‘Onda antissistema é fenômeno global’, afirma Ian Bremmer

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(Foto: Divulgação)
Por Beatriz Bulla/Estadão Conteúdo

A onda antissistema ao redor do mundo favorece a eleição de populistas e nacionalistas no Brasil, EUA, Europa e países da América Latina com a ajuda de uma polarização intensificada pelas redes sociais. A avaliação é de Ian Bremmer, fundador e presidente da Eurasia Group, consultoria especializada na análise de riscos políticos globais.

Ao Estado, Bremmer avaliou que a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) como presidente do Brasil faz parte desse movimento global que atinge também os países emergentes. “Há um grande descontentamento [NO BRASIL]com corrupção, serviços públicos e de infraestrutura precários e o establishment, em termos de governos, Congresso e presidente”, afirma Bremmer, destacando que a maior parte da população brasileira não votaria em Bolsonaro em outras circunstâncias. “É muito semelhante com o que vimos com o Brexit, Trump e eleições italianas.”

O futuro da onda populista, segundo ele, é temerário. “Como as economias estão indo bem agora, o problema é menor do que poderia ser. Quando a economia global tiver um novo período de baixa, as coisas ficarão bem piores”, afirma.

Questionado se o movimento “antissistema” está ligado a uma onda conservadora, Bremmer lembra que há eleição de populistas e nacionalistas de diferentes espectros políticos no mundo todo. “Não vejo apenas como um movimento conservador. Se você olhar ao redor do mundo é mais um movimento anti-establishment. Não como uma questão de direita versus esquerda.”

A eleição de populistas na América Latina aumenta o número de países liderados por políticos considerados de direita – com Bolsonaro, Sebastián Piñera, no Chile, Mauricio Macri, na Argentina, Iván Duque, na Colômbia, Mario Benítez, no Paraguai, e Martín Vizcarra, no Peru. Na contramão está o México, onde os eleitores consagraram Andrés Manuel López Obrador, um nacionalista de esquerda.

A cooperação entre figuras nacionalistas é difícil, diz Bremmer, e coloca em xeque o globalismo. “Será interessante ver o quanto vão cooperar. É difícil ver isso funcionar numa escala global. O que torna o modelo chinês mais forte, como um novo modelo, pelo mundo.”

Em abril, Bremmer lançou o livro Us vs. Them: the failure of Globalism (Nós contra eles, a falência do globalismo). Entre os fatores que levaram à eleição de populistas, segundo ele, estão a insatisfação das classes trabalhadoras com serviços e infraestrutura, o crescimento do sentimento anti-imigração e a sensação de que ações militares mais machucaram do que ajudaram. “A quarta justificativa, que é nova, é o crescimento das redes sociais e a conexão entre tecnologia, redes sociais e informação, que tem um impacto enorme na polarização política.”

“Estamos falando de companhias privadas que não têm visão de patriotismo. Eles veem sua responsabilidade principal com os seus acionistas”, afirma. Segundo ele, a solução passa pela pressão de acionistas, mas Bremmer não é otimista: “As coisas vão ter que piorar para melhorar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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