Embraer, que está em negociação com a Boeing,  anunciou vendas de 14 bilhões de dólares para várias companhias ao redor do mundo. A maior concorrente da Embraer, a Bombardier, que foi absorvida pela Airbus, anunciou duas grandes vendas de aviões médios para o mercado norte-americano.

São anúncios de uma grande disputa no mercado de jatos comerciais de 70 a 150 lugares. A Airbus precisa de uma lista bem grande de pedidos para viabilizar a fábrica que está construindo nos Estados Unidos. Para isso está vendendo aviões médios abaixo do custo. Por ser uma grande companhia, e muito lucrativa, pode suportar perdas transitórias em alguns produtos.

Só que existem pelo menos mais três empresas querendo entrar nesse mercado. Uma na China, que já está com aparelhos voando em fase comercial, mas só lá, pois não conseguiu ainda uma certificação para voar nos Estados Unidos e na Europa, outra no Japão e uma terceira na Rússia.

Companhias aéreas nos Estados Unidos estão se aproveitando dessa fraqueza, para adquirir bons aviões a preço de banana. É uma janela de oportunidade. Depois de viabilizar a nova fábrica, os preços da Airbus voltarão ao normal. Isso é muito comum nos supermercados, algumas empresas lançam produtos a um preço muito baixo para os clientes fazerem um teste. Se gostarem do produto voltarão às compras, mas o produto já estará no preço normal. No mercado de aviação esta fase de teste custa alguns bilhões de dólares.

O segundo ponto interessante é que a entrega desses aviões não será imediata. É normal que as companhias esperem de 1 até 10 anos para receber um avião encomendado. Atualmente o prazo médio para grandes aviões está entre 7 e 8 anos.

Os clientes da Embraer vão receber os seus aviões num prazo bem menor, pois a fábrica da Embraer já está montada e com capacidade ociosa. O que vai refletir num aumento do emprego no Brasil e maiores receitas de exportação. A balança comercial vai receber um grande impulso com o aumento da produção da Embraer.

Os clientes norte-americanos deverão esperar um pouco mais para receberem os seus aviões. A fábrica da Bombardier, agora Airbus, precisa ser montada e o avião precisa entrar nos padrões de qualidade da Airbus. Isso leva algum tempo, talvez de dois a três anos.

Para o Brasil essa guerra entre as duas maiores fabricantes de aviões do mundo, Boeing e Airbus, é muito boa.  O impacto no aumento do emprego e nas receitas de exportação será imediato. A Embraer estava em sério risco de diminuir o seu tamanho, em função da falta de pedidos.

Por outro lado, a Bombardier estava em risco de desaparecer, pois não conseguia vender o seu novo avião, e não tinha mais dinheiro para continuar o seu desenvolvimento. A venda para a Airbus foi só de faixada, para a entrega de uma empresa em estado falimentar. Todo o prejuízo foi bancado pelos contribuintes canadenses, que deverão continuar injetando dinheiro no projeto do avião da Bombardier mesmo após a entrega do projeto para a Airbus, que não pagou nada para a Bombardier. Pior ainda, os canadenses verão os empregos irem para a nova fábrica a ser construída nos Estados Unidos. Alguns empregos vão permanecer no Canadá, mas serão poucos.

O que estamos assistindo é uma grande mudança na estrutura de produção mundial de aviões. Mudanças desse porte ocorrem a cada 20 ou 30 anos. Nesse primeiro lance, aparentemente, o Brasil saiu em vantagem. A Embraer continua existindo e a produção de aviões continua aumentando, gerando empregos de alta tecnologia no Brasil. Vamos ver o que ocorre em seguida.

- Anuncie Aqui -