Por Sérgio Nunes, professor de educação física, personal trainer, especialista em atividade física, saúde e qualidade de vida.
“Ao explorar corajosamente, ao enfrentar o desconhecido voluntariamente, você reúne informações e constrói o seu eu renovado a partir dessas informações. Pesquisadores descobriram recentemente que novos genes no sistema nervoso central começam a funcionar quando um organismo é exposto (ou se expõe) a uma nova situação. Esses genes codificam novas proteínas. Essas proteínas são os tijolos para novas estruturas do cérebro. Isso quer dizer que muito de você é ainda nascente, no sentido mais físico possível, e não será colocado em prática pela inércia. Você precisa dizer algo, ir a algum lugar e fazer coisas para apertar seu botão de ligar. E se não fizer isso… você permanece incompleto, e a vida é difícil demais para alguém incompleto.” (Jordan B. Peterson)
No artigo anterior (https://asemananews.com.br/2023/03/03/o-contato-com-a-natureza-e-mais-saude/) fizemos um pano de fundo sobre nossa relação originária com a natureza e o distanciamento dela provocado pela vida moderna. Agora abordaremos alguns dos inúmeros benefícios em se desenvolver alguma atividade corporal em ambientes naturais.
Se você não usa seu corpo, você o perde progressivamente. Se você usa seu corpo, você o ganha e o dirige.
Na natureza tudo é dinâmico, tudo é movimento, nada fica inerte. Novas situações acontecem a todo o momento. O corpo físico e mental tem que estar desperto para toda uma enxurrada de informações sensoriais. Todos os sentidos ficam ligados! Inclusive os dois mais importantes: propriocepção e a interocepção. E não somente um ou dois daqueles cinco que aprendemos na escola! Só isso isoladamente já contribui muito para a saúde. Trocar a vida agitada e estressada – mesmo que momentaneamente – por sons, cheiros, contatos em diferentes superfícies, imagens cênicas espetaculares e ações inesperadas que acontecem na natureza não tem preço. Só respirar ar puro, exercitar-se e tomar sol podem curar ou controlar muitas doenças.
Dos muitos benefícios podemos destacar:
1 – Sol = Produção da vitamina D > Ainda que ela esteja presente em alguns grupos de alimentos (ovos, peixes e leite, por exemplo), o sol é o ativador dessa substância. Para você ter ideia, em cidades mais nubladas é comum que a população tenha deficiência dessa vitamina, então só por aí já dá para entender que a exposição ao sol, nos horários de menor risco e por períodos de até 20 minutos (e sem os bloqueadores), é fundamental. No nosso corpo, a vitamina D atua melhorando a absorção de cálcio (ossos mais fortes), além de estar relacionada à melhora de humor e à redução do risco de desenvolver câncer, doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais e diabetes. Por ser capaz de provocar relaxamento dos vasos sanguíneos, ela também melhora a circulação sanguínea e diminui a pressão arterial. Além disso a luz solar é a influenciadora na produção do hormônio melatonina, que é responsável por regular o nosso relógio biológico. Se você tem problemas para dormir cedo e acordar cedo, adivinha o que pode ser uma boa ajuda? Isso mesmo: tomar sol.
2 – Melhora do sono = maior produção de melatonina > Estudos têm mostrado que passar o tempo ao ar livre e em ambientes naturais ajuda a regular o ritmo circadiano do corpo (relógio biológico), pela maior exposição ao sol, que leva a um sono mais profundo e reparador.
3 – Uma questão de saúde mental = Redução dos estresses > Muitas vezes nem percebemos, mas vivemos tão cheios de tarefas, preocupações e obrigações que vamos, aos poucos, dando combustível ao estresse, à depressão, à ansiedade e a tantos outros males provocados pela sobrecarga de atividades. Quando a coisa fica mais grave, é fundamental procurar orientação médica e psicológica, e uma das maneiras de evitar que a situação se agrave demais é buscar uma forma de estar em maior contato com a natureza. Se a ideia é esvaziar a cabeça, procure um cenário natural e aproveite. Estudos têm mostrado que a exposição à natureza pode ajudar a reduzir os níveis de estresse. O movimento praticado em ambientes naturais teve a capacidade de reduzir o cortisol (um hormônio envolvido na resposta ao estresse) e também os batimentos cardíacos. No dia a dia, isso significa mais qualidade de vida, mais energia e um coração cada vez mais fortalecido e saudável. Passar tempo ao ar livre em ambientes naturais, como parques, florestas ou praias, pode ajudar a relaxar a mente e o corpo. Um estudo holandês revelou que passar tempo na natureza e realizar tarefas relacionadas a ela, como cuidar de um jardim ou de uma horta, é um excelente combatente do estresse.
4 – Melhor Foco = Concentração e memória aumentada > Outro efeito colateral do excesso de tecnologia e de informação é a dificuldade de concentração – são raras as pessoas que conseguem se sentar diante de um computador e realizar apenas uma tarefa. Passar um tempo em contato com a natureza, de preferência sem interferências tecnológicas, é uma ótima forma de deixar os problemas e o estresse de todo dia em segundo plano. Dessa forma, ficamos mais focados e conseguimos realizar nossas tarefas de um modo melhor.
