Estamos vivendo no Brasil hoje um momento de profundas transformações. Algo que ocorre a cada 200 anos. As contradições são muito intensas. De um lado, o velho que teima em querer viver para sempre, do outro, o novo que se impõe com uma surpreendente força de renovação.
Só tivemos dois momentos parecidos antes no Brasil: a chegada dos europeus, por volta de 1500, e a chegada do Dom João VI, em 1808. A importância desses momentos só foi reconhecida bem mais tarde.
Vamos olhar o nosso momento atual como se fossemos habitantes da colônia portuguesa recebendo a corte portuguesa que fugia de Napoleão. De súbito, sem nenhum aviso, o rei de Portugal chega à cidade do Rio de Janeiro. Todos foram pegos desprevenidos. O primeiro impulso foi a bajulação. Logo vieram as primeiras decepções. As melhores casas foram requisitadas para abrigarem a corte que veio junto.
Tudo ficou diferente. O rei prometia tudo e fazia muito pouco. O que mais agradava era a possibilidade de se conseguir um título real. Algo que era muito raro e caro. Com dinheiro se comprava tudo, até a atenção do rei.
Os políticos atuais se comportam ainda como se fossem da corte real portuguesa, prometem tudo e fazem quase nada. Só querem viver de privilégios. Para tudo acham que são diferentes, que a lei deve beneficiá-los em tudo.
Por outro lado, com a chegada do rei ao Brasil começou uma sequência de transformações. A primeira foi a possibilidade de fazer comércio com as outras nações. Antes tudo tinha que passar por Portugal antes de chegar ao Brasil, o que encarecia os produtos importados e barateavam as nossas exportações.
Agora Portugal estava ocupado com as tropas francesas. Era preciso que as fontes de receita do erário público fossem restabelecidas. Naquela época o principal imposto era o da importação. E a Alemanha estava cheia de produtos, que não mais podiam ser exportados para a Europa, pois Napoleão não deixava. Queria que a Europa inteira comprasse produtos franceses.
Com o ato do rei de abrir os portos às nações amigas, entenda-se Inglaterra, o Brasil foi inundado de produtos ingleses a um preço muito baixo. Algo que nunca tinha ocorrido antes.
É o mesmo que está ocorrendo com o Brasil atual. Produtos chineses de todos os tipos estão chegando. Produtos chineses viraram referência. Alguns bons e baratos, outros só baratos. O Brasil começou a consumir de tudo.
Com o aumento dos preços das exportações agrícolas, o Brasil começou a ter recursos para importar tudo. Desde bugigangas, até máquinas sofisticadas. A tecnologia invadiu todas as áreas. Ocorreu um banho de atualização tecnológica em todas as áreas, inclusive no campo.
A concorrência com os produtos importados estimulou a indústria nacional. Muitos tiveram que se reinventar, o que trouxe grandes oportunidades de transformação. Um bom exemplo foi a automação da agricultura, que propiciou grandes ganhos de produtividade e redução dos custos de produção.
Hoje o Brasil tem um custo de produção de produtos agrícolas que é de 20 a 30% mais baixo que o dos Estados Unidos. Isso amplia muito a nossa capacidade de crescimento no mercado mundial de commodities agrícolas.
Muitos agricultores norte-americanos não vão conseguir sobreviver. Só os mais eficientes é que ficarão no mercado mundial. O que vai levar um grande crescimento da agricultura na América Latina, em torno do Brasil e da Argentina, e uma redução nos Estados Unidos.
Esse crescimento econômico vai disparar grandes transformações. A infraestrutura vai se transformar para atender o aumento das quantidades embarcadas. Uma nova riqueza vai entrar no Brasil.
Só que essa riqueza vai atrair uma grande cobiça da classe política. É o que estamos assistindo. Políticos atacando de todas as maneiras essa nova riqueza. Só que agora esse comportamento assumiu novas proporções. O que facilita a sua divulgação. Agora todos sabem como os políticos ficam ricos é com o roubo da coisa pública.
Muitos políticos vão ser processados e presos. A mentalidade que políticos podem roubar e não serem presos vai mudar. A grande maioria dos atuais políticos não vai mais conseguir se reeleger.
A consequência é uma transformação na mentalidade política. Com isso o Brasil vai crescer ainda mais rapidamente. O próximo desafio é a distribuição dessa riqueza. É preciso que ela atinja a todos os brasileiros de forma mais equitativa. Um bom exemplo são os países do norte da Europa. É preciso mudar a mentalidade na distribuição da riqueza.
