Por que andar descalço? (parte 1)

Foto: Reprodução

Por Sérgio Nunes, professor de educação física, personal trainer, especialista em atividade física, saúde e qualidade de vida.

Primeiro um pouco sobre a nossa história como bípedes.

A pré-história é o período anterior ao aparecimento da escrita, por volta do ano 4000 a.C. Seu estudo depende da análise de documentos não escritos, como restos de habitações, armas, utensílios, pinturas, desenhos e ossos. O gênero HOMO (nosso ancestral) apareceu entre 4 e 1 milhão de anos a.C.

Portanto, durante milhões de anos, o ser humano primitivo, deslocava pelas planícies em busca do seu alimento através da caça e da coleta – como fazem ainda hoje, boa parte dos nossos índios -, descalços. E toda esta adaptação (para o andar e, logicamente, sem calçados) muito provavelmente foi introduzida em nossos genes pela seleção natural.

Acredita-se que os primeiros calçados tenham surgido por volta de 40.000 a 26.000 a.C. Muitos atribuem aos egípcios, a 4.000 anos a.C., a arte de curtir couro e fabricar sapatos, porém, existem evidências de que os “sapatos” foram inventados muito antes. Mas existem algumas evidências que a história do ancestral do sapato começa a partir de 10 mil a.C., ou seja, no final do Paleolítico, pois pinturas desta época, em cavernas na Espanha e no sul da França, fazem referência ao calçado. A utilização de calçados durante todo esse período da nossa história estava relacionada principalmente à proteção dos pés contra o clima, terreno acidentado e possíveis ferimentos. Também se acredita que os calçados tenham sido usados como forma de isolamento térmico, já que nossos antepassados ​​passavam por diferentes condições climáticas ao migrar e caçar.

À medida que a civilização avançava, os calçados evoluíram em termos de design e materiais. Por exemplo, os antigos egípcios usavam sandálias feitas de palha entrelaçada ou couro, enquanto os romanos desenvolveram sandálias com solas de couro presas por tiras. A fabricação de calçados continuou a evoluir ao longo do tempo, com o desenvolvimento de técnicas mais avançadas e o uso de materiais diversos. A Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, marcou um ponto de virada significativo na produção em massa de calçados, tornando-os mais acessíveis e amplamente disponíveis para a população em geral. A primeira manufatura em série conhecida do calçado vem da Inglaterra em 1642, quando Thomas Pendleton forneceu quatro mil pares de sapatos e 600 pares de botas para o exército daquele país. Em meados do século XIX começaram a surgir as máquinas para auxiliar na confecção dos calçados, mas só com a máquina de costura o sapato passou a ser mais acessível. A partir da quarta década do século XX, grandes mudanças começam a acontecer na Indústria calçadista, como a troca do couro pela borracha e pelos materiais sintéticos e estes passaram a ficar definitivamente mais confortáveis e populares.

Em sendo assim, desde o aparecimento dos primeiros homo sapiens (considerando apenas este novo ser “em evolução”, mais parecidos conosco, homem moderno) sobre esta nossa terra, por volta de 250.000 anos até a suposta utilização de calçados protetores para os pés, temos uma lacuna de 240.000 anos (!) de deslocamentos com os pés no chão! Temos que convir que é um tempo razoável para ocorrer adaptações duradouras, que um intervalo de míseros 10.000 de uso de pisantes provavelmente pouco confortáveis, iriam jogar por “água abaixo”! E não estamos considerando o período anterior ao Sapiens (4 a 1 milhão de anos!), e que, muito possivelmente, já estavam presentes estas adaptações!

Então, num “curto” espaço de tempo (historicamente falando), nossas estruturas articulares, ligamentares, proprioceptivas, tendíneas, musculares e ósseas, altamente adaptadas durante centenas de séculos pela adaptação natural, para deslocamentos a pelo nu, agora passam a ganhar um grande “aliado” (?) para maior conforto, segurança e proteção!

E estes pisantes vão se incorporando cada vez mais ao nosso vestuário e aos nossos dias. E mais, alta tecnologia em conforto e absorção de impactos para combater a “terrível agente maligna” – a Força da Gravidade!

