Por: Patrícia Figueiredo – Agência Pública
Edição: Dimas Rodrigues
Uma mensagem no WhatsApp que circula no País – e que provavelmente você leitor já tenha recebido – traz dados sobre a cobrança de impostos no Brasil e cobra uma “atitude do povo”, lembrando que “somos 208 milhões de pessoas sendo sacaneados por 600 políticos de Brasília”. A mensagem ainda alerta que o governo (e os políticos) não querem cortar “seus próprios gastos e exagerados privilégios”. Essas constatações são bem reais e revoltantes e observamos isso, por exemplo, no debate da reforma política em que primeiro, se discute o dinheiro que será disponibilizado (de recurso público) para financiar as campanhas. Até agora, nenhum parlamentar sugeriu o corte pela metade das cadeiras de deputados e senadores, da redução salarial e a extinção de verbas de gabinete, de polpudos auxílios-moradia e de passagens aéreas, entre outras mordomias. E o voto, precisa continuar sendo obrigatório? Sobre a adoção do voto facultativo, nenhum pio, pois todos esses pontos vão contra os interesses deles.
Esse comunicado das redes sociais que ainda traz uma lista de produtos e quanto é pago de imposto por cada item serve de alerta e para fomentar o debate político, mas boa parte das informações contidas nele são falsas. A Pública, agência de reportagem e jornalismo investigativo se aprofundou nesse tema e checou a veracidade do conteúdo. A repórter Patrícia Figueiredo, da Agência Pública descreve, em parte da longa reportagem que “apesar de o texto trazer algumas variações, a corrente tenta provar que “o Brasil tem a maior carga tributária do mundo”. O conteúdo lista as taxas supostamente cobradas em produtos diversos e também faz um ranking com os dez países onde mais se trabalharia para pagar tributos. Argumentos como esses têm servido para contestar o valor dos impostos no país, classificados como muito altos diante da qualidade dos serviços públicos oferecidos.
O Truco – projeto de checagem da Agência Pública – procurou a origem dos números citados, com o objetivo de analisar a veracidade da mensagem. A reportagem concluiu que a maioria dos dados está errada. Por isso, a corrente foi classificada como falsa. A autoria do texto é desconhecida, ou seja, não é atribuída a nenhum tipo de grupo ou organização. O Banco Mundial, contudo, aparece como fonte de alguns dos números usados.
A reportagem entrou em contato com a sede do Banco Mundial no Brasil para verificar o envolvimento da organização com o ranking que inicia a corrente. A entidade afirma não ter lançado nenhum estudo específico sobre o tempo que uma pessoa gasta trabalhando para pagar seus impostos recentemente. O Truco localizou, no entanto, um estudo da empresa de consultoria PwC feito em parceria com o Banco Mundial em 2015. Nesse documento aparece o dado de 2.600 horas trabalhadas para pagamento de impostos. No entanto, o número é relativo à quantidade de horas empregadas por uma empresa para o pagamento de tributos no ano de 2013. Assim, o número não se refere às horas trabalhadas pelo cidadão para o pagamento de tributos, como sugere a corrente. Trata-se de uma estimativa do gasto anual das empresas com impostos.
Ranking original da mensagem
Os 10 países onde Mais se trabalhou em um ano para pagar impostos:
Brasil: 2.600 horas (é mais que o dobro do 2º colocado!)
2. Bolívia: 1.080 horas
3. Vietnã: 941 horas
4. Nigéria: 938 horas
5. Venezuela: 864 horas
6. Bielorrússia: 798 horas
7. Chade: 732 horas
8. Mauritânia: 696 horas
9. Senegal: 666 horas
10.Ucrânia: 657 horas
Fonte: Banco Mundial
Tabela segundo a PWC
Número de horas empregadas no pagamento de tributos por empresas no mundo
País | Total de horas | Posição |
Brasil | 2600 | 1º |
Bolívia | 1025 | 2º |
Vietnã | 770 | 6º |
Nigéria | 908 | 3º |
Venezuela | 792 | 5º |
Belarus | 176 | Não consta nas 10 primeiras posições |
Chade | 732 | 8º |
Mauritânia | 734 | 7º |
Senegal | 620 | 10º |
Ucrânia | 350 | Não consta nas 10 primeiras posições |
A íntegra da reportagem pode ser conferida no site da Pública: www.apublica.org