A explosão dos preços das commodities

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Por Agência Brasil  

Por César Graça

A Guerra Rússia x Ucrânia provocou uma explosão dos preços das commodities. Isso mexeu com o mercado financeiro mundial. A inflação disparou nos países mais ricos, Europa e Estados Unidos. Vão ser necessárias ações muito duras para colocar a economia mundial nos trilhos novamente. Só que ela não vai ser a mesma do que era antes. Vai ser diferente. Isso é evidente.

A Europa e os Estados Unidos simplesmente cortaram relações comerciais com a Rússia, que era um fornecedor de várias commodities. A principal, o gás natural. Um terço do gás natural consumido pela Europa vinha da Rússia.

Por esse enfretamento duro, a Rússia não estava esperando. Putin jogou pesado e perdeu. Agora, não sabe o que fazer. Recebeu duras penalidades financeiras do sistema econômico ocidental. Uma grande quantidade de ativos financeiros russos foi bloqueada nos bancos dos países mais ricos. É possível que esse bloqueio passe dos 400 bilhões de dólares. O sistema bancário russo quebrou. Está muito difícil reabri-lo. Agora, a Rússia tem poucos recursos líquidos e uma enorme dívida interna. Para os bancos ocidentais os ativos russos viraram pó. Muitos bancos, dos países mais desenvolvidos, estão em sérias dificuldades. É muito provável que os bancos centrais, desses países, tenham que ajudar muitos bancos, o que deve aumentar a dívida interna de muitos países ricos. Em consequência, uma crise financeira também vai atingir os países mais ricos.

São duas crises em paralelo. Uma guerra real e uma guerra financeira. Para os ucranianos a guerra real é a mais dura. É a luta pela sobrevivência de uma nação que quer ser livre. Chega de ser dominada, escravizada pelos russos. Para os russos a guerra financeira destruiu o seu sonho de consumo de bens ocidentais. A queda do padrão de vida foi muito rápida. De repente, a Rússia voltou a ser pobre. Os duros tempos do final da União Soviética voltaram.

Para o mundo inteiro, uma explosão de preços das commodities. O petróleo não tem teto. Todo mundo está pagando o preço de uma guerra de domínio. Uma guerra que traz o passado de volta. Começou como se fosse um retorno ao início da 2ª Guerra Mundial, quando Hitler invadiu os Sudetos da Tchecoslováquia e a Europa consentiu. Logo Hitler invadiu toda a Tchecoslováquia. Em seguida, a Polônia. O primeiro passo de Putin foi a invasão da Criméia em 2014. A reação foi pouca. Agora a Europa reage em peso à invasão da Ucrânia. Não aceita o passado de volta. Putin reage ameaçando a invasão de outros países da Europa e uma guerra nuclear. É um blefe. Putin está nos seus últimos momentos no poder. Ele destruiu a Rússia e deixou os seus oligarcas sem dinheiro. Ninguém mais tem interesse de manter o Putin no poder. Putin não é um czar, apesar de se comportar como se fosse.

Por essa reação, da Ucrânia e da Europa, Putin não esperava. Achava que seria uma conquista fácil. Não foi. Não dá para voltar para trás. A Rússia entrou numa sinuca de bico. Tudo pode acontecer. Até uma guerra nuclear. Essa hipótese não está descartada.

É um momento muito delicado. Lembra os momentos finais da 2ª Guerra Mundial, quando Stalin implantou a Cortina de Ferro no leste europeu. Que só caiu em 1989, com a Queda do Muro de Berlin. A luta da Ucrânia virou a luta da Europa, para que a 2ª Guerra Mundial não voltasse.

O desligamento da Rússia da Europa tem um preço, que atinge o mundo inteiro. Esse preço é o aumento dos preços das commodities. Não só o petróleo e o gás, mas um conjunto muito amplo de commodities. O principal são as commodities agrícolas. É nesse ponto que o Brasil entra. Ele é o único país do mundo que pode aumentar rapidamente a produção de alimentos. Para a produção de petróleo e gás existem vários países que podem aumentar a produção, para comida não.

Esse é o ponto que a Guerra de Putin nos trouxe. Precisamos aumentar a produção de alimentos rapidamente, se não o mundo inteiro vai entrar numa fase de uma grande fome. A volta da produção da Ucrânia e da Rússia vai demorar. Mesmo que a guerra seja curta, os danos já são bem profundos. Isso foi o que o mundo descobriu nos últimos dias. Vai faltar comida no mundo. Por isso, os preços das commodities agrícolas explodiram.

Os olhos do mundo se viraram para o Brasil. Como o Brasil vai reagir a essa fome do mundo? Uma primeira reação vai ser o aumento da produção da safrinha. No ano passado, a safrinha foi um desastre. O plantio atrasado deixou-a vulnerável às primeiras geadas de inverno. A estimativa inicial da safrinha de milho era de 90 milhões de toneladas, não passou de 60. A quebra de 30 milhões de toneladas foi absorvida pela redução dos estoques mundiais, principalmente dos Estados Unidos.

Neste ano, foi a safra de soja que foi atingida por eventos climáticos extraordinários. A previsão era de uma colheita de 145 milhões de toneladas. A colheita, no Brasil, não deve passar de 120 milhões de toneladas. Uma quebra de mais de 25 milhões de toneladas de soja. O pior é que a seca também atingiu outros países da América Latina. É provável que a quebra total fique por volta de 50 milhões de toneladas. Agora, não existe estoques mundiais para absorverem tal tamanho de quebra de safra de soja, pois o Brasil é o maior produtor e exportador mundial de soja. A quebra da safra de soja da América Latina é um evento muito importante para alimentação do mundo.

O mundo inteiro está olhando para a necessidade do aumento da produção de petróleo e gás. Mas o principal problema é a produção de alimentos. A guerra da Rússia x Ucrânia só acentuou um problema que estava crescendo em paralelo. A população mundial, principalmente da China e da Índia, está melhorando a sua alimentação e demandando uma maior produção. A quebra da safra de soja da América Latina é um evento perturbador, que foi amplificado pela perda da produção de milho e trigo da Rússia e da Ucrânia. É uma crise que está ocorrendo em paralelo a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

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