Para especialistas ouvidos pela imprensa internacional, a retomada da instalação é uma tentativa de Kim de ter mais cartas na mão para negociar novamente com os EUA em uma eventual terceira cúpula. Segundo eles, a Coreia do Norte vive uma profunda crise econômica acentuada pelas sanções americanas.
Na terça-feira, a agência de notícias sul-coreana Yonhap e dois centros de estudos dos EUA relataram obras em andamento na estação de lançamento de satélites Sohae, em Tongchang-ri, onde o país testa tecnologias para mísseis balísticos intercontinentais.
A reconstrução teria começado dois dias depois da fracassada segunda reunião entre Trump e Kim, em Hanói, no Vietnã. O encontro terminou abruptamente em razão de dúvidas sobre até onde Pyongyang pretende ir para limitar seu programa nuclear e até que ponto os EUA estão inclinados a amenizar as sanções impostas ao país.
Para a maioria dos especialistas em Coreia do Norte ouvidos pela imprensa internacional, Kim está cercado: ele voltou para casa sem obter o fim das sanções americanas, em meio a fortes sinais de que a economia norte-coreana continua a se contrair, o que pode forçar o país a retornar à mesa de negociações.
“Ao reiniciar as operações, a Coreia do Norte está buscando aumentar sua influência antes da próxima rodada de negociações”, disse ao New York Times Koh Yu-hwan, professor de estudos norte-coreanos da Universidade Dongguk, em Seul. “Eu não acho que o Norte vai retomar os testes de mísseis tão cedo e arriscar a retomada dos exercícios militares dos EUA e da Coreia do Sul”, disse.
“A cúpula de Hanói foi uma derrota para Kim Jong-un”, disse Lee Seong-hyon, analista do Instituto Sejong, de Seul. “Em Hanói, Trump aprendeu o quão desesperado Kim está para aliviar as sanções. O resultado pode ser o encurtamento do romance Kim-Trump, especialmente se Trump quiser jogar duro com Kim no período eleitoral.”
Oficialmente, ambos os lados continuam comprometidos com o diálogo, com o secretário de Estado, Mike Pompeo, expressando esperança de que os EUA enviarão uma delegação à Coreia do Norte “nas próximas semanas”. No entanto, Bolton, disse, na terça-feira, que Washington vai avaliar se Pyongyang está comprometida a abdicar de seu “programa de armas nucleares e tudo associado a ele”. “Se eles não estiverem dispostos a fazê-lo, acho que o presidente Trump foi muito claro: estudaremos intensificar as sanções”, disse Bolton.
Ontem, Donald Trump afirmou que “se os relatórios forem verdadeiros” e confirmados pela inteligência americana, ele vai “ficar muito decepcionado com Kim”. O presidente não deu detalhes dos efeitos práticos desta decepção.
Se a Coreia do Norte não obtiver o fim das sanções americanas, “o regime enfrentará uma segunda Marcha Árdua”, escreveu Ha Young-sun, especialista sul-coreano em Coreia do Norte, referindo-se à severa crise de fome ocorrida no país entre 1994 e 1998.
Especialistas dizem que é difícil medir o quanto a Coreia do Norte é prejudicada por sanções. As Nações Unidas alertaram que o país se beneficia das brechas nas sanções, realizando transferências de petróleo e outros bens proibidos entre navios, com a ajuda de Rússia e China.
Ontem, funcionários das Nações Unidas e da Cruz Vermelha disseram que a produção de alimentos da Coreia do Norte, no ano passado, caiu para seu nível mais baixo em mais de uma década, enquanto uma onda de calor prolongada, com tufões e enchentes, causou uma queda de 9% na colheita de alimentos.
De acordo com eles, isso resultou em uma “lacuna alimentar significativa”, deixando ao menos 11 milhões de pessoas sem acesso suficiente a comida nutritiva, água potável, saúde e saneamento na Coreia do Norte. (com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.