Por Sérgio Nunes, professor de educação física, personal trainer, especialista em atividade física, saúde e qualidade de vida.
A corrida é um movimento natural. Esteve presente no desenvolvimento humano desde tempos imemoriais. Fez parte da nossa incansável busca pela sobrevivência, na busca pelo alimento, nas guerras e nas fugas do perigo iminente. Mas em alguns momentos da nossa existência, com o desenvolvimento de novas tecnologias, fomos deixando de praticar a corrida como movimento rotineiro e necessário para a nossa sobrevivência para transformá-la em uma atividade corporal esporádica, pouco conveniente e até desconfortável. Alguns eventos históricos contribuíram decisivamente nessa mudança de comportamento: (1) a revolução agrícola, (2) a revolução industrial, mais recentemente (3) a revolução tecnológica e atualmente (4) a revolução digital.
Em cada uma destas etapas nos acomodamos mais em nossa zona de conforto: menos movimento corporal, mais automação e, infelizmente, menos qualidade de vida e maiores as prevalências dos problemas com a saúde.
No artigo anterior desenvolvemos sobre os benefícios de se realizar essa modalidade. Hoje abordaremos alguns cuidados que devemos ter para praticar a corrida com máxima segurança.
Qualquer indivíduo que se encontre em uma condição de inatividade corporal prolongada certamente estará despreparado fisicamente e com todas suas estruturas esqueléticas mais enfraquecidas. Uma aplicação de força com maior intensidade e de maneira continuada e prolongada pode ser prejudicial, seja qual for o movimento. Como neste caso, a corrida é uma maneira simples, fácil e prática de se iniciar algum exercício físico, muitos encorajados e motivados com algum estímulo externo (propaganda, comentários, eventos, artigos, revistas, família, amigos, redes sociais, televisão, moda…), incorrem no erro de, sem uma avaliação prévia ou orientação profissional, calçar um par de tênis e começar a correr imediatamente. Grande erro! Que pode custar muito caro para a saúde.
Deixamos claro que qualquer pessoa pode praticar a corrida, desde que tenha capacidade física para tal, ou seja, a intensidade do esforço seja compatível com a sua capacidade funcional atual. Como qualquer outra atividade física a corrida gera mais benefícios do que riscos para o corpo, mesmo sendo um exercício de impacto, mas é preciso estar minimamente preparado para o nível da atividade e intensidade antes de começar a correr. Não existe exercício corporal contra indicado, o que existe são pessoas com debilidades funcionais momentâneas que estão contra indicadas a realizar esse ou aquele tipo de movimento nesta ou naquela carga e volume de treino. Com a devida orientação e um programa adequado de treinamento, com os ajustes técnicos e modulações de volume (tempo/distância) e intensidade/densidade (terreno, velocidade e recuperação), todos são capazes de desenvolver condições seguras para a prática da corrida.
Uma dica fundamental é ter um plano de treino individual feito por um especialista da área de educação física. Um treino que leve em consideração e respeite a condição física atual e da saúde geral da pessoa. Indivíduos que tenham alguma restrição ou patologia, como um problema cardíaco, respiratório, hipertensão, diabetes, problemas circulatórios, por exemplo, é também essencial a liberação do médico antes de começar a correr. Praticantes com sobrepeso ou obesos necessitam também de um cuidado maior na prescrição inicial e na evolução do programa. Muitos iniciarão com caminhadas para só depois passarem às corridas mais curtas até estarem aptos para trechos mais prolongados. A grande maioria (dos iniciantes) não deve correr todos os dias. Ao menos um dia de repouso é necessário. Algumas vezes o ideal é iniciar em um ambiente mais seguro, controlado, em uma esteira numa academia, por exemplo. Outras vezes alguns tipos de pisos ou terrenos podem ser mais desfavoráveis. A corrida intervalada (intercalando a corrida com caminhadas), para muitos casos, poderá ser uma solução adequada. O importante é a prescrição estar de acordo com as limitações do praticante e ser a mais segura possível. Necessariamente, na maioria dos casos, um treinamento acessório para fortalecimento, mobilidade e/ou alongamentos de algumas estruturas será fundamental para a prática eficaz da corrida. Tudo isso só será possível determinar com a presença de um professor de Educação Física próximo. Invista nessa ideia!
Além de prescrever o melhor treino para você, neste momento, o profissional cuidará da sua técnica, da pisada, cadência, respiração, estratégias para uma melhor hidratação, postura e muitos outros detalhes e informações importantes durante a prática, para maior segurança e melhores resultados. Por exemplo: a roupa que vai ser usada para a corrida também é importante, a depender do clima. O ideal é sempre usar roupas que facilitem a troca de calor entre corpo e meio ambiente, quando quente. Existem tecidos específicos para isso, mais leves, e que facilitam inclusive o movimento. Jamais usar elementos plásticos por baixo da roupa. Você não irá “queimar” mais gordurinhas por conta disso! O que vai acontecer é uma dificuldade de transferir o calor do corpo para o meio externo e certamente entrará em uma hipertermia. Perigosíssimo! Já em temperaturas baixas… Alguns acessórios e roupas “mais quentes” devem fazer parte para a proteção, especialmente ao iniciar a atividade. Nunca se esquecer de se hidratar antes, durante e após as corridas. E mais, a correção de pisada, normalmente, pode ser auxiliada com um tênis adequado; então vale a pena pesquisar e conversar com um ortopedista ou um treinador para saber qual o melhor tênis para a sua pisada. Um tênis bom tem de gerar absorção de impacto e ser confortável.
Vale o Reforço: antes de sair correndo por aí, faça uma avaliação com o seu médico e busque sempre a orientação de um profissional da Educação Física Especialista na Atividade!
AFINAL… A SAÚDE É O MAIS IMPORTANTE!
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