A Revolução de 64 (II)

Por Cesar Graça

A Revolução de 64 é um projeto coletivo, bem ao contrário da Revolução de 30, que foi um projeto pessoal de Getúlio Vargas. O núcleo se formou na Escola Superior de Guerra, um órgão das Forças Armadas. Tudo é organizado como se fosse uma batalha a ser vencida. O objetivo era claro, desenvolver o Brasil. O inimigo as esquerdas, que tinha chegado ao poder através de eleições de 1960.

É o auge da guerra fria entre os Estados Unidos e a Rússia. Fidel Castro lidera uma revolução em Cuba. Assume o poder e demonstra publicamente o seu apreço pela Rússia. Os russos instalam mísseis em Cuba. O mundo quase chega a uma guerra nuclear. Os russos voltam atrás e retiram os mísseis de Cuba. Com o tempo a União Soviética vai perdendo a corrida nuclear até o seu colapso econômico em 1991 e se divide em vários países.

Essa dicotomia é o pano de fundo do século XX. O Brasil a vive intensamente. Dois exemplos fogem à regra: Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek. Getúlio não segue nenhuma das duas vertentes, direita e esquerda. Ele é uma mescla das duas. Ele tem simpatizantes e críticos das nuas. Juscelino é o equilíbrio que consegue conviver com todos os pensamentos, principalmente os divergentes. Foi, disparado, o melhor presidente brasileiro. Amado por quase todos, até por seus inimigos políticos.

Logo que assume o poder, a Revolução de 64 toma duas iniciativas: a repressão aos opositores, reais ou imaginários, e arrumar a economia, que estava numa rota de destruição. Na época, os brasileiros tinham uma leve ideia do poder de destruição das esquerdas. As condições de vida pioraram bastante durante o governo de João Goulart. O apoio popular foi muito intenso à Revolução de 64.

Os ajustes na economia foram muito duros e rápidos. A inflação foi contida. Em 1966 a economia já retoma o crescimento. Em 1967, quase atinge 14% ao ano. O crescimento econômico entre 1964 e 1986 foi de 8% ao ano. Era uma época que o Brasil se endividava e crescia bastante. Em 1980, os Estados Unidos aumentaram muito a taxa de juro, saindo de um patamar de 6% ao ano e indo para 20% ao ano. O Brasil quebrou, não conseguia mais pagar os juros da sua dívida. A década de 80 foi chamada a década perdida. Na realidade o baixo crescimento econômico foi muito mais longo, foi de 1980 até 2017. Por quase quarenta anos o Brasil cresceu na média de 2% ao ano. Da Proclamação da República até a queda dos militares, em 1985, o Brasil foi uma das economias que mais cresceu no mundo, em média 7% ao ano.

A repressão dos militares à esquerda foi mais ampla, do que a repressão de Getúlio fez aos seus opositores. Não só atingiu as esquerdas. Agrupou todas as figuras que pudessem fazer frente às novas lideranças dos militares. O que incluiu também vários ex-aliados, revolucionários de primeira hora. Entre eles o próprio Juscelino. Uma característica de todos os processos revolucionários, de esquerda e de direita. Segundo todos os padrões, a repressão política, no Brasil, foi branda, quando comparada a outros países. Os maiores críticos foram as esquerdas soviéticas. Quem escondem os mais de 80 milhões de assassinatos cometidos por Stalin.  Não existe processo revolucionário sem barbárie.

As prisões e torturas dos opositores leva a uma reação muito forte das esquerdas. Um pequeno grupo toma em armas e tenta um levante no interior do Brasil. Esse modelo de revolução já tinha sido tentado pela direita no governo de Juscelino. Um pequeno grupo de oficiais da Aeronáutica tenta uma revolta no interior do Brasil em Aragarças, no Brasil Central. Foi facilmente abafada pela própria Aeronáutica. Juscelino sofreu três revoltas, controladas facilmente, e todos os revoltosos foram anistiados por Juscelino. Teve revoltosos que foram anistiados três.

A guerrilha urbana foi mais intensa de ambas as partes. Vários eventos aconteceram e foram muito mal encobertos. Um deles foi uma tentativa de atentado cometido pelos órgãos de segurança dos militares, num espetáculo cultural no Rio de Janeiro, no Riocentro, em 1981. A bomba explode no colo de um sargento do Exército, que veio a falecer. Um oficial do Exército também ficou seriamente ferido. Não foi o único atentado cometido pelos militares.

A repressão aos esquerdistas cresce tanto que até chegou a incomodar o presidente Geisel. Até que ele teve que conter uma revolta dos militares. O resultado foi uma abertura do Regime Militar que veio a ocorrer no governo seguinte, do presidente Figueredo, o último presidente do ciclo militar. O ciclo militar termina com a eleição indireta do presidente Tancredo Neves em 1985, que não chega a tomar posse. Assume o seu vice, José Sarney.

Em 1989 cai o Muro de Berlim. É o final da 2ª Guerra Mundial. Se inicia a reunificação da Alemanha e logo em seguida, em 1991, a União Soviética se desintegra e várias nações se separam. Era o fim do comunismo na Europa.

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