O aumento das taxas de juros

Por César Graça

O Banco Central está aumentando a taxa de juros, para tentar controlar a inflação. É um movimento normal. É evidente que isso vai reduzir o crescimento da economia. Mas é necessário. Hoje, temos uma Selic, taxa básica do Banco Central, abaixo da inflação. Isso incentiva as pessoas a gastarem. Muita gente está fazendo investimentos imobiliários para ter algum rendimento real. Isso vai derrubar o preço dos imóveis. Não existe salário para pagar os aluguéis desses imóveis ou assumir as parcelas dos seus financiamentos. É uma bolha imobiliária que está se formando.

Os ajustes na economia já começam a ser feitos. O consumo, a cair. Os preços dos supermercados também. A economia, a fazer os autoajustes. É um movimento natural. O juro para consumo está muito alto. Um exemplo são as taxas cobradas pelo financiamento do cartão de crédito. Os juros dos financiamentos imobiliários estão subindo. O que levará a um aumento das parcelas. Em consequência, a inadimplência. Uma consequência natural do aumento da taxa de juros do Banco Central.

A economia brasileira está retomando lentamente depois dos lockdown. Já está gerando empregos, mas são de baixo valor. Poucos empregos novos de alto salários estão sendo gerados. Os melhores empregos, no setor privado, estão acontecendo no setor exportador do agronegócio. Que é o setor mais ativo da nossa economia. Consequência do desenvolvimento de novas tecnologias de produção e distribuição agrícolas. Só que isso está acontecendo no Brasil profundo, não nas grandes cidades do litoral. Nelas a crise deve continuar por mais tempo.

O Brasil desenvolve novas tecnologias de melhora da produção agrícola há muitas décadas. Uma delas é o plantio direto. Que é o plantio em cima da palhada, sem revolver a terra. Isso preserva a natureza, melhora muito a produtividade e possibilita a produção de duas safras por ano. Em alguns lugares já é possível fazer até três safras por ano, sem irrigação.

É evidente que se tivesse irrigação, a produtividade aumentaria ainda mais. O problema é a capitalização do setor agrícola, que ainda é baixa. O agricultor precisa procurar o caminho dos projetos mais rentáveis. Que são os que consomem poucos recursos e dão melhores resultados. Os juros para os investimentos ainda são muito raros e caros para os agricultores. As linhas bancárias existentes são mais para curto prazo.

A maior parte dos recursos financeiros, no Brasil, vai para financiar o déficit do governo. O corte dos gastos do governo ainda foi muito modesto no governo Bolsonaro. O Congresso Nacional se opõe à privatização das estatais, pois elas ainda são uma fonte de receita dos congressistas.

Em compensação, o agronegócio caminha a passos largos. Principalmente, agora com as commodities agrícolas no pico de preços. A lucratividade está muito alta, apesar do aumento dos preços dos insumos: adubo e defensivos. A China está com sérias dificuldades em produzir energia elétrica. A sua principal fonte é o carvão, que é muito poluente. Ela tentou reduzir o consumo de carvão, para reduzir a poluição, sem muito sucesso. O resultado foram apagões em algumas regiões. O que levou o governo chinês a parar algumas fábricas, por falta de energia elétrica. Entre elas, algumas que produziam insumos agrícolas para exportação.

Com a subida dos preços, os insumos agrícolas ficaram muito atrativos para serem produzidos no Brasil. No passado, muitas fábricas de adubos foram desativadas por falta de competitividade com os adubos importados. Agora chegou o momento de fazer grandes investimentos em fábricas de adubos e defensivos no Brasil, como a China fez no passado. O Brasil já tem uma grande escala de consumo. Isso ajuda muito. A infraestrutura de transporte melhorou muito nos últimos dois anos e meio. Os projetos de modernização da infraestrutura continuam. Muitas estradas de ferro estão em construção. Algumas ficarão prontas nos próximos cinco anos. Por outro lado, o Brasil está fazendo grandes investimentos para a produção de energia elétrica. O risco de apagões foi um duro alerta para o governo Bolsonaro em 2021. Novos e grandes investimentos no setor de produção de energia elétrica precisam ser feitos. O que torna as futuras fábricas de insumos agrícolas extremamente atrativas, para atender a demanda interna e as exportações. Existe um grande mercado para elas.

De dificuldade em dificuldade, o agronegócio vai crescendo e ampliando as suas fronteiras. Há dois anos, as restrições das estradas era o principal gargalo. Muitas estradas foram asfaltadas, outras recuperadas. Agora os portos do Arco Norte exportam grãos na mesma quantidade e a um custo mais baixo, que os portos do sul e sudeste. O que levou a uma melhora da eficiência do sistema portuário. Esse processo continua. Não parou.

O aumento da taxa de juros vai redirecionar a economia brasileira do consumo, para a produção. Esse movimento vai criar empregos de melhor salário no interior do Brasil e nos portos, não nas grandes cidades do litoral. Que vão sofrer com a crise econômica atual mais tempo, principalmente agora, com o aumento das taxas de juros.

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