A Visão das Coisas

Por César Graça

Estamos vivendo momentos singulares. É como se o passado recente tivesse desaparecido. Tudo acontece de forma repentina e assustadora. A cada dia um fato novo.

Tudo é plástico e fugaz. Os discursos políticos já nascem obsoletos. Os políticos mais velhos estão sem palavras. O que é certo é que o velho já morreu e o novo ainda não nasceu. Vivemos uma terra de ninguém.

A mídia tradicional está perdida, não sabe para aonde correr. Não consegue convencer a mais ninguém. Estão desesperados atrás de um mecenas. Precisam desesperadamente de dinheiro, não conseguem mais fechar as contas.

O Congresso Nacional anda desesperado atrás de verbas públicas. As negociações com o governo são intermináveis. Os ataques de ambas as partes se sucedem através da mídia, mas nada acontece.

A pressão popular está intensa. Os mais pobres estão nas filas para conseguir a liberação do auxílio do Coronavírus. Os empresários querem voltar a trabalhar. Os governadores e muitos prefeitos querem que a quarentena continue, para tirar verbas do governo federal. O presidente Bolsonaro afirma que a quarentena de todos é uma burrice e que vai enfraquecer muito a economia. O povo não está sabendo em quem acreditar.

O que mais espanta é a quantidade de mortes nos países mais ricos. Lá as mortes por milhão de habitantes são pelo menos dez vezes maiores, do que no Brasil. O que está acontecendo na América Latina é diferente. Mas qual é o motivo? Poucos tentam dar explicações. O Coronavírus aqui está provocando muito menos mortes.

No Brasil o desenvolvimento da doença está sendo muito diferente. Em algumas cidades os casos são muito mais frequentes, em outras muito menor. São Paulo e Rio de Janeiro são as cidades mais atingidas.

Apesar do alvoroço que a imprensa tradicional está fazendo, a maioria das pessoas estão mais preocupadas com o impacto econômico da quarentena. Isso é algo que preocupa muito mais do que o número de mortes.

O brasileiro já está acostumado a conviver com a morte. A morte no trânsito, a morte por outras doenças como: a dengue, a tuberculose, a febre amarela, a gripe comum e outras, morte na violência urbana etc. Nesta questão os brasileiros estão mais com o presidente Bolsonaro, trabalhar para conseguir o sustento do dia a dia é o mais importante.

Os políticos, principalmente os governadores, estão usando a epidemia de Coronavírus como moeda de troca nas negociações de verbas federais e atraso no pagamento das suas dívidas com o governo federal. Só que tentam esconder essa argumentação a todo o custo. Falam muito da qualidade de vida e o valor da vida. Quando na realidade as suas ações estão a todo o momento em confronto com essa argumentação.

O governo federal está fazendo todo o possível para não colocar recursos na mão dos governadores e do Congresso Nacional. A distribuição do auxílio desemprego dado aos trabalhadores informais, através de créditos direto às pessoas, usando a estrutura da Caixa Econômica Federal, foi uma derrota para os opositores do governo federal. Eles estavam achando que esse controle iria para as prefeituras, como é no caso do Bolsa Família, que sempre foi uma forma de conquistar votos. Com o cadastramento direto, os políticos perderam essa ferramenta de manipulação. Sem verbas a eleição de outubro, para vereadores e prefeitos, fica mais difícil para atuais políticos. A expectativa é que ocorra uma grande renovação. O que ameaça a base de sustentação dos atuais deputados, senadores e governadores.

Até as eleições ainda temos cinco meses e meio. É muito provável que até lá as restrições de locomoção estejam muito abrandadas ou mesmo terminem. A imagem dos políticos que exige as quarentenas mais duras deve estar muito prejudicada. Por outro lado, o governo federal distribuindo diretamente os auxílios da pandemia aos trabalhadores informais e lutando para um relaxamento dos controles, para que uma grande parte da população pudesse trabalhar e se sustentar, vai ter a sua imagem reforçada.

A crise do Coronavírus está colocando velhas feridas amostra. Metade dos brasileiros não tem acesso a um contrato formal de trabalho. A causa é simples. Os impostos a serem pagos pelo empregador são muito altos, dobram o custo do empregado. O governo Bolsonaro tentou mudar a legislação, passando os impostos para o faturamento das empresas. Reduzindo drasticamente os impostos sobre a folha de pagamento. Com isso a grande maioria dos brasileiros teriam acesso a um contrato formal de trabalho. O Congresso, principalmente a Câmara, foi contra. Estava temendo o aumento da popularidade do presidente Bolsonaro. O benefício para uma enorme quantidade de trabalhadores foi colocado de lado, a briga política foi mais importante.

Essas lutas políticas estão minando a liderança do Legislativo. Só que na imprensa tradicional aparece o contrário. Lá aparece sempre Bolsonaro como o grande perdedor.  O presidente que quer dar o golpe e acabar com a democracia. O atual Congresso e a mídia se aliaram para conseguirem mais verbas do Executivo, sem esse dinheiro morrem.

O outro lado da questão, que está ocorrendo é a grande renovação nas empresas. A quarentena está mudando profundamente os hábitos das pessoas, em função disso as suas necessidades.

Um exemplo é queda dos preços do petróleo. Com a queda do consumo, em função da redução do deslocamento, os preços desabaram. Saiu do patamar de 60 dólares e estão oscilando entre 10 e 20 dólares o barril. Nesta faixa de preços, uma grande quantidade de empresas petrolíferas se tornou inviável, mundo afora.

No Brasil, a Petrobras e a maioria das usinas de álcool não conseguem fechar as contas. Se o período da queda de preços fosse pequeno até dava para aguentar um tempo. Mas esse não parece ser o cenário mais provável. A solução é se reinventar. Mudar radicalmente os processos produtivos e o mix de produtos. Uma forma de reduzir custos é reduzir a folha de pagamentos. Novos processos produtivos são necessários. A automação é uma ferramenta. Com ela se consegue reduzir custos de uma forma radical. Em consequência o quadro de pessoal desaba.

O problema é que a Petrobras é uma empresa estatal. Se uma empresa estatal pode se inventar dessa maneira, as outras estatais também podem. É um incêndio no capim seco. As estruturas de todas estatais podem ser reduzidas radicalmente. Começando pelos bancos estatais. Se as estatais podem se inventar, por que não também a máquina burocrática do governo? Com a quarentena ficou evidente que a maioria dos funcionários públicos não são necessários. Mais de 50% das funções executadas pelos funcionários públicos podem ser automatizadas. E o atendimento muito melhor realizado através da internet.

Voltando ao setor privado, é possível que grandes saltos podem ser feitos. No meio dos combustíveis é possível a quantidade de postos de gasolina que de repetente passaram a ser desnecessários. Mais do que isso, os preços dos combustíveis podem ser reduzidos com self-service. Que o cliente deve ter o direito de escolher se quer o self-service ou o atendimento pelo frentista. É um atraso da legislação impedir o self-service nos postos de gasolina. Os países mais ricos permitem isso há mais de 40 anos.

Essa é questão fundamental que a crise está provocando. As organizações podem melhorar. Esse salto qualitativo pode ser muito grande, tanto no setor público, quanto no privado.

Esse comportamento de ficar parado muito tempo e de repente se colocar em movimento e fazer grandes saltos é típico da cultura brasileira. Inércia e grandes saltos se alternam na nossa história. Agora não vai ser diferente.

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