A Argentina depois das eleições

Foto: Reprodução

Por César Graça

No dia 14 de novembro, a Argentina realizou eleições de meio mandato. Renovou metade dos deputados federais e um terço dos senadores. A queda do Partido Peronista foi brutal. Perderam o controle do Senado. Na Câmara o poder está dividido. A situação tem 118 deputados e a oposição 116. O grande vencedor foi a frente Juntos pela Mudança, que incluiu o ex-presidente Mauricio Magri. O governo para conseguir qualquer coisa vai precisar de votos da oposição. Isso nunca tinha acontecido antes, enquanto o Partido Peronista tinha estado no poder.

A reação do Partido Peronista foi surpreendente: ele comemorou a derrota, dizendo que tinha sido uma grande vitória. O que pegou todo o mundo desprevenido. Ninguém esperava essa contundente fuga da realidade. Os eleitos assumem em dezembro.

É evidente que governar desta maneira, durante dois anos, será muito difícil, quase impossível. A situação é cada vez mais explosiva. Quando é que vai explodir, essa é a questão. É evidente que um fato político qualquer pode ser o estopim. Os olhos do mundo estão observando a América Latina. Agora não é só Cuba e Venezuela que estão numa situação econômica muito difícil. A Argentina também se somou ao bloco. A boa situação econômica do Brasil é um grande contraste. A sua situação de liderança na região é evidente. A Europa e os Estados Unidos fingem que não veem o Brasil cada vez mais forte. É algo que não esperavam. Essa liderança do Brasil incomoda muito. Logo voltará a estar entre as dez maiores nações do mundo. Algumas previsões o colocam entre as cinco maiores nações do mundo em pouco tempo. Isso incomoda muito as nações europeias que estão saindo da posição das dez maiores economias do mundo. Não só China e Índia estão crescendo, o Brasil também está. Os países do Bric estão crescendo e aumentando o seu poder.

A situação da Argentina está piorando a cada dia. A economia argentina é muito parecida com a brasileira. Ela é uma exportadora de commodities agrícolas, assim como o Brasil. O principal produto de exportação é a soja. Só que a Argentina só exporta a soja processada. Ou seja: o farelo de soja e o óleo. A sua produção está caindo nos últimos anos. Já chegou a produzir mais de 60 milhões de toneladas de soja em um ano. Hoje tem dificuldade de manter 50 milhões. É bastante provável que em 2022 ocorra uma nova queda. O governo argentino cobra impostos muito altos do setor agropecuário. Ele o está descapitalizado. Os fazendeiros argentinos estão lutando para sobreviver.

Quando o governo peronista cair, a recuperação poderá ser muito rápida. Até lá, a agonia do regime peronista vai ser muito dolorosa. O pensamento atual, na Argentina, é esperar até a próxima eleição. O trauma dos regimes militares ainda é muito grande. Ninguém aceita mais um golpe militar. Para sair de situações extremas do governo, os brasileiros desenvolveram a mentalidade do impeachment. Se um governo não vai bem, ele força o Congresso a fazer o impeachment. Dois presidentes já foram tirados do poder: Collor e Dilma. Isso é uma conquista da população. Um método de avaliação. Na Europa e nos Estados Unidos, a população é muito mais crítica com relação aos políticos e ao estado. Essa troca de liderança é muito mais rápida. Na América Latina esse processo ainda está em construção. É lento e doloroso.

Os Argentinos sempre tiveram uma boa relação com a Europa. Principalmente com a Espanha e com a França. Os brasileiros admiram mais os Estados Unidos. Por causa do tamanho do Brasil, as emigrações dos brasileiros para os países ricos são bem menor. Morar no exterior não é uma saída para muitos. Por esse motivo os brasileiros enfrentam o governo e as elites que dominam os governos. Esse processo crítico acelera a evolução política. Um país que está no outro extremo é o Uruguai. A população do Uruguai não cresce a sua população há décadas. A única saída dos jovens é emigrar. Como a sua população é pequena essa saída é viável. Quando um estrangeiro entra no Uruguai pela primeira vez sente um choque. Lá tudo é velho. Todos os funcionários públicos são velhos. As construções são velhas. Tudo demonstra uma grande estagnação. Lá a velocidade das transformações é bem lenta.

O turismo é a principal indústria. Um turismo voltado para os argentinos e brasileiros ricos. Ele tentou copiar o exemplo da Suíça. Com a crise no Brasil e agora na Argentina, o Uruguai também entrou em crise. O que levou o Uruguai a se ligar mais ao Brasil e ao governo do Bolsonaro. O que deixa o governo peronista da Argentina cada vez mais isolado. Só restam os parceiros comunistas: Cuba, Venezuela etc.

A sensação que passa é que todos os governos de esquerda vão cair ao mesmo tempo. Por pura falência econômica. Um sustentava o outro. Um exemplo são os médicos cubanos no Brasil. Que era uma desculpa para o governo brasileiro mandar dinheiro para a elite do partido comunista de Cuba. Durante a época do PT no poder, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fez vários empréstimos a países comunistas. Todos esses empréstimos não foram pagos. No entanto, esses países fizeram doações para os dirigentes do Partidos dos Trabalhadores. Esse esquema de desvio de recursos público está vindo à público nas cortes da Europa e dos Estados Unidos. Com Bolsonaro no poder os cofres do Brasil foram fechados para os governos de esquerda na América Latina. Sem um financiamento externo esses regimes comunistas na América Latina não se sustentam. Resta a eles a esperança de que Lula volte ao poder no Brasil. Esse é o motivo que o PT tem tanta admiração na América Latina. Na Europa, os comunistas tentam dar sustentação ao PT. Lá, a reação aos governos comunistas da América Latina também começa a crescer.

Na Europa aconteceu algo muito parecido com a situação atual da Argentina. O colapso da União Soviética em 1989. Um país após o outro foi saindo do bloco comunista. O fato mais marcante foi a Queda do Muro de Berlim. Foi um evento muito rápido, em poucas horas as fronteiras entre Berlim e Alemanha Oriental não existiam mais. Foi o final de uma era. Para alguns, o final da 2ª Guerra Mundial. Para outros, o da 1ª Guerra. Para todos, o início de uma nova era. Para os europeus, mais um passo a mais na integração. Para os russos, o final do comunismo foi um grande alívio. A transição não foi fácil. Agora na era Putin, eles gozam uma melhor qualidade de vida, que na era soviética. Lembram a União Soviética como um grande pesadelo. Agora, se voltam à era dos czares com saudosismo. Putin virou um czar.

Para os brasileiros, a experiência comunista do PT foi curta. Só, 13 anos. Para os russos não. Durou mais de 70 anos e foi muito traumática. Para muitos latino-americanos a experiência comunista foi muito dolorosa. Cuba é o pior exemplo. Já são mais de 60 anos vivendo sob o comunismo. A miséria da população é enorme. A repressão policial aumenta cada vez mais. A Venezuela também vive uma realidade semelhante. A sua economia está muito fragilizada. O pouco petróleo que produz já está todo vendido e a receita, que consegue, paga empréstimos feitos. A única receita garantida vem do narcotráfico, controlado pelo governo. Os argentinos veem o caminho que estão seguindo e ficam desesperados. Ficar esperando as próximas eleições presidenciais que só vão ocorrer em 2023 parecer ser um futuro muito distante.

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