Moro disse no Roda Viva que rever prisão após segunda instância “seria um desastre”

O juiz Sérgio Moro foi o entrevistado da noite de ontem (26/03) do programa Roda Viva, da TV Cultura. Foi a primeira vez que Moro participou de uma atração ao vivo na televisão e durante a entrevista, que rendeu a terceira posição no Ibope em São Paulo, com 4 pontos de audiência, Moro falou das investigações da Operação Lava Jato, em especial a que envolve o ex-presidente Lula, da impunidade no País, das eleições deste ano, entre outros assuntos.

Ao responder sobre um possível “acordão” para liberar Lula e outros figurões envolvidos na Lava Jato, como o STF deixou no ar na semana passada, o juiz se mostrou esperançoso.

“Como juiz, não posso acreditar em uma hipótese dessa. Todas as instituições, e eu não digo só o Supremo, mas todas elas, devem mostrar uma firmeza, porque o que os casos já julgados na operação Lava Jato revelam é que havia um quadro de corrupção muito grave, a dita corrupção sistêmica. Isso é algo que joga o nosso País para trás, afeta a produtividade da economia, a qualidade da nossa democracia e o que é pior, a meu ver, afeta a fé que as pessoas têm no regime democrático”.

Ele não quis se aprofundar sobre qual deveria ser a posição do STF no julgamento desses casos, mas que torce pela melhor decisão. “Espero que o sistema reaja de forma proporcional à gravidade desses fatos” e que o Supremo Tribuna Federal“tome decisões apropriadas não só no caso do ex-presidente, mas em relação a todos os outros envolvidos na operação”.

Outros temas polêmicos foram abordados pela bancada de jornalistas. Quando questionado sobre o auxílio-moradia dos juízes, Moro optou por não falar pela categoria. “Eu não me sinto autorizado a ser uma voz para falar de direitos corporativos dos magistrados”. Ainda assim, emitiu sua opinião: “existe esse benefício, que é questionável, mas existe também uma situação que deveria ser abordada pela imprensa, o fato de que há a previsão constitucional de que os subsídios dos magistrados deveriam ser ajustados anualmente. E isso não acontece há três anos”, defendeu.

Moro comentou ainda sobre o foro privilegiado, que, a seu ver, é um recurso que não funciona muito bem atualmente, transformando o Supremo Tribunal Federal em uma espécie de vara de primeira instância. A respeito de seu direito ao benefício enquanto magistrado, disse: “eu acho absolutamente dispensável. Não quero isso, acho uma bobagem”. E reforçou: “em uma democracia, temos que eliminar ou reduzir bastante o foro privilegiado”.

O magistrado, elogiado pelo apresentador Augusto Nunes como um dos homens mais respeitáveis desse País, foi questionado também em relação as eleições presidenciais deste ano. Ele disse que “há bons candidatos”, outros “não tão bons” e alguns que “merecem juízo maior de censura”. “Nós, brasileiros, não podemos chegar às eleições cabisbaixos”, disse, demonstrando novamente esperança ao clima de ceticismo que se propaga no ar em relação a classe política.

Moro finalizou sua entrevista trazendo um ponto de vista que difere do senso comum: “não é algo inerente no brasileiro ser corrupto ou ter um desapreço à lei. O brasileiro quer um país mais honesto, mais íntegro. Eles querem um país em que você tenha um governo de leis e não um governo de interesses especiais. Eu simplesmente não acredito que isso possa ser uma espécie de destino manifesto dos brasileiros ou dos nossos vizinhos e irmãos da América Latina. O que é preciso é vontade política e construção de instituições que diminuam a corrupção. E isso é factível”.

A entrevista de Moro alcançou o topo do Trending Topics do Twitter no mundo, ranking dos assuntos mais comentados e repercutidos no microblog.

Bastidores

Como acontece a cada decisão dele no caso Lula, manifestantes se aglomeraram no portão de entrada da emissora para recepcioná-lo, tanto em apoio como contrários. A PM, inclusive, fez um cordão de isolamento para separar os dois grupos. Faixas de apoio como “somostodomoro” e gritos de “golpista” foram vistos e ouvidos. Mais tarde, durante entrevista, Moro comentou que esse processo gera sentimentos e que “a fama é passageira” e que o sucesso da Operação Lava Jato se deve a outros nomes, entre eles o juiz Marcelo Bretas, responsável pela operação no Rio. “A Operação Lava Jato não é uma operação de uma pessoa só”.

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