QUEBRANDO O GELO – POR ENÉAS RIBEIRO

Saudações meus queridos!

Desapareci por algumas semanas porque estava sofrendo um punhado com as famigeradas pedras nos rins (cálculos renais pra quem for chique). Dizem as mulheres que já sofreram com esse infortúnio que dói mais que dor do parto, sendo assim, devo ter parido três bezerros de atravessado, barbaricórdia…

Curioso que adoeci justamente no período em que o Brasil atravessou a polêmica da saída dos médicos Cubanos. Conversei com médicos e pacientes (e alguns impacientes também) e como gosto de pesquisa de campo, de buscar a informação onde nenhum ser humano jamais esteve, aproveitei pra trazer pra você algumas conclusões… Confira comigo no replaaaay:

QUANTO AOS MÉDICOS:

100% dos médicos que me atenderam (sim TODOS) fizeram a manjada piada “meu nome é Enéas” quando liam meu prontuário da consulta. Essa piada deve ser parte da grade curricular do curso de medicina…

Segundo dado importante, 99,8% se revelarem fãs do falecido doutor Enéas. Consultei até com um cara que assistiu palestra de cardiologia com meu xará que um dia foi candidato a Presidente.

Quanto a polêmica: Os doutores se dividiram na opinião sobre os colegas Cubanos. Alguns falaram que são tecnicamente curandeiros parados no tempo (50%), e outros falaram que perdemos grandes profissionais (50%), o que concluí que Médico Cubano é igual aqui no Brasil, temos médicos nota mil e outros que nem te olham na cara enquanto te atendem. Ao mesmo tempo que temos o médico que só quer atender em grandes centros ou em clínicas de estética porque paga melhor ou porque não tem interesse em tratar gente doente, teremos médicos que doam parte de sua mão de obra ou que atendem cada paciente como se estivessem atendendo o único ser humano do universo.

QUANTO AOS PACIENTES: Tem paciente que mesmo sendo atendido gratuitamente não tem a decência nem de dizer um muito obrigado aos médicos e enfermeiros, reclamam de tudo, resmungam e são até ofensivos. Fácil ficar botando defeito em tudo e em todos. Quem está trabalhando, por incrível que pareça, também é ser humano, está cansado, e tem uma fila de gente pra atender. Respeito é bom e todo mundo gosta. Com isso concluo que temos problema com a falta de saúde e falta de educação (no sentido amplo da expressão).

MINHA OPINIÃO: Nesse processo de tentar expelir as pedras do rim, me receitaram chá de dracena roxa, caroço de abacate ralado com cerveja preta, abacaxi com Coca Cola, chá de raiz de morango, chá de salsa e, obviamente, chá de quebra-pedras. Sabem por que? Porque vivemos no país das garrafadas, receitas caseiras e chá da horta. O Brasil é assim, pois em muitas cidades o auxílio médico ainda é pouco mais que uma benzedeira ou um raizeiro, causa e efeito da carência de profissionais de saúde que o povo sempre teve e infelizmente sempre terá, e da carência de condições de trabalho para os profissionais que querem e sabem trabalhar. Não estou aqui para discutir a qualidade ou falta de qualidade dos médicos Cubanos ou a implicação política ideológica da vinda/saída deles.

A questão que também pega é que existem hospitais em que o pronto socorro não tem nem algodão. Em algumas cidades do interiorzão do Brasil os médicos abandonam o posto de trabalho porque a Prefeitura simplesmente NÃO PAGA, dá o calote na cara dura por meses a fio, e depois joga no lombo do médico a culpa do caos.

Infelizmente precisamos que a situação desande pra levantamos nossas bandeiras. Precisamos que exploda um cabo de guerra político para lembrarmos que temos centros cirúrgicos faltando material, que enquanto escrevo essa coluna, sentado no conforto dos remédios que não me deixam sentir dores de minhas pedras renais, tem um ser humano no meio do nada que entre um curandeiro e nenhum atendimento implora por alguém que o atenda seja quem for. Se eu tivesse uma crise como eu tive no meio do sertão, a última coisa que eu perguntaria seria a nacionalidade do médico, poderia ser até um alienígena, desde que me ajudasse.

O ponto que quero chegar é muito simples: a falta de atendimento nos lança em um terreno onde a vida humana corre riscos. No desespero nos apegamos ao que temos, e nos sujeitamos ao que tivermos disponível, sendo remédio ou placebo.

Então mais do que nunca vale lembrar que estamos falando de vidas, demorou para entendermos a seriedade do que estamos lidando?

Que Deus esteja iluminando os rumos da saúde pública mais do que nunca, para que o menos favorecido tenha acesso a um tratamento digno e correto.

Olhos atentos meu povo… T+

 Enéas Ribeiro – Cartunista que tomou chá de dracena roxa e sobreviveu.

- Anuncie Aqui -