5 – Seu cérebro agradece = Um tempo para a mente “vazia” > Por mais que nosso órgão pensante seja capaz de executar tarefas que nem mesmo a Ciência conseguiu desvendar ainda, isso não significa que damos conta de tudo. Na verdade, o cérebro também precisa de descanso. Só para ter ideia, ele necessita de 20% de toda a energia que o corpo humano produz – esse valor aumenta em até 10% quando precisamos nos focar em algum tipo de desafio mental. O fato é que mesmo quando estamos descansados, o cérebro continua trabalhando – ainda bem! Quando estamos com nossas mentes “vagando” – que acontece muito mais facilmente em contato com a natureza – o cérebro entra em um estado conhecido como “Rede Neural em Modo Padrão” (DMN, do inglês Default Mode Network, ou RMP) que é um complexo sistema de comunicação coordenada entre todas as partes dele. É o nosso piloto automático! Muitos “insights” e processos criativos acontecem nesse momento. Essa ação é fundamental durante o processo de desenvolvimento ou compreensão do comportamento humano, o que nos ajuda a entender melhor quem realmente somos. Além da concentração e da memória serem aprimoradas, as atividades ao ar livre melhoram as funções cognitivas como um todo, e também podem aliviar os sintomas de demência e Alzheimer. Nas crianças, os ganhos também são enormes: a imaginação e a criatividade ganham força, da mesma forma que os sintomas de DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção) diminuem — influenciando, inclusive, na dosagem dos remédios para combatê-los.
6 – Aumento da criatividade > A natureza também ajuda a estimular a criatividade. A exposição a novos estímulos e ambientes auxiliam a desbloquear ideias e pensamentos criativos.
7 – Melhoria do humor > A luz do sol, o ar fresco, aromas e as cores vibrantes da natureza ajudam a aumentar a sensação de felicidade e bem-estar.
8 – Aumento da atividade física > Passar tempo na natureza muitas vezes envolve atividades físicas, como caminhadas, corridas, ciclismo ou natação. Essas atividades podem ajudar a melhorar a condição física, aumentar a força muscular e melhorar a saúde cardiovascular.
9 – Fortalecimento do Sistema Imunológico e Redução de Inflamações > Muitos estudos já sugerem que a exposição à natureza ajuda a fortalecer o sistema imunológico. Acredita-se que isso é permitido porque a exposição a uma variedade de micróbios e bactérias encontradas na natureza pode ajudar a fortalecer o sistema imunológico. A famosa vitamina S (sendo o S, de sujeira) é fundamental para o nosso sistema imunológico desenvolver as suas defesas, deixando o corpo menos suscetível a diversas doenças. O simples contato com a natureza é capaz, portanto, de fortalecer o nosso organismo contra inflamações e bactérias. Outro fator importante é o cheiro da Natureza, seus óleos essenciais (fitonetos) exalados pelas plantas. Estudos mostraram que os fitonetos aumentam a atividade das células NK (natural killers) do sistema imunológico, deixando cada vez mais forte a capacidade de combater células invasoras, assim como de impedir a multiplicação de células cancerosas. Legal, né?
10 – Redução na sensibilidade à dor > As dores podem ser resultado das inflamações que acabamos de citar, mas o contato com a natureza promove benefícios que vão muito além: os exercícios sobre a terra causam menos danos musculares e menos dores no pós-atividade, além de influenciar na capacidade do próprio corpo de se curar. Estar perto da natureza melhora a oxigenação em todo o organismo, fazendo com que o nosso cérebro responda melhor às dores.
11 – Redução da Pressão Arterial > Quando os cheiros da floresta entram em contato com o nosso organismo, o nível de estresse e irritação diminuem de forma eficaz. Assim, quando sentido por mais tempo, o aroma da Natureza é capaz de reduzir a pressão arterial. Já em ambientes fechados ou com muita poluição, o corpo precisa trabalhar mais para suprir suas necessidades de oxigenação. Trabalhar mais significa ter um aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial, o que não é um bom negócio.
12 – O poder da respiração > Respirar é um exercício básico e involuntário que, graças aos inúmeros novos estudos a respeito, parece ser também um jeito fácil de resolver algumas questões de saúde física e mental. Exercícios de respiração também diminuem a produção de hormônios relacionados com o estresse e, de quebra, ajudam a lidar melhor com situações estressantes no futuro. Nesse sentido, vale saber que uma respiração acelerada é um prato-cheio para que o corpo fique em estado de alerta e, consequentemente, estressado. Por outro lado, respirações lentas e profundas são capazes de acalmar. E se realizada na Natureza, muito melhor!
“As mais exaltadas verdades espirituais podem ser levadas ao coração pelas coisas da Natureza. Os pássaros do ar, as flores do campo, com suas belas cores vivas, o cereal germinando, a videira com seus ramos cheios de frutos, as árvores soltando os seus tenros renovos, o glorioso pôr-do-sol, as nuvens carmesim a anunciarem uma bela manhã, a sucessão das estações — tudo isto pode ensinar-nos preciosas lições de confiança e fé. A imaginação tem aqui um campo fértil no qual estender-se. A mente inteligente pode contemplar com a maior satisfação estas lições da verdade divina, as quais o Redentor do mundo associou às coisas da Natureza” (Ellen G. White, Conselhos Sobre Saúde)
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