Ela me envolvia

Foto: Reprodução

Por Luiz Gustavo

Ela me envolvia. Ela me cercava, me abraçava e dizia também que me amava. Sua dominância era clara e evidente. Com ela não me era permitido falar, mas apenas ouvir e por um tempo estava tudo bem. Mas o tempo, o tempo revelava sua mórbida faceta por detrás de sua falsa companhia. Havia um tempo que esquecerá o som da minha voz. Expressar-me era negado, mesmo quando os sentimentos pressionavam minha garganta, ainda sim, permanecia em silêncio, um silêncio que escorria como um grito de socorro por entre olhares cabisbaixos. “Ninguém se importa, mas estou aqui” – Ela dizia. Porém, as suas palavras me rasgavam, cavando ainda mais o abismo em mim. Eu não a queria. Lembro-me que ter amigos e sair era bobeira e que a companhia dela era tudo o que, segundo ela, eu precisava. A sua voz exalava fortes favos de mel, mas o gosto de suas palavras eram amargas. Ela me tinha por inteiro mas não era suficiente, assim ela me estilhaçava para só então, recolher os meus pedaços. Evitava irritá-la, pois suas crises exprimiam dolorosas ansiedades em meus pensamentos. Ela tirou tudo de mim. Fui mergulhado em um relacionamento longo, de anos abusivos, amedrontados e acorrentados por mentiras.
Mas um dia Ele me encontrou; fraco, eu não tive forças para resistir a essa bondosa presença. “Eu fui encontrado”, cuidou de mim quando não havia mais ninguém e ainda “me chamou de amigo”. Quanto a ela? Rompemos, estraçalhou-se como correntes ao chão – não suportou o novo ressoar vindo do meu coração: “doce demais, alegre demais” — ela replicou. Em vez de feridas floresceu a empatia, o aprendizado e o amadurecimento de que ela, a *Depressão*, é sentir sem sentimento, é peso sem nada a carregar, é a luta que não se deve lutar só! E hoje, ela – a Depressão, essa algoz de zelo vazio, de amor desnutrido, de palavras que sentenciam e de lábios que sussurram a morte, não mais me seduzem… e dela, em específico, não sinto falta. Cristo que me fez esquecer todo aquele amor fraco, anoréxico e pobre que não sustentava, apenas asfixiava. Essa alegria que hoje canta suave na voz d’Aquele que grita a vida em mim e que continua a cantar, dia após dia; “(…) Nunca te abandonei…” (Hb 13.5) “Com Amor Eterno te amei….” (Jr 31.3).23

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