Safra 2021-2022

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Fotos: Jaelson Lucas/AEN

Por César Graça

A safra 2011-2012 começa a ser plantada agora em agosto, toma vulto em setembro. Como toda safra, o seu resultado vai depender muito do clima. O início da safra anterior, 2020-2021, atrasou, em média 60 dias, por falta de chuvas. Depois, elas retomaram e a primeira safra de verão foi plantada. Mexeu com todo o calendário agrícola brasileiro. A colheita atrasou e, em consequência, também o plantio da segunda safra de verão, a safrinha. Que sofreu triplamente: atraso no plantio, seca no meio e geadas fortes no final. O que comprometeu bastante a produção. A expectativa da safrinha de milho era de 90 milhões de toneladas. Na realidade a produção deve ficar entre 50 e 60. Uma perda por volta de 40%. Para compensar os preços foram às alturas. O que compensou, em parte, a quebra.

As incertezas para a safra que começa a ser plantada agora é muito grande. Os preços estão no maior pico dos últimos cinco anos, com chance de subirem mais ainda. Tudo vai depender do clima nos Estados Unidos nos próximos dois meses. A safra norte-americana não vai bem. Em algumas regiões as perdas já são significativas, por causa da falta de chuvas. Se a seca continuar as perdas podem aumentar e os preços, subir mais ainda.

Nos preços atuais, a lucratividade da safra brasileira está excelente, se nenhum evento climático severo acontecer. Se o clima, no Brasil, ajudar e os preços subirem mais ainda, nos Estados Unidos, teremos uma safra excepcional. Bem ao contrário da anterior. Os volumes da safra de soja brasileira devem subir entre 5 e 10%. O que vai levar a safra para ao redor de 145 a 150 milhões de toneladas. A safra norte-americana atual deve ficar entre 115 e 120 milhões de toneladas. O terceiro produtor mundial de soja, a Argentina, está vivendo uma grande crise financeira. O que deve dificultar o aumento da sua safra de soja. A previsão é que ela oscile entre 45 e 50 milhões de toneladas, se o clima ajudar. O que deve consolidar o Brasil como o maior produtor e exportador de soja do mundo.

O principal uso do grão de soja é fazer ração para a alimentação animal. O Brasil consome um terço da soja que produz. O principal uso é fazer farelo e óleo. O farelo é transformado em ração e o óleo é para o consumo humano. Nos últimos tempos, parte do óleo passou a ser usado para fazer biodiesel, que já chegou a ser 13% na composição do diesel vendido no mercado interno. Hoje está em 10%. O governo baixou a mistura temendo que faltasse óleo comestível e os preços explodissem no mercado interno.

Os preços da safra 2020-2021 tiveram uma boa subida no segundo semestre do ano passado. Boa parte da safra já tinha sido vendida. A safra atual começou a ser vendida com preços bem mais altos, em média o dobro do ano anterior. Os agricultores brasileiros estão desconfiados. Acham que os preços devem subir ainda mais e estão segurando as vendas. O que demonstra que os agricultores brasileiros estão bem capitalizados.

Os estoques em poder dos agricultores, de soja e milho, estão razoáveis. Não muito grandes. Todo o mundo está esperando o resultado da safra norte-americana, que ainda está incerta. Esse quadro favorece muito a economia brasileira. O que indica um bom crescimento econômico em 2022, ano de eleições presidenciais.

Existe a possibilidade de ocorrer um ambiente extremamente benéfico para o agronegócio em 2022. Bem ao contrário que aconteceu com a safra anterior, 2020-2021. O que é muito comum na agricultura, anos bons seguem anos ruins. Algumas vezes acontece o contrário. Duas ou três safras ruins, seguem dois ou três bons. Existem variações sazonais na qualidade das safras.

O mais importe, para os agricultores é ter preços atrativos. As regras de formação de preço são bem diferentes do tamanho da safra. A qualidade da safra é um evento local. Os preços dependem do mercado internacional. O que impacta mais os agricultores é a lucratividade, que dependem de vários fatores. Hoje, talvez o fator mais importante para determinar a rentabilidade é a demanda chinesa pela soja. O segundo é o câmbio. A epidemia criou uma crise que desvalorizou o real. Nos últimos meses o real voltou a se valorizar.

China e Índia têm populações ao redor de 1,4 bilhões. Somadas, um terço da população mundial. Essas duas economias estão crescendo bem acima da média mundial. Ambas ainda têm uma grande parte da sua população na área rural, produzindo com baixa tecnologia. Bem ao contrário que o Brasil e os Estados Unidos que têm a maior parte da sua população na área urbana e praticam uma agricultura de alta tecnologia, com pouco uso de mão-de-obra e grande produtividade.

