Mais mudanças

Foto: Reprodução

Por Édelis Martinazzo Dallagnol

Fim do inverno de fato, brotação de vegetais, floradas generalizadas, início da frutificação, retorno dos passarinhos, enxames de abelhas, etc. E tem mais: é a época do fim da hibernação das cobras. Este fato é deveras importante.
Com o início das friagens de inverno, as cobras entraram em hibernação, de regra em tocas fundas no solo, ocos de árvores e, até, sob “tranqueiras” (montes de lenha, entulhos, etc.). As cobras não morrem com a chegada do inverno; elas apenas “se amoitam”. Tal qual os ursos, nesse período não se alimentam, perdem peso e, com o retorno à normalidade, elas precisam comer, e muito!… Daí o perigo… Não que nossas cobrinhas do sul comam uma pessoa (como a sucuri é capaz de fazer), mas na busca pelo alimento (ninhadas, ratos, lagartixas, insetos e, também, outras cobras…) ela se locomove dezenas de vezes mais que o normal. É este detalhe que nos importa: quanto mais se locomove, maiores as chances de um “encontro” com pessoas… Não é a pior época para esbarrar em cobra; mas, de tanto encontro que não vemos, pode ocorrer algum com uma cobra “de mau humor”, especialmente uma cascavel ou cotiara… E se a cobra se sentir ameaçada? O perigo aumenta muito… buscará defender-se, poderá picar o pé da pessoa… Cadê o calçado?! Nem pensar em passear num sítio ou chácara descalço. Um risco totalmente evitável!
Como dizíamos, de tanto a cobra circular, o encontro com o homem é muito provável; mas a pior fase do ano é a do acasalamento… Na saída do inverno, a cobra busca repor as energias batalhando pelo alimento. Uma vez alimentada, chega o período do acasalamento: outubro. Nesta época, contrariando a regra, a cobra não foge do ser humano (nem de qualquer bicho); ela fica pronta para o bote. Em outubro, acontecem mais de metade das picadas do ano. Felizmente, o maior número dessas picadas é de jararaca, que tem o veneno mais “fraquinho”.
O veneno mais mortífero no Brasil é o da coral. Nem surucucu, nem pico-de-jaca, pico-de-fogo, capitão-do-mato, boca-de-sapo, etc. portam veneno tão potente. Para nossa sorte, a boca da coral é extremamente pequena e ela quase não consegue cravar suas presas numa pessoa, especialmente com calça comprida e calçado… Depois da coral, temos a cascavel, com veneno neurotóxico violento. De regra, todos os venenos ofídicos são perigosos e, quando a pessoa é portadora de uma comorbidade ou de uma super sensibilidade, pode ser letal, mesmo que de uma “simples” jararaca.
Anos atrás, o Instituto Butantã fazia uma espécie de troca. Enviávamos uma cobra e o instituto enviava de volta uma dose de soro antiofídico da variedade da cobra remetida. Nos últimos anos, em Piraquara, há um laboratório que fabrica soro antiofídico; mas não devolve soro em troca de cobra… Esse laboratório pertence à Copel. Não custa enviarmos umas cobrinhas pra lá, né?

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