Eleições na Argentina (II)

Foto: Reprodução

Por Cesar Graça

No domingo, 14 de novembro, houve eleições de meio mandato na Argentina. O resultado, como o esperado, foi uma grande derrota para o atual governo peronista. Os próximos passos serão decisivos para um transição de poder. A situação econômica, social e política da Argentina é muito delicada.

Os regimes socialistas (comunistas) estão muito fragilizados no mundo inteiro. Na América Latina, eles ainda guardam um pouco de poder, mas estão se esfarelando. Para nós brasileiros, a importância do momento é muito grande. O tamanho da Argentina é significativo. São 45 milhões da habitantes. É o principal parceiro do Mercosul. Temos uma fronteira muito grande com a Argentina.

Por causa da situação difícil, muitos dos seus habitantes estão emigrando para o Brasil. Esta emigração só não é maior, por causa das restrições de circulação por lá. O governo argentino implementou um duro lockdown. Até para sair de casa era preciso de um motivo e uma autorização. As fronteiras terrestres, da Argentina, foram fechadas. Bem ao contrário do Brasil. Só agora as fronteiras começam a serem abertas, mas ainda de uma forma bem gradual e seletiva. As fronteiras terrestres com o Brasil ainda continuam fechadas para os argentinos. Não para os brasileiros fazerem turismo lá.

Os resultados da epidemia foram muito semelhantes ao do Brasil; em termos de contágios, internações e mortes. Para o controle da epidemia, as restrições de circulação foram inúteis. No entanto, para economia o resultado do lockdown intenso e prolongado foi desastroso. A queda do Produto Interno Bruto (PIB) foi mais que o dobro que no Brasil. A situação econômica da Argentina é extremamente crítica. Está sem nenhum crédito no mercado financeiro internacional. Literalmente, ela deu o calote das suas dívidas mais uma vez. Algo muito comum. Agora está renegociando, com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O Brasil já teve vários períodos de renegociação das dívidas com FMI. Isso ficou no passado. Hoje, já aprendeu as duras lições. A Argentina ainda não.

O governo não para de emitir pesos, a moeda argentina. A inflação oficial está por volta de 50% ao ano. A moeda lá, de fato, é o dólar, que atualmente está sendo negociado a 100 pesos no mercado oficial e 200 pesos no mercado paralelo. É muito provável que essa distância aumente ainda mais. O que intensifica a crise econômica.

Recentemente, a Argentina abriu as suas fronteiras terrestre para a entrada de estrangeiros, mas não ainda para a saída dos argentinos. Os argentinos só podem sair oficialmente através de voos. Que ainda são poucos e muito caros para os argentinos. Existe uma previsão de várias companhias aéreas estrangeiras voltarem a operar na Argentina. Algumas, brasileiras. Hoje, a maioria dos voos são da Aerolíneas Argentinas, uma empresa estatal, que cobra o preço que quer. A maioria dos argentinos saem da Argentina de forma ilegal. Quando chegam ao Brasil, facilmente conseguem fazer os documentos brasileiros e passam a viver legalmente no Brasil.

Para os brasileiros que vão fazer turismo lá, os preços dos bens e serviços estão muito atraentes. Por exemplo, os combustíveis custam a metade que no Brasil. Isso já aconteceu no passado. O resultado foi uma avalanche de brasileiros indo fazer compras na Argentina e o aumento do contrabando da Argentina para o Brasil. É muito provável que isso ocorra novamente. A crise na Argentina vai acelerar o processo de integração entre os dois países. O que vai ser um modelo para toda a América Latina.

O Brasil já teve fases anteriores de receber fortes imigrações. Hoje, vivem no Brasil mais de um milhão de bolivianos. Dez por cento da população da Bolívia. E menos de meio por cento da população brasileira. Resumindo, o tamanho do Brasil facilita o processo de recepção de imigrantes. A última onda de imigração foi dos venezuelanos, que ainda continua. O Brasil montou estruturas de acolhimento em Pacaraima, em Rondônia. O que facilitou muito. O presidente Bolsonaro já está falando em montar estruturas de acolhimento para os argentinos. Sabe que o processo ocorrerá. A experiência com os venezuelanos será muito útil.

A emigração dos argentinos será mais fácil. As distância são bem menores. A Venezuela faz fronteira com Roraima. Um estado com uma população bem pequena e situado no norte do país, bem longe das regiões sul e sudeste. Mais desenvolvidas e com capacidade de absorver mais imigrantes. A Argentina está bem mais perto. Faz fronteira com a região sul. E já existe uma grande quantidade de argentinos vivendo no Brasil. O que não acontecia com os venezuelanos. A integração com a Venezuela era bem pequena antes da crise.

Os argentinos que emigraram, para o Brasil, há muito tempo, e os brasileiros que vivem na Argentina estão numa situação privilegiada. Conseguem entender a diferença entre as duas culturas e se comunicam nas duas. Serão os agentes de transformação. Existe vários exemplos, nas redes sociais, de estruturas de acolhimento de argentinos no Brasil, geralmente montadas pelos argentinos.

O crescimento econômico do Brasil, no ano que vem, será um atrativo a mais. O desemprego deve cair um pouco no Brasil. O que vai facilitar a integração econômica dos argentinos. Vai existir uma grande quantidade de empregos disponíveis. Os argentinos, em geral, tem uma educação bem melhor que a brasileira. Isso facilita a integração. A barreira será a língua. Apesar de muitos argentinos já terem visitado muitas vezes o Brasil. As praias brasileiras são muito admiradas pelos argentinos. Mas visitar é uma coisa, viver é outra.

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