QUEBRANDO O GELO – COM ENÉAS RIBEIRO

Saudações, meus queridos!

Durante a semana rolou o papo que a tal do desafio da Momo voltou tocando terror geral.

Se você não sabe do que estou falando, a Momo é um desafio virtual no estilo da Baleia Azul, que induz as crianças a realizarem atividades perigosas e suicidas.

Quando surgiu no Japão e no México, virou um fervo; rolaram boatos que ela já estava no Brasil. Esses boatos logo desapareceram e a Momo se tornou mais uma lenda urbana de internet, tipo os saudosos gatinhos engarrafados.

A dita cuja da Momo, que é mais feia que bater em mãe no segundo domingo de maio, é uma imagem retirada de uma escultura japonesa, do artista Keisuke Aiso. Feita de silicone, foi exposta na Vanilla Gallery, em Tóquio, no Japão, em 2016. Algum espírito de porco, porém, fotografou a obra e transformou em uma ideia doentia chamada Desafio da Momo, enviando mensagens que continham imagens violentas e colocavam o destinatário em situações de risco.

Pois é, depois de dar um sumiço, algum desocupado espalhou a notícia de que a tal da Momo estava de volta, agora inserida nos vídeos do YouTube Kids, canal de internet para crianças.

Mas virou e mexeu e, por fim, era mais um fake.

Essa história, porém, nos faz refletir sobre a quantidade lixo virtual que orbita nosso cotidiano, e que direta ou indiretamente consumimos, assim também como o quanto estamos dependentes do mundo virtual para determinar nossas vidas, escolhas e decisões.

A sociedade atual anda mais sem rumo que bolacha em boca de banguela. Tem tanta gente isolada do mundo, interagindo com seus amigos, em pleno fim de semana ensolarado, apenas via redes sociais…! Temos legiões de solitários que dependem do Tinder para conseguir uma aproximação porque não saem mais de casa, ou porque não sabem mais como amolecer o coração de uma gatinha. Outros seguem lapidando a vaidade com suas fotinhos no Instagram ou, resumindo a autoconfiança na quantidade de likes que acumulam em cada postagem…

Nesse solo fértil de solidão, isolamento social, excesso de vaidades e orgulhos sempre à flor da pele, cresce uma nova geração que vive silenciosa, caminhando a passos lentos e de cabeça baixa, enquanto olha para a tela do celular, ignorando o mundo em sua volta. Tal qual na natureza, o membro mais fraco do bando é o alvo do predador. Por isso essa geração introspectiva acaba sucumbindo a Momos e outras coisas do gênero.

É hora de os pais desgrudarem os olhos do celular e lembrarem que têm filhos.

Tempo bom em que os pais apavoravam os filhos cantando com amor “Nana, neném, que a Cuca vem pegar”. Hoje a internet é quem põe nossos filhos para dormir, ameaçando que a Momo vem pegar… Prá acabá!

MINHA OPINIÃO: Na minha infância, a piazada da vizinhança corria solta pela rua, temos cicatrizes que comprovam os tombos de bicicleta, joelho ralado no campinho de cascalho, marca de pedrada na cabeça… também tínhamos os pés cascudos de correr descalços no anti-pó que parecia mais um ralador de queijo… éramos mais encardidos, porém éramos mais fortes e mais felizes. Canal de desenho para criança? Não. Perdeu o desenho que queria ver, esqueça. Sabe Deus quando daria sorte de ver a sequência. Aprendemos, com isso, a esperar, ganhar e perder. Em nosso tempo o fenômeno Momo não se criaria: tínhamos medo era do véio do saco que fazia sabão de criança, medo da carrocinha e das assombrações que os pais e avós contavam em seus causos. Hoje o causo virou “lenda urbana”, o véio do saco virou pedófilo e a carrocinha virou quadrilha internacional de tráfico de crianças.

Mas enfim, nos resta resgatar essa infância perdida, criar nossos filhos conectados com o mundo real. É um desafio que como pai também enfrento, sei as limitações e possibilidades, mas é uma luta a ser travada.

Que Deus nos dê sabedoria, pois infelizmente estamos criando uma geração danoninho, “que vale por um bifinho”, mas não é bife…

Olhos atentos meu povo… T+

Enéas Ribeiro – Cartunista que já tomou pedrada na infância.

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