Agora já nascemos com um par de tênis nos pés! Equipados com Sistemas de Redirecionamento de Força, Amortecedores, Freios, Sistemas Anti Derrapantes, Estabilizadores e de Correção de Pisadas; ainda para os mais exigentes, acessórios tipo luzes, sinalizadores, alertas, contador de passos e/ou distância, som, computador de bordo, GPS…  Temos então um produto para nos proteger de algo que, na realidade (ao que parece pela própria história!), nunca nos causou tanto mal assim! Pelo menos até aquelas estruturas, altamente preparadas e adaptadas ao longo dos séculos de pés nus, serem destreinadas por aquilo que quer resguardá-las!

Podemos dizer que a adaptação é um dos princípios da natureza. Não fosse a capacidade de adaptação, que se mostra de diferentes modos e intensidades, várias espécies de vida não teriam sobrevivido ou conseguido sobreviver por longos tempos e em diferentes ambientes. O próprio homem conseguiu prevalecer no planeta, como espécie, devido à sua capacidade de adaptação. A adaptação é a lei mais universal e importante da vida.

Imagino então que devemos ter, quando nascemos, esta capacidade de andar e/ou correr com os pés no chão, estamos adaptados para este tipo de atividade natural dos nossos ancestrais. E ao longo da nossa pré-infância, infância e adolescência, com os pés no chão, vamos treinando todos aqueles mecanismos de proteção e estruturas locomotoras para poder suportar a “Grande Força Maligna.” Penso que, ao usarmos quase que diuturnamente algum tipo de proteção ortopédica, desde o nosso nascimento, acabamos por destreinar e enfraquecer diversas estruturas fundamentais para o nosso desenvolvimento físico e motor. Pois desta maneira, a força gravitacional e a aceleração que deveriam impor às nossas estruturas algum estresse no momento, por exemplo, de um salto horizontal ou vertical, uma caminhada mais vigorosa ou uma corrida (que são movimentos naturais), presentes nas atividades corriqueiras das crianças (ao menos deveriam ser!!), acabam por ser reduzidas sobremaneira com os recursos de proteção, tipo tênis! E isso, hoje, ocorre por um longo período da fase de desenvolvimento físico e motor (ou por toda a fase!).

Continuamos ainda ao longo da vida adulta a usar cada vez mais nossas armaduras ortopédicas! E já não andamos mais descalço rotineiramente faz muito tempo, não é mesmo? Quando foi a última vez que pisamos com os pés nus na grama, ou na terra molhada, ou na areia com pedrinhas? Com raras exceções; quando jogamos uma pelada na areia ou um mergulho na piscina ou mar, executamos o que deveria ser corriqueiro!

E hoje (maior absurdo!) existe uma paranoia entre os pais de que a criança não deve andar descalça, por diferentes motivos. Desta forma desencorajamos nossos filhos desde cedo… Incutimos em seu subconsciente a ojeriza, o nojo de andar descalço! E é claro, depois de passar anos aprisionados em algum tipo de equipamento ortopédico seja para estética, conforto ou segurança… agora, do nada, sem mais nem menos… cansei, me revoltei, quero minha liberdade de volta! Abaixo os calçados! Viva os pés Descalços! Opa! Calma! Não é bem assim…

Estamos completamente destreinados para esta situação que deveria ser NORMAL! Então, não parecer ser prudente, agora, de uma hora para outra, com nossas estruturas enfraquecidas ou destreinadas para este tipo de atividade, sobrecarregá-las realizando qualquer tipo de atividade com os pés no chão! Entretanto… Podemos começar a treinar novamente!

É importante lembrar que cada pessoa é única e pode ter características anatômicas e condições de saúde específicas que afetam os pés e consequentemente a pisada. Portanto, é sempre recomendável buscar orientação de um profissional de saúde qualificado, para obter uma avaliação individualizada e recomendações adequadas para o fortalecimento gradual dessas estruturas.

Sempre há tempo para recomeçar! Aguarde o próximo capitulo…

AFINAL… A SAÚDE É O MAIS IMPORTANTE!

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