Dólar destoa de ativos domésticos e fecha em alta com cautela política

Por Antonio Perez/Estadão Conteúdo  

Em uma sessão de idas e vindas, o dólar subiu mais um degrau nesta segunda-feira, 20, emendando o quarto pregão seguido de alta. A despeito do leilão do Banco Central para rolagem de linhas e de sinais de acerto entre parlamentares e o Ministério da Economia em torno das alterações no texto da reforma da Previdência, investidores mantêm uma postura cautelosa. Com mínima de R$ 4,0788 e máxima de R$ 4,1221, o dólar à vista fechou a R$ 4,1034 (+0,08%) – maior valor de fechamento desde 19 de setembro de 2018 (R$ 4,1308).

Segundo operadores, diante dos riscos externos, com a novela nas negociações comerciais entre China e Estados Unidos, e da instabilidade política interna, a ordem é trabalhar sempre com ‘hedge’. “Existe muito procura por proteção. Há até uma ideia de quanto o dólar pode recuar, mas não dá para saber até onde pode subir. Além disso, os juros estão mais baixos, o que barateia o hedge”, diz o operador da corretora Necton, José Carlos Amado.

A moeda americana até abriu em queda, na expectativa do leilão de linha com recompra do BC. Mas trocou de sinal e passou a subir ainda pela manhã, correndo até a máxima de R$ 4,1221, o maior valor intraday desde 25 de setembro de 2018 (R$ 4,1419). No leilão, o BC vendeu a oferta total de US$ 1,250 bilhão, com recompra em 3 de janeiro e 2 de abril de 2020.

A moeda americana perdeu força ao longo da tarde e chegou a operar momentaneamente em queda. O alívio veio na esteira do enfraquecimento da moeda americana ante divisas emergentes e de declarações do presidente Jair Bolsonaro e do resultado do encontro entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e do relator da Previdência na Comissão Especial da previdência na Câmara, Samuel Moreira (PSDB-SP).

Após a reunião, Guedes se disse confiante no trabalho do relator e otimista com a aprovação de um texto com a “potência necessária”. Ressaltando a liderança do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Moreira afirmou ter convicção de que a reforma trará economia de R$ 1 trilhão, como almejado por Guedes

Moreira ainda afirmou que não há nada conclusivo em relação ao relatório, que será apresentado em até 15 dias. Na sexta-feira, o presidente da comissão, deputado Marcelo Ramos (PR-AM) dissera que os deputados tocavam um projeto com o DNA do parlamento.

Mais cedo, a despeito dos ataques à imprensa, a “grupo corporativistas” e a “classe política”, Bolsonaro negou que haja briga entre os Poderes e afirmou que “se a Câmara e o Senado têm proposta melhor (para a previdência), que apresentem”.

“De um modo geral, o mercado reagiu bem a Bolsonaro. Além disso, o dólar lá fora está menos forte, o que ajudou a diminuir a pressão por aqui. Mas foi algo bem pontual e limitado”, afirma Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor.

Além do andamento da reforma da Previdência, o mercado acompanha com lupa a votação da Medida Provisória 870, que reestrutura os ministérios, para medir a temperatura das relações entre governo e Congresso.

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