Por Sérgio Nunes, professor de educação física, personal trainer, especialista em atividade física, saúde e qualidade de vida.
Quando aprendemos algo novo, cognitivo (mental) ou motor, as células neurais se transformam para codificar essa nova informação. Fisicamente esse novo estímulo é capaz de transformar parte do cérebro. Nosso cérebro é plasticamente moldável, ou seja, pode ser modificado por um estímulo externo suficientemente adequado, modulado para determinada situação e continuadamente aplicado. Similaridade com nossos músculos que podem ser esculpidos através de um programa frequente de exercícios corporais.
O conceito de plasticidade é fundamental para entender como o cérebro funciona. Tudo o que pensamos e sentimos é governado pela forma como nossas células cerebrais (os neurônios) se conectam umas às outras. O neurônio é parecido com uma árvore, que ao invés de folhas possui dendritos (ramos) que é onde ocorrem as sinapses (ligações) ou os estímulos elétricos que conduzem sinais. Quanto mais locais para ocorrerem ligações, maior será a nossa capacidade neural. E a medida que damos novos estímulos de aprendizagem – sejam elas motoras ou cognitivas -, novos ramos acabam “brotando” proporcionando mais opções para novas ligações. Assim nosso sistema nervoso central e periférico é capaz de se modificar e aprimorar frente às novas situações cotidianas e inclusive em situações que se relacionam aos processos degenerativos ou decorrentes de lesões.
Situações práticas diárias podem ser desenvolvidas para conseguirmos utilizar as adaptações da neuroplasticidade em sua plenitude. Fatores como alimentação, atividades cognitivas (ler, escrever, desafios mentais, resolver problemas, criatividade), meditação, ambiente social, atividades diferentes (aprender coisas novas), dormir bem e o exercício físico são elementos que estimulam e afetam esse fenômeno. E dentre esses, o fator mais importante para estimular a neuroplasticidade é a prática de exercícios físicos. Ele atua potencializando a liberação de uma cascata de substâncias (hormônios e neurotransmissores), já bastante explorado em artigos anteriores. E nenhum medicamento é capaz de mimetizar (imitar) ou copiar o que o movimento corporal é capaz de produzir no sistema nervoso. O processo além de complexo é muito delicado e refinado. Isso tem relação direta com uma substância chamada BDNF ou fator de crescimento neurotrófico cerebral. Uma molécula que estimulada por hormônios produzidos pelo exercício físico, protege a estrutura nervosa do cérebro e estimula o desenvolvimento dos dendritos (ramos), estrutura dos neurônios que estabelecem conexões com outros ramos de muitos outros neurônios. Aumentando a disponibilidade de diferentes e novas conexões. Novos caminhos e novas possibilidades! Justamente por isso o movimento corporal é fundamental para a plasticidade cerebral.
O incrível nisso tudo é que esse aumento dos mecanismos celulares e sinápticos da plasticidade neural promovidos pelo exercício físico além de contribuir para efeitos incríveis no enriquecimento motor e cognitivo (intelecto), ainda é capaz de reduzir a degeneração, promover a recuperação funcional em cérebros lesados e ainda modular a depressão.
Importante entender como esse processo ocorre e quais fatores o colocam em ação pode ajudar a entender melhor problemas como a perda de memória relacionada à idade e até prevenir doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer. O cérebro médio contém cerca de 100 bilhões de células, a maioria das quais foi formada antes do nascimento. Novas células continuam a surgir e a crescer em grande quantidade, em um ritmo acelerado, na primeira infância. Com o passar dos anos, a neurogênese (formação de novas células nervosas) diminui gradualmente, mas o processo não para, nem mesmo durante a velhice. E podem ser estimulados com maior intensidade. Fatores neurotróficos ajudam a estimular e controlar esse processo e o BDNF (fator de crescimento neurotrófico cerebral) é o mais importante. E sua estimulação acontece através do movimento corporal!!
Portanto… está esperando o quê?
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