3º Ponto de Inflexão

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© Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Por César Graça

O Brasil está vivendo um momento de grandes transformações. Um dos motivos é a reeleição do presidente Bolsonaro. A oposição achava que a eleição do Bolsonaro, em 2018, teria sido um descuido. Que, com uma boa campanha política, ela poderia voltar ao poder. A epidemia reforçou as esperanças dos esquerdistas.

Só que os resultados que o governo Bolsonaro conseguiu, com a pandemia e tudo mais, foram muito semelhantes à dos outros países. Inclusive os países mais desenvolvidos. Isso apesar da campanha negativa promovida pela imprensa convencional.

O grande esforço do governo Bolsonaro foi equilibrar as necessidades de ações sanitárias com a preservação da economia. Esse cuidado foi menosprezado pela maioria dos governos de esquerda. Principalmente de alguns presidentes de outros países da América Latina. O lema, desses países, foi: focar na epidemia e a economia vamos ver mais tarde. O resultado foi um desastre para a economia desses países.

No Brasil, agora que a pandemia já foi controlada e a população aprendeu a conviver com ela, a economia ressurge com muita força. Bem ao contrário da maioria dos outros países, principalmente os socialistas. A Argentina adotou o padrão de severas restrições de circulações. A queda da economia foi abrupta. A retomada está bastante fraca. A inflação disparou. As condições de vida após a epidemia são bastante precárias. O contraste da situação da economia brasileira com a argentina é gritante.

Só que não é só com relação à economia argentina, que a economia brasileira está num estado muito melhor. Com relação à economia dos países mais desenvolvidos, a situação brasileira também parece muito melhor. Lá a inflação ainda está crescendo. As medidas para baixar a inflação só, agora, começam a ser tomadas. O Brasil já começou a aumentar as taxas de juros há quase um ano. Neste momento, no Brasil, os juros básicos já estão bem acima da inflação. O caminho agora é o inverso, baixar as taxas de juros, para juros reais menores, pois a inflação já caiu.

Apesar da subida das taxas de juros, a economia não chegou a entrar em recessão. O crescimento foi de quase 5% em 2021 e ficará entre 3 e 5% e em 2022. O que, para os padrões atuais, é um ótimo crescimento.

Esse crescimento está apoiado nas exportações, principalmente as agrícolas. Cujo desenvolvimento está ligado ao aumento da produtividade. A maioria dos países desenvolvidos subsidiam a sua agricultura, principalmente a Europa e o Japão. A agricultura brasileira recebe alguma ajuda do governo é verdade, mas não é muita. O que melhorou muito a atratividade da agricultura brasileira, nos últimos anos, foi a desvalorização do real e a briga do ex-presidente Trump com os chineses. Pois os produtos agrícolas norte-americanos, neste período, sofriam uma taxação de 20%, que os brasileiros não sofriam. Isso aumentou muita a demanda de soja brasileira pelos chineses. Com esses dois estímulos, a agricultura brasileira deu um grande salto.

Agora, com a Guerra da Rússia x Ucrânia, a oferta de grãos no mercado mundial caiu bastante. A crise financeira está mascarando um pouco a falta grãos no mercado. A aplicações dos especuladores no mercado de commodities diminuiu bastante. A atratividade das especulações caiu. Com o aumento das taxas de juros o risco dessas operações aumentou bastante.

Até outubro, de 2022, já teremos uma melhor ideia do tamanho da safra norte-americana e da política do FED (Banco Central dos Estados Unidos) no aumento das taxas de juros, que são as principais variáveis que estão influenciando os preços das comodities agrícolas neste momento. O mais provável é que teremos uma forte subida dos preços das commodities agrícolas. Em dois de outubro teremos as eleições no Brasil. É provável que o presidente Bolsonaro já saia vitorioso no primeiro turno.

Com isso a perspectiva da economia brasileira, para os próximos anos, já esteja bem definida em outubro. É muito provável que um novo horizonte já esteja definido. O Brasil tomará o caminho de se transformar em o maior produtor de alimentos do planeta, superando os Estados Unidos. Essa vocação vai transformar o Brasil. A sua posição entre as nações do planeta vai mudar e a sua importância vai crescer bastante.

