Editoras independentes consolidam presença na Flip

Por Guilherme Sobota, enviado especial, Estadão Conteúdo

A promessa do início da 16ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty acabou se cumprindo. No movimento da Festa de aceitar e acolher editoras independentes e feiras de livros, sem a imposição comercial de uma única rede de livrarias, a Flip ganhou corpo, atraiu mais gente e abriu um espaço grande para a bibliodiversidade. Se em 2017 eram sete casas parceiras, em 2018 foram 22 espaços de parceria oficial com a Flip, muitos deles colaborativos e abrigando várias editoras pequenas.

O destaque nesse sentido foi a Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (a Flipei), na qual um barco ancorado à margem do canal de Paraty servia de palco – foram muitas mesas de debates sobre literatura, política e mercado editorial – e de livraria navegante. Eram 14 editoras de tamanhos variados, como Elefante, Dublinense, Lote 42 e Relicário.

Há quase 30 anos no mercado editorial, o editor Rogério de Campos, da Veneta, veio a Paraty pela primeira vez com sua nova editora, criada em 2012 e que hoje emprega 5 pessoas. “Às vezes, no mundo do livro, as pessoas falam como se fosse uma coisa só. Mas, na verdade, existe o negócio das grandes redes de livrarias e das grandes editoras, tudo é bem concatenado. Talvez agora menos. E existe o negócio de livreiros que nunca vão ser grandes empresas, que não têm dinheiro para comprar espaço na vitrine. Nesse sentido, esse barco é a Flip para nós”, explicou. A Veneta é uma das editoras que embarcaram na ideia da Flipei, organizada pela Autonomia Literária e pelo coletivo Rizoma.

Ainda na impossibilidade de fazer as contas para ver se o investimento financeiro se pagou, Campos diz que, “pela movimentação, já valeu”. Ele diz considerar a presença na Festa um investimento em marketing para a editora.

“Temos que admitir que houve um movimento sensato da organização da Flip”, comentou. “Com a crise geral do mercado, a Flip também sofre.”

A Casa do Desejo reuniu outras 18 editoras pequenas, sob a liderança de Eduardo Lacerda, da Patuá. A casa editorial existe desde 2011, conta com duas pessoas, e está pela primeira vez na Flip. “Teremos um prejuízo de R$ 25 mil”, diz Lacerda, com uma tranquilidade incompatível com o conteúdo da frase que acabou de sair de sua boca. “Mas é isso, é um investimento.” Cada editora pagou um valor para estar ali e um financiamento coletivo também foi feito antes da Flip.

Na Casa do Desejo, estão editoras de várias partes do Brasil, como Bahia, Espírito Santo, além de São Paulo e Rio. “Para as editoras pequenas em cidades menores, estar aqui aumenta a visibilidade também de onde eles vêm, porque sai nos jornais locais, as pessoas comentam”, explica Lacerda.

Ele conta que a organização da Flip entrou em contato em busca da parceria oficial. “Nós pagamos um valor, cerca de R$ 2,5 mil, mas, se há uma proteção e um suporte do evento, as pessoas vêm. O valor é relativamente baixo.”

A editora da Quase8, do Rio (estreando na Flip, com duas pessoas), Tatiana Kely, explica que as empresas menores estão acostumadas a eventos que buscam contato direto com o cliente. “Buscamos outro caminho porque precisamos desviar das grandes livrarias”, explica.

Jorge Filholini, que trabalha com três editoras na Casa Paratodos (Kapulana, Edith e Demônio Negro), confere ainda outro valor à colaboração entre as casas pequenas. “Nesse momento de cortes no orçamento federal para educação e falta de incentivos para a cultura, a união é a nossa frente de batalha”, diz.

Mais experiente quando o assunto é Flip, a Liga Brasileira de Editoras (Libre) vem a Paraty há cinco anos seguidos. Segundo a presidente da associação, Raquel Menezes, a ideia da Casa Libre é diferente, mas ela também funciona como espaço de divulgação para as editoras. “As independentes, desde o ano passado, também têm espaço na programação principal. Temos um catálogo muito bom, e estamos aqui para mostrar isso.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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