População de estrangeiros triplica em dez anos na capital

A população de estrangeiros em Curitiba vem crescendo nos últimos anos e a Prefeitura reforçou o atendimento a essa população. - Na imagem, curso de manutenção de eletrodomésticos na Casa Klemtz. - Foto: Valdecir Galor/SMCS

A população de estrangeiros em Curitiba vem crescendo nos últimos anos e a Prefeitura reforçou o atendimento a essa população. Dados do Ministério do Trabalho mostram que somente na capital o número de trabalhadores estrangeiros no mercado de trabalho formal mais que triplicou em dez anos – passou de 1.059 para 3.464 entre 2007 e 2016 (último dado disponível).

De acordo com o levantamento, desse total, 1.911 estavam no setor de serviços, seguido pelo comércio (765), indústria (463) e construção civil (313). Quase 40% dessa população era formada por haitianos, mas há também argentinos, paraguaios e portugueses, chilenos e venezuelanos que vêm para a cidade em busca de uma vida melhor.

Com esse aumento, a Prefeitura de Curitiba vem adotando políticas para essa população, desde acolhimento e orientação, até a intermediação de mão de obra, confecção de carteira de trabalho e capacitação de mão obra.

“Curitiba, pelo desenvolvimento econômico e pelo planejamento urbano é uma cidade que sempre atraiu muitos estrangeiros. Além dos haitianos, houve uma quantidade expressiva de estrangeiros de países desenvolvidos que vieram para a cidade para trabalhar em empresas aqui”, disse Julio Suzuki Júnior, diretor presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes).

“Agora, o que vemos é uma nova leva de estrangeiros, puxada pelos venezuelanos”, concluiu Júnior.

Acolhimento

Dados da Fundação de Ação Social (FAS) mostram que 379 estrangeiros foram atendidos na Casa da Acolhida e do Regresso no ano passado. Até maio desse ano já passaram pelo local 176.

A unidade, que funciona na Rodoferroviária, oferece acolhimento emergencial e também garante o suporte e orienta quem veio para ficar. A FAS dispõe de 1.188 vagas para atendimento a pessoas em situação de rua nas modalidades Casa de Passagem, Abrigo e Repúblicas.

Uma das metas é incluir a pessoa na rede socioassistencial do município para evitar a marginalização e prevenir a violência. Isso inclui providenciar vagas de albergagem para quem chega. “A população estrangeira que migra de outros países por contingências sociais, chega ao Brasil na maioria dos casos em situação de extrema vulnerabilidade social. Com isso, são um dos públicos prioritários para atendimento nos Cras e nos Creas, que prestam serviço de proteção social a toda população”, diz Ana Luiza Suplicy Gonçalves, Assessora Técnica de Planejamento da FAS.

De acordo com dados da diretoria de Relações do Trabalho, entre o início de 2017 e julho desse ano, foram 1.953 estrangeiros encaminhados para vagas de trabalho por meio do Sistema Nacional de Emprego (Sine). Desse total, 61 foram colocados nas vagas.

Um mapeamento do perfil desse trabalhador mostra que eles são na maioria do sexo masculino, tem entre 30 e 39 anos e mais de 50% tem ensino médio completo. Os trabalhos que mais tiveram colocações de estrangeiros foram de faxineiro e de auxiliar de serviços de alimentação.

Qualificação

Também é grande o número de estrangeiros que buscam capacitação em cursos do programa Liceus de Ofícios, que garante qualificação de graça para população em situação de vulnerabilidade.

Atualmente são oito estrangeiros fazendo cursos nos Liceus, quatro haitianos, um boliviano e três venezuelanos.

Depois de fugir das dificuldades na Venezuela e ficar um tempo em Roraima, o engenheiro civil  Diorglan Chourio, de 31 anos, veio há dois meses para Curitiba, onde está fazendo um curso gratuito de reparação de eletrodomésticos de linha branca na Casa Klemtz.

“Eu estudei ir para três lugares. Além de Curitiba, pensei em Florianópolis e Porto Alegre. Mas decidi vir para cá porque acho que tem mais oportunidade e porque o clima é bom”, diz ele, que veio com a esposa.  Chourio, que trabalha como pizzaiolo em um restaurante, sonha com um emprego com carteira assinada e estabilidade.

“Estamos construindo uma nova vida, do zero, aqui em Curitiba. Então queremos poder fazer nossas coisas, pagar aluguel, quem sabe comprar uma casa própria, comprar geladeira, fogão, cadeira e mesa para casa”, disse.

Maikol Bolivar, também de 31 anos, deixou a esposa e os filhos na Venezuela para tentar uma vida nova em Curitiba e assim que possível, trazê-los para a capital. Formado em estatística, ele também cursa de segunda a sexta-feira o curso de reparação de eletrodomésticos promovido pelo programa Liceus do Ofícios.

“É uma oportunidade interessante porque sou novo aqui na cidade e posso fazer um curso de graça. Curitiba tem um alto desenvolvimento humano e um bom sistema de transporte. A minha ideia é me estabelecer aqui”, disse Bolivar.

“É preciso pensar no indivíduo de maneira global e proporcionar uma vida mais digna, independentemente dos motivos que o levaram a sair do seu país de origem. Para isso, a FAS Trabalho prioriza este público nas ações de qualificação profissional e de intermediação de mão de obra”, explicou Fabiano Vilaruel, diretor de Qualificação para o Trabalho da FAS Trabalho.

“A empregabilidade abre portas para outros quesitos primordiais, como moradia digna, acesso à cultura e uma alimentação de qualidade”, definiu Vilaruel.

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