Eleições na Argentina

Foto: Reprodução

Por César Graça

A Argentina vai ter eleições para deputados e senadores no dia 14 de novembro, agora em 2021. Vai ser um momento decisivo. Tudo está preparado para estourar uma grande crise. E ela vai atingir o Brasil de uma forma ou outra.

A Argentina é um grande produtor de commodities agrícolas, como o Brasil. Para os dois, a principal é a soja. Ela é a terceira produtora mundial, com 50 milhões de toneladas por ano. O Brasil é o primeiro, com 145 milhões, e os Estados Unidos o segundo, com 120 milhões. Uma pequena queda da produção de soja da Argentina vai mexer com os estoques mundiais, que já estão baixos. As chances dos preços mundiais de soja subirem são bem grandes.

Há um ano, o preço da soja estava oscilando ao redor de 8,5 dólares o bushel. Hoje, ao redor de 12,50. O mais provável é que os argentinos tenham dificuldade de plantar, por causa do momento instável que a Argentina está vivendo. É bastante provável que a safra deste ano seja menor do que a do ano passado. Se houver um evento climático desfavorável, na Argentina ou no Brasil, a queda da produção poderá ser maior ainda. Em consequência, o preço da soja, no mercado mundial, poderá aumentar ainda mais. O que é muito bom para os agricultores dos dois países. Mas principalmente para o Brasil, pois a estrutura de produção de commodities agrícolas, no Brasil, está crescendo e tem um grande apoio do governo. Na Argentina, acontece o contrário. Os impostos são muito pesados na produção agrícola, principalmente na soja. Os agricultores argentinos estão descapitalizados. Não conseguem fazer investimentos há muito tempo. A sua preocupação é sobreviver.

A Argentina também produz milho e trigo. Mas a importância das duas safras é bem menor no mercado mundial. Uma queda na produção desses dois itens terá um impacto bem menor no mercado mundial e no Brasil.

Tudo caminha para uma derrota para o Partido Peronista que está no poder. Hoje ele tem maioria no Senado. A perda dessa liderança vai criar uma grande instabilidade política, econômica e social. Algo muito comum lá. O dólar começa a disparar no mercado negro. Que lá eles chamam de dólar blue.

A Argentina já viveu muitas crises econômicas nos últimos 100 anos. Falar assim não significa que as crises sejam indolores para os argentinos. Hoje, 50% dos argentinos estão abaixo da linha de pobreza. Ou seja, têm dificuldade de se alimentar diariamente. No Brasil, este índice está abaixo de 20%. Na Argentina, hoje, 10% da população está na situação de miseráveis. No Brasil, essa população está abaixo de 5%. Resumindo, a situação na Argentina está muito pior que no Brasil. E lá, as coisas continuam piorando. Em quanto no Brasil estão melhorando.

Apesar do lockdown muito intenso, na Argentina, e as fronteiras com o Brasil estarem fechadas, a emigração da Argentina para o Brasil é muito intensa. Ainda não é tão escandalosa como a dos venezuelanos. Hoje o Brasil já recebeu mais de 300 mil venezuelanos. Existe uma boa estrutura oficial para recebê-los, montada pelo Exército Brasileiro. Muito provavelmente, logo vai precisar ser feito o mesmo para os argentinos. A população da Venezuela é de 25 milhões de pessoas. A da Argentina é de 45 milhões. A fronteira do Brasil com a Argentina é muito maior e mais fácil de acessar. Tudo caminha para uma explosão de argentinos chegando no Brasil. Até pela proximidade, os argentinos têm um contato maior com o Brasil. No passado, era muito comum eles virem passar as férias de verão nas praias brasileiras. Os argentinos conhecem muito melhor o Brasil e o idioma português que os venezuelanos.

Por outro lado, a quantidade de argentinos já vivendo no Brasil, há muito tempo, é muito grande. Já existe uma rede de acolhimento dos argentinos no Brasil funcionando. O tamanho do Brasil também facilita. Não existe uma concentração de argentinos em um único lugar. Eles se dispersam por todo o território brasileiro. O que facilita muito a integração.

A quantidade de venezuelanos emigrando para o Brasil, no momento, é bem maior que os argentinos. No entanto, a sua situação é bem mais difícil. A situação econômica do país é bem pior. A Venezuela já perdeu a sua moeda, o Bolivar. Tudo é comercializado em dólares. Agora está vivendo uma dura inflação em dólares. A Argentina caminha para a mesma direção. Logo o peso não terá valor algum. A Argentina tem uma longa tradição de fazer as negociações em dólar. Na fronteira brasileira, já é muito comum se aceitar o real. Alguns produtos já custam na Argentina a metade que no Brasil, por causa da explosão do dólar no mercado paralelo. Um exemplo são os combustíveis. Lá os combustíveis custam a metade. Os brasileiros, que vivem na fronteira, preferem ir à Argentina, apesar de toda a burocracia, para abastecer os seus veículos. Isso já aconteceu muitas vezes no passado, quando existia um desalinhamento entre as moedas. O contrabando nas fronteiras entre o Brasil e a Argentina está muito intenso. Apesar do Mercosul existir há mais de 30 anos, a integração econômica entre o Brasil e a Argentina ainda é pequena. Mas, já foi maior.