A produtividade agrícola da China e da Índia é baixa. Com a migração da zona rural para zona urbana a renda das pessoas aumenta e elas passam a ter um poder aquisitivo melhor e comprar mais alimentos. Só que a estrutura interna não atende à essa necessidade. A solução é importar alimentos. A renda média da China já subiu bastante. O que faz que ela tenha de fazer grandes importações de alimentos. Na Índia, esse processo de aumento de renda da população ainda está bem no início, o que ainda não criou uma pressão muito grande para a importação de alimentos. Mas isso vai acontecer logo.

O aumento da demanda de alimentos da China e da Índia abre uma oportunidade para o Brasil aumentar muito as suas exportações de alimentos. Esse é o cenário de fundo. Todas essas questões de variações de preços das commodities agrícolas tenderão a giram em torno de atender às necessidades da China e da Índia. As importações dos outros países serão bem menores do que às desses dois países.

Hoje o maior exportador de alimentos é os Estados Unidos. Mas eles estão no seu limite de produção. Tem poucas novas áreas disponíveis e a sua produtividade média já é muito boa. O que não acontece com o Brasil, que só usa 7% da sua área agriculturável e uma tem uma produtividade média ainda muito baixa. Alguns agricultores brasileiros já conseguem produzir alimentos na produtividade média dos norte-americanos, mas são poucos.

Na soja o Brasil, já tem uma boa produtividade média. Ainda assim consegue aumentar a produtividade, em média, de 3% ao ano. E acrescenta 4% ao ano de novas áreas de produção. O que resulta num aumento de 7% ao ano. O que é muito bom. Só três países produzem soja em volumes significativos:  Brasil, Estados Unidos e Argentina. Os outros dois países têm dificuldade de aumentar as suas produções de soja. O seu crescimento anual é bem menor do que o do Brasil.

O milho é o principal grão produzido para a alimentação animal. Os Estados Unidos é o maior produtor disparado. O Brasil tinha a tradição de produzir milho só para o consumo interno. Quando uma safra era boa, sobrava milho. A saída era subsidiar as exportações. Hoje isso soa muito estranho. Pois, agora, a exportação é bem rentável e o Brasil não precisa mais subsidiar a produção para exportar. Hoje o Brasil exporta por volta de 40% da sua produção. A tendência é aumentar muito rapidamente a produção e a exportação de milho.

A ideia é aproveitar ao máximo a estrutura de produção e exportação da soja, para fazer uma segunda safra de verão. O que começou como uma mera oportunidade, se transformou num grande negócio. Produzir duas safras no verão na mesma área, isso sem irrigação.

É evidente que fazer duas safras de verão não é uma tarefa simples. Vários pequenos truques foram criados. No entanto, em alguns anos que a coisa não funciona bem. Foi o que aconteceu nesta safra, 2020-2021. Houve agricultores que tiveram muita sorte e colheram uma boa safrinha. E com os preços nas alturas o lucro foi muito bom. A maioria teve quebras. Mesmo assim, o resultado cobriu os custos de produção. Poucos agricultores tiveram prejuízo com a safrinha.

Na maioria das vezes a safrinha é muito boa. O que dá uma vantagem competitiva muito grande para a agricultura brasileira. São duas safras na mesma área todo o ano. E ainda sobra tempo para plantar uma terceira safra, antes da primeira safra de verão do ano seguinte

Muitos agricultores plantam, junto com o milho um capim. A ideia é que o milho abafe o capim. E, após o milho ser colhido, o capim tome conta do terreno, gerando uma cobertura e muitas vezes um alimento para o gado no inverno. E o gado fertilize o terreno. Esse é um padrão, mas existem outros.

É bastante comum, em algumas regiões, plantar o algodão depois da primeira safra de verão, que na maioria das vezes é soja. Existem vários tipos de soja. Algumas de ciclo bem curto. Sobra mais tempo para plantar a segunda safra. É mais comum, o algodão na segunda safra. O ciclo de desenvolvimento do algodão é bem longo. E além do mais, o algodão tem raízes profundas. O que torna a cultura mais resistente à falta de chuva. E, no final do ciclo, o algodão precisa de uma boa estiagem para produzir uma pluma de melhor qualidade.

Não é raro produzir milho na primeira safra. Em algumas regiões, o milho da primeira safra é muito produtivo. E o preço pode estar muito bom. O resultado pode ser muito mais lucrativo plantar milho, que plantar soja.

Os padrões de três safras são múltiplos. Dependem muito da região e do objetivo do agricultor. E do regime de chuvas, que pode variar de região para região. E, algumas vezes, de ano para ano. Toda essa complexidade dá um grande dinamismo à agricultura brasileira. Ela fica ativa o ano todo. O custo fixo é rateado em diversas safras ao longo do ano.

