Momentos de Mudança

Estamos num momento singular. Existem várias coisas que estão em momentos decisivos em diversos lugares pelo mundo. No Brasil é essa apatia do governo Bolsonaro em tomar decisões. Na Europa é a saída da Inglaterra do Mercado Comum Europeu, Brexit. Nos Estados Unidos é a guerra do presidente Trump com a China. Tudo isso está num momento de vai não vai. Tudo que for feito neste momento vai ter grandes consequências. É isso que está assustando tanto.

No Brasil, o presidente Bolsonaro venceu as eleições fazendo promessas de grandes reformas. Falou de privatizações, reforma na Previdência, redução do quadro de funcionários públicos, reduzir os gastos e uma retomada do crescimento econômico.

No primeiro impasse com o Congresso Nacional travou. O Congresso, com muita razão, pediu que o presidente incluísse as mudanças das aposentadorias dos militares ao seu pacote de reforma da Previdência. Já que serão feitos cortes, é preciso que a sociedade veja em que áreas que as aposentadorias vão se alterar, e em qual intensidade em cada setor. O governo congelou, não quis mostrar os seus planos de modificação da aposentadoria dos militares. Teve que voltar atrás.

Com respeito às privatizações, nada foi anunciado. Já está falando em privatizações parciais das empresas estatais. Todas a promessas de campanha foram levadas pelo vento. Só que não dá mais para voltar atrás. A opinião pública já começa a se inquietar. O governo Bolsonaro vai se movimentar por ousadia, ou por pressão popular. A escolha é do presidente.

Na Inglaterra, o Parlamento não aprovou a proposta de saída da Comunidade Econômica Europeia, negociada por mais de dois anos pela primeira-ministra Theresa May. As alternativas são pedir uma prorrogação para negociar ainda mais uma saída abrupta, ou mesmo, uma nova consulta popular para ver se os eleitores querem mesmo sair da Comunidade. Parece que a saída abrupta e desastrosa será a via escolhida pelo Parlamento.

Essa indefinição está sendo muito ruim para a Inglaterra. Muitas empresas estão mudando para o continente. A Inglaterra vai perder muito do seu atrativo. As consequências para a sua economia serão desastrosas, independente da solução adotada. A credibilidade como centro de negócios já está perdida.

Nos Estados Unidos, o presidente Trump começou a guerra comercial com a China dizendo que a guerra seria breve e traria grandes resultados para os Estados Unidos. Passaram mais de nove meses e a guerra continua sem perspectiva de um término favorável. A credibilidade dos Estados Unidos como um comprador confiável está abalada. Mesmo com um acordo com os chineses, muitas nações ficaram ressabiadas, com medo de serem atacadas com tarifas de importação.

Para os agricultores norte-americanos a guerra está sendo uma calamidade. Os preços e os volumes exportados dos produtos agrícolas caíram em função do aumento das taxas de importação dos chineses. O principal item atingido foi a soja. O seu preço de venda está abaixo do custo de produção, o que vai levar alguns agricultores à falência. A próxima safra começa a ser plantada em abril e maio. A expectativa é que ocorra uma redução da área plantada, principalmente de soja.

Para o Brasil a Guerra de Trump está sendo muito boa. Os chineses deslocaram os seus pedidos de compra de soja e milho para o Brasil. Hoje mais de 80% da nossa soja exportada está indo para a China. E isso está fazendo muito bem para a nossa balança comercial. Os preços das commodities agrícolas exportadas aumentaram. A rentabilidade da nossa agricultura aumentou. A expectativa é que a próxima safra seja bem maior que a atual, pois a atual sofreu uma seca severa em alguns estados, derrubando a produtividade.

Esse cenário atual é contraditório. De um lado a economia anda de lado. O desemprego cai muito lentamente. A quantidade de empresas fechando é muito grande. Por outro, as receitas de exportação trazem muitos dólares dando uma estabilidade financeira para o país. Mas as exportações agrícolas não pagam impostos e nem geram muitos empregos. Até o momento, o governo Bolsonaro está muito parecido com o do Temer, só observando as coisas para ver como fica. Falta a audácia das grandes transformações.

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