Com crítica política e Marielle do início ao fim, Mangueira leva 20º título

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Foto: Reprodução/Internet

Por Fábio Grellet e Fernanda Nunes, com colaboração de Renata Batista/Estadão Conteúdo  

Com um enredo em que contestou a história oficial do Brasil, homenageou heróis populares e deu destaque à vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL), assassinada em 14 de março de 2018, a Estação Primeira de Mangueira conquistou nesta quarta-feira, 6, o 20.º título. O carnavalesco Leandro Vieira, com o segundo título em quatro anos, afirmou que a conquista é “um recado” ao presidente Jair Bolsonaro.

“O carnaval não é o que ele (Bolsonaro) acha que é. Ele deveria mostrar para o mundo o carnaval da Mangueira, o carnaval da arte, o carnaval da luta, o carnaval do povo, o carnaval da cultura popular”, afirmou Vieira, em referência aos posts criticando cenas obscenas nas ruas. A escola teve todos os 270 pontos possíveis, considerando o descarte da nota mínima em cada um dos nove quesitos.

A Unidos do Viradouro, que retornou ao Grupo Especial neste ano, somou 0,3 ponto a menos e foi a vice-campeã, sob o comando de Paulo Barros. Foram rebaixadas Imperatriz Leopoldinense, em 13.º lugar com 266,6 pontos, e Império Serrano, em 14.º com 263,8 pontos. Se o regulamento for mantido, o que não aconteceu nos dois últimos anos, em 2020 elas disputarão a Série A, segunda divisão do samba cariocas.

No trajeto inverso, a Estácio de Sá venceu a Série A e em 2020 voltará à elite. Ela é herdeira da Deixa Falar, fundada em 1928 e considerada a primeira escola de samba do País.

Durante a preparação para o carnaval, a Mangueira teve duas dificuldades: o presidente da escola, deputado estadual Chiquinho da Mangueira (PSC), foi preso em novembro acusado de envolvimento em esquema de propinas na Assembleia Legislativa. Por causa dessa prisão, a Uber, que havia oferecido R$ 500 mil para cada escola, desistiu do patrocínio. Chiquinho está em prisão domiciliar. No fim da apuração, seu nome foi gritado em coro pelos diretores no sambódromo.

O segundo susto foi a prisão do intérprete da escola, Marquinho Art’Samba, em plena Sapucaí, logo após o ensaio técnico de 17 de fevereiro. Ele devia pensão alimentícia e passou um dia na prisão. “Foi o carnaval da superação para mim e toda minha família”, afirmou o cantor, que neste ano estreou na verde e rosa. O samba foi o primeiro trunfo da Mangueira: escolhido em outubro, tornou-se muito popular nas ruas, tanto pela qualidade musical como por citar expressamente a vereadora Marielle – que se tornou figura central, homenageada na Comissão de Frente e na última ala. A viúva de Marielle, Mônica Benício, foi um dos destaques.

Entre as duas homenagens, a escola exaltou heróis populares como Zumbi dos Palmares (interpretado pelo músico e presidente de honra da Mangueira Nelson Sargento), Chico da Matilde (jangadeiro que lutou pela Abolição da Escravatura no Ceará) e Luisa Mahin (líder da Revolta dos Malês, no Império).

Durante a apuração, em nenhum momento a escola fundada por Cartola foi ameaçada – só 2 das 36 notas não foram 10. Com o 20 º título, também se aproxima da líder nesse quesito, a Portela, que tem 22.

A vice-campeã Viradouro também se manteve neste posto a maior parte do tempo, perdendo em apenas dois quesitos para a Vila Isabel. Recém-alçada ao Grupo Especial, após três anos na segunda divisão, a Viradouro obteve esse desempenho graças ao talento de Paulo Barros, que apresentou um enredo sobre fábulas infantis revisitadas por um adulto.

A Beija-Flor, campeã em 2018 e que neste ano contou a própria história, decepcionou com o 11.º lugar. A escola não contou mais com o carnavalesco Laíla, que se transferiu para Unidos da Tijuca, sétima colocada. A vice-campeã de 2018, Paraíso do Tuiuti, também caiu bastante: ficou com o oitavo lugar, após ter problemas em dois carros alegóricos. A escola contou a história do bode Ioiô, “eleito” vereador em Fortaleza em 1922.

Sambódromo

O presidente da Liesa, Jorge Castanheira, aproveitou para cobrar melhorias no sambódromo, que só foi liberado pela Justiça para ser palco dos desfiles uma hora antes da abertura do carnaval, na sexta-feira. “Tem de falar com a prefeitura e a Riotur para cuidar melhor da Sapucaí”, afirmou.

‘Luta por Justiça’

A viúva de Marielle Franco, Mônica Benício, falou sobre a homenagem da Estação Primeira de Mangueira à ex-vereadora.

1. Marielle ajudou a Mangueira a ganhar o campeonato?

A Mangueira ajudou na luta por justiça. Sem dúvida, havia um sentimento de solidariedade. A Mangueira trouxe a urgência da construção política e a justiça por Marielle. Demonstrou que vidas faveladas importam. Foi uma contribuição mútua, junção de amor e solidariedade.

2. Essa vitória vai contribuir para acelerar as investigações?

Não sei se acelera, mas pressiona para que o resultado chegue. O mais importante é saber quem mandou matar.

3. Por que você foi a única parente a desfilar?

Não sei responder pelos demais. Fui convidada pelo Leandro (Vieira, carnavalesco).

4. Agora vai comemorar a vitória a noite inteira?

A ideia é celebrar a vitória da Mangueira e o início da justiça por Marielle.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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