Com 9 e 6 anos, os garotos têm feito muitas perguntas à mãe, Fernanda Fialho, de 31 anos. A lembrança está em casa, mas também nos arredores. Uma língua formada pela onda de rejeitos, de aproximadamente 100 metros, pode ser vista no local. De um lado, casas que chegaram a ter meio metro de lama em suas paredes. No meio, residências cuja existência só se constata porque é possível ver seus telhados. Uma estrada interrompida surge do outro lado.
A tragédia de Brumadinho completa um mês amanhã, 25, com saldo de 177 mortos já identificados, a maior parte homens, e 133 desaparecidos, uma cidade com várias comunidades ainda tomadas pela lama e uma população desnorteada, tentando retomar sua vida, mas ainda sem saber para onde ir. A maior parte das vítimas já identificadas é homem (77%), pai, trabalhador da mineração. A Vale anunciou anteontem, 23, que manterá por um ano, ou até que seja fechado um acordo definitivo de indenização, o pagamento de 2/3 dos salários de todos os empregados próprios e terceiros que morreram.
Enquanto isso, muitas famílias ainda aguardam um corpo para enterrar – busca cada vez mais complexa. “Como a onda destruiu a maior parte das estruturas, os corpos são espalhados ou lançados em distância muito grande ou às vezes até destruídos”, afirma o tenente Pedro Aihara, porta-voz dos Bombeiros. Exames de DNA têm ajudado na identificação das vítimas.
E a lama avança pelo Rio Paraopeba. Anteontem, o governo de Minas estendeu a área onde não é recomendado usar a água sem tratamento. Antes, era até a cidade de Pará de Minas, a cerca de 75 quilômetros de Brumadinho. Agora, o veto vai até Pompéu, a 200 quilômetros.
‘Como a dor vai passar?’
Luiz de Oliveira Silva faria 44 anos em 2 de fevereiro. Foi sepultado um dia antes, vítima do desastre em Brumadinho. Funcionário da Vale, era conhecido na cidade como Luiz Sorriso, por estar sempre disposto a ajudar quem precisasse. Membro de um grupo de voluntários da empresa, cruzava a cidade em um Brasília, reformando casas ou ajudando a arrecadar cestas básicas.
Há 14 anos trabalhando na Vale, voltava do almoço, em um ônibus, quando foi arrebatado pela onda de rejeitos. A empresa era a principal fonte de emprego da família – ali também trabalhavam seus dois irmãos, que escaparam.
“Além do meu irmão de sangue, perdi aquelas pessoas todas com quem trabalhei por quase 27 anos. A maioria está lá embaixo da lama ainda. Como essa dor vai passar?”, indaga o irmão Geraldo, que estava no hospital em Belo Horizonte, recém-operado da coluna, quando soube do acidente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.