Afeganistão ou Vietnam

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Por Agência Brasil

Por Cesar Graça

Após 20 anos de invasão, os Estados Unidos resolveram deixar o Afeganistão. As semelhanças com o Vietnam são muitas. O desespero de quem ajudou os norte-americanos é enorme. Pois sabem que as represálias serão muitas. Provavelmente pagarão com a própria vida. Este é o cenário que se vê no Aeroporto de Cabul, que é a capital do Afeganistão, e chocaram o mundo.

Essas intervenções militares, no Vietnam e no Afeganistão, dos Estados Unidos foram desastrosas. Custaram uma fortuna e trouxeram poucos resultados. Fazem parte de um ciclo histórico. As Guerras do Vietnam e do Afeganistão lembram muito as guerras coloniais. Em que uma nação tenta se libertar do domínio de outra. Os Estados Unidos foi a nação imperialista. O Vietnam e o Afeganistão nações invadidas.

No final do século XVIII, os Estados Unidos estavam do outro lado. Eram uma colônia da Inglaterra. Em 1776, os Estados Unidos se libertaram da Inglaterra. Foi a primeira colônia a proclamar uma república. O seu exemplo correu o mundo e abalou as velhas monarquias. Hoje são uma nação imperialista sofrendo uma grave derrota de uma nação dominada. É o final de um ciclo de 250 anos?

Será que os Estados Unidos será o último império sobre a Terra? Será que a estrutura de convivência entre os países vai mudar dessa vez? Qual será o papel do Brasil nesta mudança de liderança sobre a Terra?

São perguntas interessantes de refletir. Estamos vivendo um momento de grandes transformações históricas. Tudo que for concebido agora vai durar 100 anos ou mais. O século XX foi marcado por duas grandes guerras. A 1ª Guerra Mundial foi o final das grandes monarquias europeias. A 2ª foi uma continuação da 1ª, só que muito mais ampla e violenta.

Depois da 2ª Guerra Mundial o mundo entrou numa outra fase. O crescimento econômico foi intenso. As tecnologias desenvolvidas na primeira metade do século foram colocadas para construir um bem-estar econômico, principalmente nos Estados Unidos, na União Soviética, na Europa e no Japão. Isso sob o clima da Guerra Fria. Pequenos atritos, às vezes não tão pequenos assim, ocorriam de tempos em tempos. Nesta categoria é possível colocar a Guerra do Vietnam e do Afeganistão, como guerras tipicamente coloniais. A nação imperialista era os Estados Unidos.

O século XX terminou com a queda do Muro de Berlin, 1990. Foi o momento da reunificação da Alemanha, que tinha sido dividida após o término da 2ª Guerra Mundial. Logo em seguida a União Soviética implodiu. A Rússia saiu da União Soviética e vários países se libertaram do Partido Comunista Soviético, voltando a serem países livres. Os Estados Unidos ficaram sozinhos na liderança mundial.

Durante a dominação soviética, 1980 a 1989, o Movimento dos Talibãs lutou duramente contra o domínio russo e teve apoio dos Estados Unidos. Depois assumiu o poder. Em 2001 os Estados Unidos sofreram uma série de grandes atentados, o famoso 11 de Setembro. Foi um ponto de inflexão de um ciclo de longa duração. Os Estados Unidos não tinham guerras no seu território desde as guerras de libertação da Inglaterra. A última foi em 1812. Tropas inglesas chegaram a invadir o Congresso Norte-americano.

O Atentado de 11 de Setembro de 2001 deixou os Estados Unidos totalmente desorientado. Ele copiou o comportamento das monarquias do século XIX. Invadiu dois países com objetivo de vingar os atentados: Iraque e Afeganistão. As desculpas foram muito frágeis, como acontece nestes casos. No Iraque, armas de destruição em massa, que nunca foram encontradas. No Afeganistão, prender o cérebro dos atentados, Osama Bin Laden. Na realidade ele foi encontrado no país vizinho, Paquistão, e morto por tropas especiais norte-americanas em 2011. Não tinha mais sentido a invasão do Afeganistão. Foram mais de 10 anos de indecisão.

