QUEBRANDO O GELO – COM ENÉAS RIBEIRO

Saudações meus queridos!

Semana triste essa que estamos atravessando…

Quando achamos que já vimos de tudo, um mar de lama literalmente escorre pelo país, não sendo a primeira vez infelizmente, o que mostra que a impunidade perpetua o descaso. Sei que errar é humano, e permanecer no erro é mais humano ainda, porém fechar os olhos para o óbvio é burrice mesmo.

É preciso atravessarmos outra tragédia absoluta para nos darmos conta que tudo que aconteceu em Mariana não deu em absolutamente nada para os culpados. Inclusive, nem as indenizações foram pagas, pois a toda poderosa Samarco recorre na justiça até hoje.

Enquanto isso, o povo de Brumadinho dormia sob a sombra da morte. Quanto mais eu leio sobre a tragédia, mais fico indignado… Por exemplo, o tipo de barragem mais ultrapassada foi utilizada (assim como várias outras aos mesmos moldes ainda em atividade); existiam projetos para utilizar os rejeitos como matéria prima para tijolos e telhas, com um custo reduzido em 30% do material tradicional, que possibilitaria um alívio dos rejeitos no fundo da barragem, mas   foi ignorada essa possibilidade, e sabem porquê? Possivelmente “economizar”, ou melhor dizendo, ampliar lucros.

A comunidade de Brumadinho registrava um alto número de problemas dentários por causa do minério de ferro na água, e alguém da VALE se importava com isso? Claro que não, pois o cobre no bolso importava mais que o ferro na água, e o povo se ferrou. Lamentável, vergonhoso…

MINHA OPINIÃO:

A ampliação da mineração de ferro em Brumadinho foi autorizada em dezembro de 2018, aumentando em 88% as atividades. Levando em conta que no Brasil é uma avacalhação na fiscalização das condições das barragens, era questão de tempo dar zica. Pelo menos as demais barragens aos moldes de Mariana e Brumadinho entrarão em um processo de desativação.

O triste é saber que os moradores da região de Brumadinho reclamavam há mais de uma década sobre desmatamento ilegal e a má qualidade da água contaminada pela mineração no local, mas eram tachados de “Eco chatos” ( “ain, que povo chato, porque não vão abraçar árvore e aplaudir o sol…”) foram ignorados. Agora está todo mundo postando foto de gente suja de lama no Face, mas enquanto surgiam os protestos ambientais dos moradores da região, foram ignorados cruelmente. Hoje choramos e nos indignamos ao vermos vaquinhas atoladas, lama sem fim, paisagem varrida pela morte, enquanto um helicóptero sobrevoa carregando um corpo de mais uma vítima…

O que fica disso tudo? Mais que nunca é hora de lutarmos por uma linha dura nas leis ambientais. As mineradoras estão entre as principais interessadas em afrouxar as regras de licenciamento ambiental, que está em discussão na Câmara. Não adianta se indignar hoje com a VALE, e amanhã aplaudir a vida desse povo que come dinheiro ser facilitada.

Finalizo a coluna com meus sinceros sentimentos pelas vítimas da ganância, em Mariana, Brumadinho, ou onde quer que estejam.

Olhos atentos meu povo… T+

Enéas Ribeiro – Cartunista que ora para que essa tragédia não se repita.

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