Existe a possibilidade de integração maior entre as duas economias. Só é preciso que ocorra uma mudança política na Argentina, ou no Brasil. O que é muito provável nas eleições presidenciais argentinas em 2023. Mas antes vão acontecer as eleições presidenciais brasileiras em outubro no ano que vem. O Partido Peronista, que está no poder na Argentina, sonha com a volta do PT ao poder no Brasil. Pois o PT fazia grandes doações de recursos para a Argentina e a favorecia nos acordos entre os dois países. O objetivo era o fortalecimento da esquerda na América Latina. Durante um longo tempo do PT no poder, o Brasil teve um alinhamento com vários países esquerdistas na América Latina: Cuba, Venezuela, Bolívia e Argentina. O objetivo era claro: fortalecer os partidos de esquerda na América Latina. O que levou uma destruição de vários países. O melhor exemplo é a Venezuela. Isso facilitou muito a subida ao poder do Bolsonaro e a queda do PT. Lula participava diretamente das campanhas eleitorais na Venezuela. Essas peças publicitárias estão disponíveis na internet.

Quando Bolsonaro subiu ao poder, o presidente da Argentina era Mauricio Macri. Um empresário argentino que prometia grandes reformas na economia. Fez muito pouco e perdeu as eleições para Alberto Fernández do Partido Peronista em 2019. A epidemia facilitou a implementação de estratégias esquerdistas de controle de circulação da população. O confinamento foi muito duro lá. As pessoas eram proibidas de saírem de casa. Para tudo se precisava de autorização do governo. Isso levou uma derrocada da economia da Argentina. A maioria das empresas quebraram. Muito das empresas estrangeiras saíram da Argentina. O desemprego e a miséria aumentaram muito. As comparações entre a Argentina e Venezuela passaram a ser inevitáveis. Ficou evidente que essa destruição da economia é uma forma dos partidos de esquerda tentarem se perpetuarem no poder.

O que os argentinos, que emigram, sentem quando chegam ao Brasil é a sensação de liberdade. Podem andar para qualquer direção sem serem molestados pela polícia. São bem acolhidos pelos brasileiros e conseguem encontrar emprego com relativa facilidade. O principal objetivo é dar um futuro para os seus filhos. Sentiam que não tinham mais futuro na Argentina. Deixaram tudo para trás e emigraram para o Brasil em condições bem desafiadoras.

O interessante é que países que tiveram um longo período de governos de esquerda, como a Rússia e a Polônia, não querem mais saber de esquerdismo, comunismo ou qualquer governo de expressão similar. Enquanto isso, na América Latina ainda existem partidos de esquerda no poder. Países como Cuba, Venezuela e Argentina, que os habitantes tentam fugir da forma que conseguem. Hoje, todos esses horrores estão disponíveis na internet. E mesmo assim, os latino-americanos ainda votam em partidos esquerdistas. Os argentinos não conseguem explicar o motivo que votaram no peronismo, em 2019, sabendo no que iria dar.

Os sul-americanos (paraguaios, bolivianos, peruanos e até venezuelanos) que procuraram refúgio na Argentina não sabem o que fazer. Estão vendo os argentinos emigrarem para o Brasil e não conseguem acompanhar. O mais provável é que a emigração dos sul-americanos aumente muito para o Brasil, de diversas formas, através da imensa fronteira do Brasil, com os diversos países da América Latina, nos próximos anos.

A recepção dos argentinos no Brasil é muito boa. A facilidade de se legalizarem no país é grande, por causa dos acordos do Mercosul. O maior obstáculo é a língua. O português é uma língua difícil para os hispano-falantes. Mas aos poucos os imigrantes começam a dominar o português. A grande maioria dos brasileiros só fala português. Para interagir com os brasileiros é preciso dominar o português. Por outro lado, os brasileiros vão precisar aprender o espanhol. A integração do Brasil com os países da América Latina vai aumentar bastante nos próximos anos. O governo Bolsonaro está construindo duas rotas bioceânicas, ligando portos brasileiros com portos no Pacífico. Uma no Sul, ligando os portos de Paranaguá e Santos com o porto de Antofagasta, no Chile, passando pelo Paraguai e a Argentina. A segunda no Centro-oeste, passando pelo Acre e chegando ao Peru. Na realidade estas estradas já existiam. Mas estavam em condições precárias e tinham pouca capacidade. No final do ano que vem, elas já estarão prontas. O comércio internacional já poderá aumentar bastante. As condições políticas ainda não são plenamente favoráveis. Mas estando as estradas brasileiras em boas condições o comércio entre os países, latino-americanos e o Brasil, já vai aumentar. Até pela facilidade de circular através do Brasil e a capacidade dos portos brasileiros. Quando as condições políticas de integração forem mais favoráveis, o comércio entre os países da América Latina vai explodir.

Os latino-americanos que chegam no Brasil geralmente são muito qualificados. São pequenos empresários que viram os seus negócios falirem. Ou pessoas com nível universitário que perderam os seus empregos. Muitas vezes, no Brasil, só conseguem emprego em posições que exigem pouca qualificação. Como estão em situação muito difícil aceitam. Com o tempo vão conseguir subir na escala econômica muito rapidamente, principalmente quando o seu português melhorar. O Brasil vai ganhar muito com essa mão de obra qualificada. O que vai acelerar o seu crescimento econômico, num primeiro momento. Depois esses novos imigrantes serão uma ponte de comunicação com os seus países de origem e com outros países hispano falantes, facilitando o crescimento de toda a América Latina.

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