Isso vai ser o terceiro ponto inflexão para o Brasil, um marco histórico. O primeiro foi a chegada dos portugueses à costa do Brasil em 1500. Foi uma breve estada no caminho para as Índias. O Brasil era um objetivo secundário, que gradualmente foi crescendo de valor.

O que despertou os portugueses, para a importância do Brasil, foi a competição com os franceses. Na primeira metade do século XVI tinha mais franceses no Rio de Janeiro que portugueses. Os franceses estavam vivendo a Reforma, com grandes embates. Os católicos franceses reagiram ferozmente ao movimento protestante.

Uma ideia dos protestantes franceses era fundar uma colônia no Brasil, para ter mais liberdade. Depois, essa ideia foi transportada para a América do Norte. O motivo da atração dos franceses pelo Brasil era simples. Os franceses precisavam do pau-brasil para tingir os tecidos que produziam. Vinham diretamente à costa do Brasil para obtê-lo. Montaram vários pontos de contato com os índios brasileiros. Neste momento, os portugueses estavam mais preocupados com as especiarias da Índia, pois o seu comércio era muito mais rentável que o do pau-brasil.

A presença dos franceses na costa brasileira incomodava os portugueses. Eles, de fato, questionavam a posse da terra. Da preocupação até a ação, levou um bom tempo. A gota d´água foi a instalação de um forte francês na baia da Guanabara, onde hoje é a Escola Naval, ao lado do Aeroporto Santos Dumont. Era um forte de madeira, mas era uma séria ameaça ao domínio da Coroa Portuguesa. Esse forte foi construído em 1555. Depois de 10 anos, os franceses foram expulsos e o forte foi destruído em 1565. E novamente a cidade do Rio de Janeiro foi reinaugurada, agora pelos portugueses em 1565. Até hoje é a data oficial da inauguração da cidade. Essa fase francesa foi esquecida pela história. Alguns franceses voltaram para a França, a grande maioria foi viver com os índios. Esse convívio entre franceses e portugueses continuou por muito tempo, principalmente no Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

Nos primeiros 250 anos após a descoberta, a influência indígena foi fundamental para a formação da cultura e da economia brasileira. A estrutura básica sociedade brasileira era a cultura tupi-guarani. A língua falada era a língua geral. Uma língua construída pelos jesuítas em São Paulo, na metade do século XVI, para que os índios pudessem comunicar entre si, pois falavam mais de 1.000 línguas diferentes. Toda a comunicação no Brasil era feita em línguas indígenas, faladas e escritas. O português só era falado e escrito com o trato com Portugal. O português só começa a tomar corpo com a saída dos jesuítas, já na época do Marques de Pombal na metade do século XVIII.

 

Durante todo o período colonial, que vai até 1808, muitos estrangeiros tentaram montar colônias no Brasil. Algumas foram bem estruturas, como: a Invasão Holandesa no Nordeste e outra tentativa francesa no Maranhão. Mesmo a cidade do Rio de Janeiro sofreu duros ataques de piratas franceses. Portugal empenhou grandes esforços para manter a colônia. Toda a presença estrangeira no Brasil era vista como suspeita e muitas, uma ameaça ao domínio português.

No século XVII, foram descobertas minas de ouro. E a importância do Brasil para Portugal mudou. A produção de ouro aumentou no século XVII e na primeira metade do século XVIII. Portugal passou a viver do ouro do Brasil. Era a sua principal riqueza.

Esse esforço de manter o Brasil fechado levou a criação de uma unidade, que permanece até hoje. O tamanho do Brasil com 8,5 milhões de quilômetros quadrados é uma herança portuguesa. O Brasil atual é uma nação continente.

O segundo ponto de inflexão do Brasil foi a chegada de D. João VI em 1808, fugindo das tropas de Napoleão. Pegou todo o mundo de surpresa. Os brasileiros ficaram bestializados. Logo seriam a capital do Reino do Brasil, Portugal e Algarves. Como tudo que é português começou com um faz de conta, a fuga das tropas francesas.

Na realidade, a fuga para o Brasil se tornou o projeto de D. João VI de um construir uma nova capital para o Império Português no Brasil. A partir de 1813 já não existia nenhuma tropa francesa em Portugal, mas D. João VI só volta para Portugal em 1821, com a ameaça de ser destituído do trono português.

