Quebra da safra

Safra soja 2020. Fotos:Jaelson Lucas / AEN

Por César Graça

O clima foi muito adverso com a safra 2021-2022. No Sul seca, no Centro-oeste e Nordeste chuvas intensas. O Sul foi a região mais atingida. A queda na produtividade, em algumas áreas, foi muito grande. Em outras, a produção foi quase normal. Já no Centro-oeste as perdas com as chuvas foram menores. No Nordeste a quebra da safra foi bem menor. Vai ser necessário esperar até a final da colheita da primeira safra de verão, lá para o final de março, para se conseguir ter uma boa ideia das perdas.

Fazia tempo que o Brasil não tinha um clima tão adverso na primeira safra de verão. Apesar da safra 2020-2021 ter tido lá os seus percalços. Ela tinha começado atrasada, pois as chuvas de primavera atrasaram. A safrinha também foi plantada atrasada. Faltou chuva no final e ocorreu uma forte geada no início do inverno, que atingiu duramente o milho e a cana-de-açúcar. O preço do milho explodiu. Foi necessário fazer grandes importações de milho. Por outro lado, a produção de açúcar e álcool combustível caiu bastante.

Agora, o que foi mais atingido foi a soja. Como o valor da soja é maior que o milho, em média 2,2 vezes maior, o impacto na economia vai ser maior. É inevitável. A compensação é o aumento dos preços no mercado internacional. O Brasil é o maior produtor de soja, produziria 145 milhões de toneladas, em 2022, de um total de 380 milhões de toneladas, quase 40% da produção mundial. O segundo produtor é os Estados Unidos com 120 milhões, um pouco mais de 30%. O terceiro é a Argentina com 45 milhões, ao redor de 12%. O Brasil e a Argentina juntos produzem mais de 50% da safra mundial de soja.

Hoje, não existe estoques mundiais suficientes para compensar a quebra da safra de soja da América do Sul. A consequência inevitável é um aumento forte dos preços. O mercado internacional está muito nervoso. Pois ainda não se sabe o tamanho da quebra da safra. O comércio internacional travou. Os compradores aumentaram um pouco o valor da soja, mas os agricultores não querem vender. Existe um impasse. Aproximadamente 50% da safra de soja brasileira, que está sendo colhida, já foi vendida.  O que é um nível baixo. O normal era algo em torno de 70%. A maioria dos agricultores brasileiros, que plantam soja, estão com bastante reservas. As últimas safras foram bastante lucrativas. Logo em seguida a colheita da soja, começa o plantio do milho, do algodão e de outras culturas na safrinha. Como a soja, nesta safra, foi plantada no cedo existe a expectativa de uma boa safrinha, principalmente de milho.

O pensamento dos agricultores brasileiros é colher a soja e plantar o mais rápido possível a segunda safra de verão. Como os estoques estão baixos, existe espaço para armazenar a soja ainda não vendida, pelo menos até maio-junho, quando começa a colheita da safrinha e a safra norte-americana ainda não foi colhida. Os agricultores estão apostando que o preço da soja vai subir bastante neste primeiro semestre. Por isso estão retendo a soja.

O comportamento do mercado é bastante exagerado. Só, que dessa vez, vai ser mais exagerado ainda, pois, foi pego desprevenido. O maior comprador de soja é a China. É ela que mais vai sofrer com o aumento dos preços da soja. E como a China tem um governo muito centralizador, não seria estranho que o governo chinês tenha intervindo e sugerido mais cautela às empresas compradoras de soja. A China deve ter algum estoque. Não deve ser muito, mas o suficiente para esperar algumas semanas. Os estoque nos Estados Unidos são pequenos. Qualquer medida que a China tome vai mexer muito rapidamente com os preços. Os passos que ela está tomando, neste momento, são muito cuidadosos. Muito ao estilo chinês. O que vai refrear a subida dos preços, pelo menos, nas próximas semanas. Só que essa estratégia é de curto prazo. Quando ficar evidente que as perdas na safra de soja e de milho da safra de verão foram grandes na América Latina, a China vai comprar em grandes quantidades e os preços vão subir. Não só da soja, mas de vários grãos, principalmente do milho e do trigo.

Existe uma boa chance que os preços da soja venham a bater todos os recordes. Pois estamos num momento de alta do ciclo de preços de sete anos. O Brasil aumentou a área plantada. O mercado esperava uma safra brasileira de 145 milhões de toneladas. Com um clima favorável era possível que a safra passasse de 150 milhões de toneladas. E que a safra da América do Sul passasse das 200 milhões de toneladas.

O clima, no entanto, foi extremamente severo. Como poucas vezes acontece. As primeiras previsões oficiais de queda da safra de soja na América do Sul apontam uma quebra de 5%, 10 milhões de toneladas. Os especialistas acham muito pouco. Preveem algo entre 10 a 20%, ou seja, de 20 a 40 milhões de toneladas. O que significa de 5 a 10% da produção mundial. No entanto, podem até ser maiores. Perdas desse nível têm um grande impacto nos preços de commodities agrícolas. O que pode elevar os preços da soja para o patamar de 16 a 18 dólares o bushel.  O que vai mexer com os mercados de proteína no mundo inteiro. Pois a soja é a base de várias rações, para alimentação animal.

Para o Brasil será muito bom. Vai aumentar bastante o valor das nossas exportações, apesar da queda do volume embarcado. E vai criar, no longo prazo, um movimento de aumento da nossa produção agrícola e de proteína animal. Pois as exportações passarão a ser extremamente rentáveis. Em função dos investimentos feitos em infraestrutura nos últimos três anos, o Brasil pode aumentar com facilidade a área plantada na próxima safra. O que vai criar uma onda de investimentos na nossa economia. Isso num ano de eleições presidenciais.

É evidente que com tempo os preços das commodities agrícolas vão cair um pouco, mas não muito. O que está acontecendo é o crescimento do poder aquisitivo dos chineses. Eles estão incluindo mais proteína animal na sua dieta. Isso beneficia muito a economia brasileira, que produz proteína vegetal e animal para exportação.

Só que o crescimento da exportação brasileira de proteína não vai ficar só na onda chinesa, logo vai começar a onda indiana. Os indianos também vão melhorar as suas condições de via e importar mais alimentos. Com o somatório dessas duas ondas, o crescimento da economia brasileira vai ser muito intenso.

O Brasil desenvolveu várias tecnologias que aumentam muito a capacidade de produção alimentos, principalmente grãos. Talvez, a que mais se destaca é a capacidade de produzir três safras num mesmo ano, numa mesma área. Com isso toda a estrutura de produção fica ativa o ano todo. Não só na fazenda, mas em toda a economia. O que reduz muito o custo fixo. Pois ele vai ser diluído por três safras ao longo do ano. Isso barateia muito o custo de produção.

Outro ponto importante é tamanho do Brasil. Ele produz alimentos em várias regiões, dentro de um espectro muito grande de latitudes, do Rio Grande do Sul até o Amapá, o que dá muita confiabilidade. Quando uma região sofre uma forte seca, como o que está acontecendo agora, outra produz normalmente.

Para os consumidores dos produtos brasileiros é muito importante isso. Terão certeza de receberem os produtos brasileiros ao longo do tempo. Comida é um bem de primeira necessidade. O fornecimento não pode sofrer cortes abruptos. Como fazem frequentemente a Rússia e os Estados Unidos, que usam as exportações agrícolas como ferramenta política.

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