Caçar para disciplinar

Foto: Reprodução

Por Édelis Martinazzo Dallagnol

“Não tem que se intrometer na natureza. Ela se disciplina por conta!” É que não temos mais um “estado natural” e, por isso, a “intromissão” torna-se imperiosa. Vamos figurar uma hipótese didática: temos 5 pombinhas num viveiro e introduzimos um gavião; o que acontecerá? Todos morrerão: as pombinhas, devoradas, e o gavião, depois, de fome… Existe como que uma “guerra” entre os animais silvestres.
Nossas pequenas reservas de mata são como um viveiro. Muitos delas estão “mortas”. Por quê? Alguém eliminou as vidas então existentes – ou o homem, ou outro predador. Grandes predadores (onça pintada, onça parda e puma) necessitam de muitos quilos de carne por dia. Uma onça come um cabritinho ou um filhote de cervo por dia, um tateto a cada dois ou três dias. Um gavião de médio porte devora um sabiá (ou uma pombinha, ou joão-de-barro) por dia. Portanto, onde colocarmos ou deixarmos um gavião ou uma onça, há que se ter animais em abastança. Se um guaraxaim abate, em média, 200 peças de caça ao ano, e se na área houver outros predadores, mesmo que de médio porte, como mão-pelada, irara, gato-do-mato, jaguatirica, gambá, etc., quantos pequenos animais serão necessários para alimentar os predadores?…
Eliminar os predadores? Seria mais fácil; mas como ficaria a biodiversidade?… Não podemos eliminá- los; mas podemos remanejá-los. No Pantanal, por exemplo, há muita comida (aves de todo tipo) e seria fácil recolocar muito lá. Aliás, nesta região sul, densamente povoada, com pequenas propriedades (vale dizer, com pequenas reservas), não se vislumbra melhor opção que o manejo da vida silvestre.
Amigo leitor, já parou para pensar sobre as razões de nossas matas serem tão pobres de vida silvestre? Não foi assim no passado; pode perguntar para seu pai ou seu avô. A Mata Atlântica foi um paraíso selvagem: mais de 5 espécies de cervos, antas, pacas, cutias, tatus, varas de porcos- do-mato, de tatetos, de capivaras, de quatis, etc., sem contar pássaros: macucos, urus, inhambus, jacutingas, jacus, arapuãs, tovacas, pombas, etc. Que temos hoje? Pouco, quase nada! Algum tatu, alguma cutia… e, isso, bem próximo ao ser humano, onde o predador não se arrisca chegar… Acabou, ou quase acabou a vida silvestre.
Um fator quase decisivo, por certo, é que o predador natural não está no cardápio do homem. Num primeiro momento da ocupação humana, mirou-se a carne grátis e saborosa de paca, porco, cervos… Quando os rebanhos de caça diminuíram, os predadores naturais passaram a “dar conta” da vida silvestre, e estão indo além: estão recorrendo a leitões, galinhas, cordeirinhos, etc., porque do contrário não sobreviveriam… A escassez é significativa. Os predadores migram de área para outra e, ainda assim, muitos não sobrevivem.
Disciplinar predadores não é tão fácil como disciplinar presas. Na próxima semana, quando falarmos em repovoar, teremos outros fatores concorrendo e que deverão ser analisados.

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