A cidade do Rio de Janeiro foi a escolhida para ser a capital do Brasil, por causa da sua importância na exportação de ouro. Para os padrões europeus, ela uma cidade bem pequena, uns 30 mil habitantes, e pobre, tinha poucos monumentos. As suas construções eram modestas e o povo bem simples. Quase 80% da população era de negros, a maior parte escravos. A cidade viva do comércio com Portugal. As condições sanitárias eram bem precárias. As epidemias, principalmente de febre amarela, frequentes.

Com a chegada da Corte Portuguesa, essa realidade mudou rapidamente. O Rio de Janeiro virou um canteiro de obras. Toda a estrutura burocrática e cultural de Portugal foi replicada no Brasil. Algo que vai marcar profundamente as instituições brasileiras até hoje, principalmente o Poder Judiciário.

Só que essa construção sofreu muitas influências. Uma delas foi da cultura francesa. Com a queda definitiva de Napoleão, em 1815, uma grande quantidade de artistas franceses ficou desempregada. Eram os melhores artistas de França. Com o convite do governo português, dezenas deles vieram trabalhar no Brasil. Alguns só por um período, outros ficaram para sempre. Esse movimento ficou, mais tarde, conhecido como Missão Francesa.

A estética brasileira vai crescer com essa forte influência. Que vai marcar muito a arquitetura brasileira. Um bom exemplo é Brasília. É uma criação bem brasileira. Tem a influência da burocracia portuguesa, pelo seu tamanho dos órgãos governamentais. Mas a estética é uma criação local, com múltiplas influências estrangeiras.

A história gosta de marcar um ponto para definir uma mudança de rumo. Os historiadores dão um grande destaque à data de 7 de setembro de 1822, a Independência do Brasil. E dão um destaque menor à chegada da corte portuguesa no Brasil em 1808. Para nós, a grande descontinuidade ocorre com a chegada de D. João VI e o seu projeto de mudar a capital do Reino de Portugal para o Rio de Janeiro.

Como tudo na história passa a ser resumido a um ponto. O Terceiro Ponto de Inflexão do Brasil vai ser conhecido pelo 7 de setembro de 2022, bicentenário da Independência do Brasil. O Brasil vai entrar numa fase de intenso crescimento. A base vai ser as exportações agrícolas. A Guerra Rússia x Ucrânia reduziu a produção de alimentos. Somado a um ano de quebras de safras, em diversos países, em função de dificuldades climáticas.

Na realidade, a agricultura brasileira já vem crescendo a sua produtividade há décadas. Uma das suas conquistas é fazer duas safras de verão numa mesma terra, a famosa safrinha. Isso muda a capacidade de produção de alimentos no Brasil. Mas essa tecnologia não é fácil e tem os seus caprichos.

A Guerra da Rússia x Ucrânia foi um fator a mais para o crescimento da produção de commodities agrícolas no Brasil. O que ela provocou foi uma escassez generalizada de alimentos no mundo. A reação dos mercados mundiais foi aumentar os preços dos alimentos, que já estavam no pico. Com esse estímulo a mais, a produção das commodities agrícolas, no Brasil, vai crescer bastante nos próximos anos.

Isso vai ser percebido com muito espanto no mundo inteiro. Nas duas últimas safras, o Brasil sofreu grandes quebras, por causas climáticas. Mesmo assim, a produção agrícola brasileira cresceu. Com uma safra normal, sem grandes quebras, o crescimento da produção vai ser muito maior. E com os preços nas alturas, o superávit da balança comercial vai ser muito grande. Poderá ultrapassar os 100 bilhões de dólares já em 2022.

Esse crescimento econômico, do Brasil, num momento que o mundo inteiro está vivendo uma grande recessão, vai provocar um grande choque. O Brasil vai entrar na classe das dez maiores economias do mundo. Com boas chances de estar entre as cinco primeiras. Isso deve mudar radicalmente a forma como as outras nações veem o Brasil. Não só pela dependência alimentar, mas também pela diversidade de culturas que o Brasil abriga. Essa diversidade vai provocar um choque maior ainda. Pois elas vivem em perfeita harmonia. Essa é a maior riqueza do Brasil.

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