Os agricultores norte-americanos já aceitaram a liderança brasileira na produção da soja. Agora estão preocupados com a competitividade dos agricultores brasileiros no milho. O tamanho da safrinha assusta. Sabem dos riscos de se fazer duas safras numa mesma área todo o ano. Eles ainda não perceberam que alguns os agricultores brasileiros já fazem três safras anualmente. A terceira, são  culturas de inverno. A mais comum é de capim para o gado. Mas também se planta trigo, cevada e outras culturas de inverno no Sul.

Os que os norte-americanos temem é a velocidade do crescimento da produção de milho no Brasil. Têm razão de estarem preocupados. O Brasil deve plantar 40 milhões de hectares de soja na safra 2021-2022. E os 15 milhões de milhões de hectares de milho na safrinha. Existe um grande potencial do Brasil aumentar a área de milho na safrinha. Passar para 20 milhões é movimento bem fácil de se fazer. Outro fato que pode ser melhorado é o aumento de produtividade. Hoje a produtividade média do Brasil está em volta de 6 mil quilos de milho por hectare. A dos norte-americanos é mais de 10 mil. Na soja a produtividade nos dois países é muito próxima. É provável que logo a produtividade brasileira supere à norte-americana. Não existe motivo nenhum para que logo a produtividade brasileira do milho alcance a americana. Só isso aumentaria a produção de milho em mais de 50%. Saindo de um patamar de 110 milhões de toneladas, expectativa da safra 2021-2022, para quase 200 milhões, ao redor de 50% da americana. No médio prazo, a liderança norte-americana mundial na produção de milho estaria ameaçada. Aí o jogo mudou. Seria o Brasil que daria as cartas no agronegócio. As exportações de milho e de álcool combustível do Brasil seriam muito maiores do que as dos Estados Unidos.

 

Temos outras áreas nas quais a área plantada pode se expandir. No Norte e no Nordeste têm áreas antigas, que produzem muito pouco. Agora, as novas tecnologias agrícolas chegaram lá. A produtividade deu um salto. A velocidade de conversão está muito alta. Existem áreas que já não se plantava há muito tempo, por causa da baixa produtividade. A chegada de novas tecnologias mudou tudo. A produtividade do trigo irrigado no Ceará é maior do que a do Sul do país. Algo surpreendente até para os pesquisadores. Grandes áreas do sertão nordestino serão incorporadas ao plantio nos próximos anos.

O Nordeste Brasileiro tem uma vantagem a mais, a proximidade dos portos. Vantagem que o Centro-oeste não tem. E para facilitar mais ainda o escoamento, o governo Bolsonaro está construindo uma estrada de ferro ligando os portos de Suape, Pernambuco, com o de Pacém, Ceará. Uma segunda está sendo construída, ligando o porto de Ilhéus, Bahia, à Ferrovia Norte-Sul, que liga o porto de São Luís, Maranhão, com o porto de Santos, São Paulo. Em poucos anos o Nordeste vai ter uma excelente rede de ferrovias. O que vai reduzir muito o custo do transporte em toda a região, melhorando mais ainda a rentabilidade da agricultura nordestina. E dando condições de um crescimento econômico mais sustentado para a região.

Com o crescimento da safra de milho a agropecuária vai se transformar. Os volumes de bens exportados vão aumentar muito. Uma boa produtividade do milho é de 10 mil quilo por hectare. A da soja é de 4 mil quilos. Os volumes de milho a serem transportados são muito maiores do que a soja. O que exige uma infraestrutura muito maior. Não só rodoviário, mas também ferroviário, hidroviário e de cabotagem. Hoje o Brasil transporta algo por volta de 300 milhões de toneladas por ano. Mais da metade é soja. Com a produção de 400 milhões de toneladas de milho e 200 milhões de soja, o Brasil deve movimentar um bilhão de toneladas ano. Três vezes mais que hoje. Tudo vai ter que crescer para atender às necessidades do milho. O que provoca grandes ganhos de escala. O custo do transporte vai se reduzir no Brasil inteiro.

A safra 2021-2022 vai ser um marco. O mundo inteiro está preocupado com a epidemia e os seus efeitos. Se esqueceram do Brasil. Quando perceberem, vão se deparar com um Brasil totalmente diferente, uma potência ­mundial. Primeiramente vão descobrir que o Brasil não parou na epidemia. Mais do que isso, cresceu bastante e se fortaleceu economicamente. O que é muito surpreendente. Pois a maioria dos países saíram da epidemia muito enfraquecidos. O Brasil foi diferente. Saiu forte. Fez uma profunda transformação. Não foi só econômica. A política também mudou.

Vai demorar um tempo a mais para o mundo perceber que a estrutura política do Brasil mudou. Saiu de um ciclo de mais de 30 anos de governos de esquerda e entrou num ciclo de direita, que vai durar de 30 a 40 anos. Com um governo preocupado com as liberdades individuais, crescimento econômico e distribuição de riqueza.

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