Recessão

www.asemananews.com.br
Foto: Jaelson Lucas/AEN

Por Cesar Graça

Passado o Coronavírus, segue a recessão no mundo inteiro, com mais intensidade nos países mais ricos. Na realidade ela já começou. A parada da produção e serviços por causa da quarentena é a causa primária. Só que a retomada será bem lenta. No Brasil ela será um pouco mais rápida, pois as medidas de quarentena foram mais brandas que em outros países. As medidas de recuperação foram planejadas com antecedência, e colocadas em prática logo que possível. E a recessão de 2015-2016 obrigou o governo a fazer vários ajustes. Agora a pauta de ajustes é bem menor e está bem definida e em tramite no Congresso Nacional.

Na Europa os ajustes serão bem maiores. Lá a economia vem crescendo desde 2009. O sistema bancário europeu está profundamente dependente dos auxílios do Banco Central Europeu (BCE). Muitos bancos estão na UTI do BCE há vários anos. Chegou a hora de uma profunda faxina. Vários bancos vão desaparecer, outros, crescer. A adaptação à nova realidade da economia mundial é o grande desafio. O resultado é uma redução da riqueza e dos salários, principalmente dos aposentados.

O baque nos Estados Unidos também será muito intenso. O ajuste também vai começar pelo sistema bancário. A Guerra de Trump com os chineses enfraqueceu muito a agricultura norte-americana. Ela não consegue competir com a agricultura sul-americana, principalmente com a brasileira. Os bancos norte-americanos do setor agrícola estão quebrados, pois a maioria dos agricultores norte-americanos estão falidos. Essa dura realidade também está sendo encoberta pelo FED (o Banco Central deles).

Muitas empresas adotaram a estratégia de comprar as suas ações, como a Boeing, inflando o valor delas nas bolsas. Agora na crise estão sem reservas e sem crédito. Pedem desesperadamente auxílio do governo, mas não querem interferência na sua gestão. Não estão em condições de exigir muita coisa. O que vai acontecer é uma incógnita. Provavelmente muitas serão estatizadas, como a GM e o Citibank foram na crise de 2008.

Os fundamentos da agricultura brasileira são opostos aos da norte-americana. Durante décadas lutou contra a ideologia dos governos de esquerda que a perseguia. A luta pelo poder era intensa. De um lado um governo que queria controlar tudo, do outro a agroindústria queria ser independente e criar um caminho próprio. Dessa luta nasceu uma agroindústria forte.

Com o dólar a cinco reais a nossa agricultura de exportação é extremamente rentável. Por outro lado, os custos do transporte interno já começaram a cair com as medidas de melhoria da infraestrutura implantadas pelo Governo Bolsonaro. O futuro parece brilhante.

O Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo. O próximo passo é o crescimento da produção do milho, principalmente na safrinha, o que deve dar um novo dinamismo à nossa agricultura. Primeiro pelo aumento das exportações, em 2019 assumimos a liderança mundial na exportação de milho com 45 milhões de toneladas, passando os Estados Unidos. As exportações em 2020 dependem do volume a ser produzido na safrinha, que acaba de ser plantada. As primeiras estimativas falam de 70 milhões de toneladas, só teremos uma melhor ideia em agosto, quando a colheita estiver quase terminada. O que resultará numa produção total, primeira safra e safrinha, igual ao do ano passado, 100 milhões toneladas.

O segundo impulso é o aumento do consumo interno de milho, por causa do aumento das exportações de proteína animal, que está ao redor de 10% ao ano. A tendência atual é que esse patamar seja mantido.

O terceiro impulso é o aumento da produção de álcool de milho. Hoje 5% do álcool produzido no Brasil já vem do milho. O crescimento desse setor é muito forte, está acima de 50% ao ano. É difícil estimar o crescimento nos próximos anos, pois é muito provável que os preços dos combustíveis caiam, no curto prazo, em função da queda do preço do barril de petróleo e seus derivados, e reduza a atratividade de novos investimentos em álcool de milho. Até o momento os investimentos são bastante ambiciosos.

Previsões são só previsões, a realidade pode ser muito diferente. Os preços internos do milho estão batendo todos os recordes, o que é um grande incentivo para aumentar a área plantada na safrinha. Por outro lado, as condições não são as melhores para o plantio: estão faltando chuvas e a janela ideal do plantio já está terminado. Só em agosto teremos uma ideia do tamanho da safra de milho, surpresas, como geadas e falta de chuva, ocorrem.

Em função da força da nossa agricultura de exportação, solidez do nosso sistema bancário e a antecipação de várias ações do governo, a recessão será bem mais tênue no Brasil do que na Europa e nos Estados Unidos. O que não quer dizer que não teremos efeitos negativos. Existirão sim, só que em menor intensidade do que os dos países ricos.

Mas nem tudo está nas costas da agricultura. Por causa das dificuldades financeiras da Boeing, é muito provável a aviação comercial da Embraer não seja vendida. Restará à Embraer a alternativa de se reinventar e competir com a Boeing e a Airbus pelo mercado da aviação comercial. Será um desafio e tanto. Mas se ela for bem sucedida o Brasil se consolidará como terceiro polo mundial de construção de aviões civis. O que vai fortalecer as exportações de bens industriais de tecnologia de ponta, e gerar empregos de qualidade em vários setores da economia.

O equilíbrio entre as exportações de commodities e bens industriais é que vai trazer uma recuperação sustentável da economia. No entanto, essas são duas frentes que geram poucos empregos, devido a tecnologia empregada. O Brasil tem uma grande parte da sua população com uma formação bem precária e que precisa ser empregada. A solução mais simples é estimular o desenvolvimento da área de serviços. Soluções que impendem avanços na automação, como a proibição do autoatendimento nos postos de gasolina são um atraso, devem ser evitadas. É preciso estimular a automação na área de serviços, para aumentar a produtividade e os salários. E qualificar melhor a mão de obra. Um duplo desafio.

É fundamental o equilíbrio na economia. O sistema de ensino público deve ser fortalecido para aumentar a capacidade produtiva da mão de obra brasileira.

O sistema bancário brasileiro está mais forte, mas não poderá ampliar muito os empréstimos num momento de recessão. Essa missão é do Banco Central que está com as mãos amarradas. Se ele incentivar muito a economia a dívida pública explode, e em seguida a inflação. Mesmo assim ele está anunciando grandes investimentos para atenuar os efeitos da recessão.

Com tantas restrições, os avanços na reforma do Estado Brasileiro precisarão avançar com mais velocidade, desta vez o Congresso Nacional estará mais enfraquecido. Ou seja, passado o susto do Coronavírus e da recessão, a atenção se volta para o Congresso com a agenda das reformas.

O que antes parecia impossível, agora vai passar rapidamente pelo Congresso. Uma profunda reforma do Estado Brasileiro, reduzindo drasticamente os privilégios dos poderes Legislativo, Judiciário e Executivo.  As diferenças entre o Estatuto do Funcionário Público e a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) devem diminuir, mas não será ainda desta vez que o Brasil alcançará um único código para o trabalho.

Os privilegiados resistem muito. Não querem perder as suas benesses. O embate entre o presidente Bolsonaro e vários prefeitos e governadores mostrou quem está do lado dos brasileiros. O populismo fácil cada vez mais perde o seu espaço, apesar do esforço de muitos políticos. A população está percebendo com as formas que é enganada. As eleições de outubro serão marcantes. A grande maioria dos políticos não conseguirá se reeleger. Velhos discursos já não agradam mais.

- Anuncie Aqui -