Os Estados Unidos foi a primeira colônia a se libertar, das monarquias europeias em 1776. Foi algo totalmente inesperado. A Europa colonialista não estava preparada. Assistiu tudo estupefata. A Inglaterra era a nação dominante nos mares. No território europeu quem dominava era a França. De repente uma colônia se rebela e cria uma república. Era o início de uma nova era. Em seguida, em 1789, a França faz uma revolução e derrubou a monarquia mais poderosa da Europa. A França passa a ser uma república. Duas revoluções, no final do século XVIII, mudaram o mundo. Foi um início de um ciclo de longa duração, que agora está terminando. Ou mais exatamente, terminou em 11 de setembro de 2001.

Em 1799, Napoleão dá um golpe e a Revolução Francesa termina. Os franceses chamam esse período, 1789-1799, de 1ª República. Napoleão vai conquistando espaços na política francesa e se declara imperador em 1904. Inicia uma série de conquistas militares na Europa. Cai definitivamente em 1815. Segue um período de estabilidade e tentativa de restauração da monarquia francesa.

Na Europa, segue vários conflitos. Regimes monárquicos morrendo e regimes republicanos tentando se impor. Na América, segue uma sequência de libertação de ex-colônias, que se transformaram em repúblicas. O Brasil também se liberta de Portugal nesta época. A diferença é que o Brasil cria uma monarquia nos trópicos. Algo totalmente inusitado. Foi uma transição bem mais suave. E o Brasil não se fragmentou, como os outros países da América Latina. Muito ao contrário, como as monarquias europeias, o Brasil incorporou outros territórios: A Guina Francesa e o Uruguai (Província Cisplatina). Territórios que o Brasil depois perdeu.

Da Revolução Americana até a 1ª Guerra Mundial foi um período de grandes transformações no mundo inteiro. É o momento de nascimento de várias nações e o término de várias monarquias. O pano de fundo é o término da escravidão. Os Estados Unidos só terminaram a escravidão na Guerra de Secessão, 1861-1865. O Brasil foi o último país, na América, a acabar com a escravidão, em 1888, um pouco antes da queda da monarquia e do início do período republicano.

A 1ª Guerra Mundial é um conflito europeu que se estende para o mundo. É uma reação dos países europeus ao crescimento da Alemanha. Começa com um assassinato político nos Balcãs e em poucas semanas as principais potências da Europa estavam envolvidas num enorme conflito. Velhas monarquias desabaram. A Rússia sofreu uma revolução. O Partido Comunista assume o poder e se segue uma dura guerra civil. Os Estados Unidos só entram na 1ª Guerra Mundial no finalzinho. E assumem a liderança mundial. Mas é uma liderança relutante. O povo norte-americano não achava produtivo entrar em guerra.

Entre a 1ª Guerra Mundial e a 2ª os Estados Unidos viveram a Grande Depressão. Foi a maior crise econômica mundial. A sua economia só se recupera plenamente no meio da 2ª Guerra Mundial.

Os Estados Unidos relutaram muito para entrarem na 2ª Guerra Mundial. Só entraram para valer após o ataque japonês a Pear Harbor, no Havaí em dezembro de 1941. Os norte-americanos saíram da 2ª Guerra Mundial muito fortalecidos, pois o seu território continental nunca foi atacado. Enquanto a Europa e o Japão foram devastados.

A liderança norte-americana no mundo era inquestionável. A Europa já não liderava mais. Quem liderava era os Estados Unidos e a Rússia. Os dois principais ganhadores da 2ª Guerra Mundial.

Hoje essa liderança está passando de mãos. A China já está assumindo a liderança mundial. Duas nações estão tentando conter a China, o Japão e os Estados Unidos. Duas antigas grandes potências econômicas da segunda metade do século XX. Mas já não conseguem mais. Talvez se possa se incluir a Rússia, como uma potência militar, no xadrez da liderança mundial hoje.

A saída dos Estados Unidos do Afeganistão é um marco. É o fim do domínio hegemônico dos Estados Unidos. É o final de um ciclo de longa duração, que começou com a Revolução Norte-Americana e terminou no Atentado de 11 de Setembro de 2001.

Agora estamos no início de um novo ciclo de longa duração. Que não sabemos ainda o que vai ser.

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