Curitibano conquista emprego, deixa as ruas e sonha reunir a família

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Foto: Andre Wormsbecker

Depois de ficar quase cinco meses em situação de rua e ser acolhido pela Fundação de Ação Social (FAS), Carlos Fabiano do Nascimento, 39 anos, está retomando à vida que perdeu em função do desemprego. Usuário de vários serviços da assistência social do município, hoje ele trabalha em um centro comercial e conta os dias para voltar a ficar perto da mulher e do filho que estão em Santa Catarina, onde viveu por cinco anos.

Curitibano e com formação de magistério, Carlos voltou à cidade em maio deste ano com o objetivo de refazer os documentos roubados em Itajaí (SC) e buscar apoio para conseguir um emprego. Durante 16 dias ele havia dormido nas ruas da cidade catarinense, onde não conseguiu vaga de acolhimento.

Em Curitiba, Carlos passou uma noite na Rua XV de Novembro e no dia seguinte foi resgatado pela FAS, depois de ligar no 156. Foi acolhido em uma casa de passagem e depois em dois hotéis sociais, onde podia se alimentar, fazer a higiene e dormir protegido.

Com o apoio da FAS, Carlos refez as carteiras de identidade e de reservista, a certidão de nascimento e passou a ter um comprovante de endereço da unidade em que estava abrigado. Ele também foi inserido no Cadastro Único e aguarda a resposta se terá direito a receber algum benefício social.

Emprego e pensão

Desde o dia 22 de julho, Carlos trabalha como agente de asseio de um shopping. O serviço, que começa às 22h e segue até as 5h, foi conquistado depois de bater na porta de quase 50 empresas, onde deixou o currículo feito com a ajuda de uma técnica da FAS. Carlos tentou vaga em mercados, lojas e em um açougue.

“Consegui minha vaga por acaso, quando fui levar um amigo venezuelano até este centro comercial. Ele também estava desempregado e ia levar um currículo e eu aproveitei para deixar o meu. Fiz entrevista no mesmo dia e uma semana depois fui contratado”, conta.

Com o emprego garantido, Carlos se mudou para um quarto de pensão, no Centro de Curitiba. O primeiro aluguel foi pago por outro amigo venezuelano que conheceu nos abrigos da FAS. O celular que usa e as roupas que vestem também foram doados por amigos, pela igreja e pela FAS.

Carlos acredita que sem a ajuda da Fundação de Ação Social, tudo teria sido mais difícil. “A FAS foi importante nesse processo e continua sendo. Desde o começo fui muito bem recebido e até hoje procuro a equipe quando preciso de alguma orientação.”

História de superação

Filho adotivo, Carlos decidiu se mudar para Santa Catarina em 2018, quando descobriu que sua mãe biológica morava em Itajaí. Antes, aproveitou para pesquisar e percebeu que a cidade oferecia muitas vagas de emprego.

Mas, nem tudo foi como planejado. Carlos encontrou a mãe, mas por decisão dela, não tiveram mais contato. Mesmo assim ele decidiu ficar na cidade e, com a ajuda da igreja que frequenta, em dois dias conseguiu um emprego.

Durante cinco anos trabalhou na área de logística de uma empresa terceirizada do Porto de Itajaí. Ganhava por dia uma boa quantia que lhe garantiu uma vida confortável. Em Itajaí Carlos conheceu a mulher com quem se casaria tempos depois e que lhe daria um filho, Davi, hoje com 3 anos.

Mas com a pandemia da covid-19, a empresa em que trabalhava diminui as atividades e Carlos acabou desempregado. “Tivemos que deixar a casa onde morávamos e minha mulher e meu filho foram para a casa da minha sogra”, conta.

Carlos alugou um quarto para ficar enquanto buscava um novo trabalho, mas acabou contraindo a covid-19. Sem dinheiro para bancar o aluguel, entregou o quarto e foi morar na rua. “Em nenhum momento eu contei para minha mulher a condição que eu estava. Eu queria preservar ela e meu filho”, lembra.

Assistência social

Em Curitiba, o atendimento a pessoas em situação de rua não se restringe apenas à oferta de alimentação, local para banho e acolhimento.

O presidente da FAS, Fabiano Vilaruel, explica que quem é abordado ou procura a FAS passa por uma entrevista social, onde os técnicos avaliam as necessidades de cada pessoa.

“Neste atendimento avaliamos se precisa dos serviços da assistência social ou até de outras áreas, como de saúde, confecção de documentos. Buscamos inclusive a possibilidade de retorno familiar para que essa pessoa deixe a situação de vulnerabilidade”, diz.

A FAS trabalha também para facilitar que a pessoa em situação de rua possa arrumar um emprego e conseguir se manter sozinha. Desde o início da pandemia, esse trabalho está restrito à confecção de currículo e encaminhamento para as unidades municipais do Sistema Nacional do Emprego (Sine).

Cursos de qualificação profissional ofertados pelo programa Liceu de Ofícios – técnicos e comportamentais – tiveram que ser suspensos e agora estão voltando gradativamente, no formato on-line.

Até o início de 2020, 5.389 vagas de qualificação profissional gratuitas foram ofertadas exclusivamente para a população em situação de rua, entre elas de pintura automotiva, porteiro, marketing pessoal e de dicas de como fazer um currículo e se comportar em uma entrevista de emprego.

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