Ressaca

A ressaca de que vamos falar não é o estado de abatimento de quem exagerou na bebida, ou nos festejos, ou nas tarefas pesadas… Isso também é ressaca; mas o que nos interessa de momento é a temida ressaca do mar.

As causas são as mais diversas, como ciclones, ou vendavais, ou tempestades, etc., combinados com a baixa pressão atmosférica, a fase da lua (força e variação da maré), etc. Nem os climatólogos podem prever com boa antecedência, exatamente porque se trata da combinação de diversos fatores. Na década de 70, aconteceram algumas ressacas no sul, notadamente em Florianópolis e Laguna; nos anos 90, em Bombas e Bombinhas (SC); recentemente, ocorreram muitas… O maior recuo do mar ocorre nos meses de agosto e setembro, e esse recuo em parte se deve a causas que também influenciam as ressacas. No entanto, nos últimos 50 anos nunca tivemos um período de ressacas tão repetidas, nem com tamanhos estragos, especialmente no sul do Brasil.

Na ressaca, formam-se ondas gigantes que se chocam contra praias e costões, causando danos terríveis. O amigo leitor deve ter visto como ficaram as praias do Matadeiro, Armação do Sul, Campeche, Ingleses, Palmas, Bombas, Ubatuba, Praia Grande… O governo de Santa Catarina pediu socorro à União. No dia 12 último, São Francisco do Sul decretou estado de calamidade pública. Nos dias 13 e 14, a costa gaúcha foi devastada – principalmente na região do porto de Rio Grande.

Evidentemente, tudo isso não é normal, nem cíclico. Então, o que está acontecendo?… Por que esses recuos e ressacas como nunca?!… Para onde vão os bilhões de toneladas de areia carcomidos pelas ressacas?… E, no meio de tudo isso, como fica o bicho?…

A areia é dragada para os locais mais fundos, tocas e barreiras naturais, assoreando-os, acabando com os criames dos peixes-de-pedra (garoupas, mero, badejo, etc.). Assoream-se recifes de coral, santuários da vida marinha. Destrói-se a vida nos costões – o início da cadeia alimentar de centenas de espécies… Ali há dezenas de larvas, crustáceos, cracas-da-pedra, baratas-da-pedra, mariscos, ouriços, etc. O costão está para a vida marinha como as pastagens, para o gado. E as ressacas arrancam até os mariscos, quanto mais os demais seres vivos!…

A cadeia alimentar nos costões começa pela vida em meio ao marisco: minhocas, larvas, ouriços, craca-da-pedra, guaiá (caranguejo), etc. Seguem-nos os predadores: anchova marisqueira, marimbá, sargos, caranha, etc. A cadeia alimentar nas praias começa no baixio: minhoca, corrupto (espécie de minhoca com pernas), tatuíra, siris, etc.. Esses bichinhos são procurados por peixes como o escrivão, o marimbá, o papa-terra e a betarra. Predam estes: robalo, gaivira, linguado, caçonete, arraia…

Ações nocivas do homem causam efeitos que levam a tragédias em larga escala também sobre muitas outras espécies, que nada fizeram para colher o que nós plantamos, além de danos ao meio ambiente que levarão anos para se resolverem. Como podemos mudar esse quadro?

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