É o pet, ou seu tutor?

Foto: Reprodução

Por Édelis Martinazzo Dallagnol

O bom da clínica veterinária é que nesse ambiente todos podem ficar à vontade, porque estamos todos do mesmo lado, juntos para cuidar do melhor amigo, daquele bichinho que é sempre companheiro. Às vezes, todavia, percebe-se que o tutor está mais carente de cuidados que seu bichinho…
Quando esse bichinho é um cachorro, mais fácil ainda de constatar. O cachorro foi o primeiro animal a se associar ao ser humano: percebeu que caçando junto, caçavam melhor. É sociável, dócil, inteligente, companheiro. Trata-se de um animal especialíssimo! Mesmo que o tutor o coloque em desconfortável confinamento (corrente, cercadinho, etc.), uma vez solto, ao invés de tentar vingança, ele vai lamber as mãos do tutor. O cachorro é extremamente sensível e absorve, mesmo que por breves momentos, o tratamento que recebe. Uma simples palavra pode contê-lo ou modificar sua atitude. Às vezes, um simples olhar… Aí reside todo um elenco de comunicações, muitas vezes não expressas ou, ainda, dirigidas a pessoas da casa, do trabalho, da rua… Será? Claro, o tom de voz com o qual o tutor se comunica (gritos, tonalidades não habituais, gestos diferentes)… O bichinho pode não falar nada vocalmente, mas ele dirá algo com seu jeito de ser, com manifestações comportamentais.
Na clínica, a tutora afirma: “Agora ele ‘pegou’ essa mania.. Fica mordendo a barra da calça da minha filha quando ela passa perfume e vai pra porta! Ele não quer que ela saia de casa à noite!”. A tutora não percebe que ele faz a “versão canina” do que ela mesma pratica, quando altera a voz, reclamando que a filha vai de novo sair com as amigas… Tem tutor que diz que seu cachorro “adivinha” seus pensamentos. Será? No caso de rotinas, é fácil de entender: o cachorro simplesmente sabe que está na hora de assistir ao programa de televisão favorito, ou que é dia de baralho com amigos… Em outros casos, também entram a comunicação não- verbal humana e a capacidade olfativa do cachorro, pela qual ele percebe odores exalados pelo dono quando sente determinadas emoções, como medo, por exemplo.
Como se poderia perguntar a um cachorrinho se ele viu um “bafafá” entre um casal de tutores? Ou se presenciou desentendimento ríspido entre o tutor e um vizinho? Fica chato perguntar ao tutor uma coisa dessas… mas às vezes é necessário, porque o bichinho pode apresentar quadro de estresse grave; em casos extremos, até síndrome de Cushing. Quantas vezes se pode concluir que as atitudes diferenciadas do cachorrinho têm correspondência com aquelas que ele ouviu ou assistiu! Muitas e muitas vezes!… O problema está em conseguir essas informações.
Fica claro que muito tutor cuida melhor do cachorro do que de si mesmo. A gente se pergunta, nessas horas, se quem mais precisa de cuidados é o pet, ou seu tutor…

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