Por que andar descalço? (parte 2)

Foto: Divulgação

Por Sérgio Nunes, professor de educação física, personal trainer, especialista em atividade física, saúde e qualidade de vida.

No artigo anterior, expusemos um pouco da nossa história com os pés descalços e dos calçados e suas consequências. Desenvolveremos agora sobre a importância do contato com os pés descalços no meio ambiente.

A área de representação dos pés no cérebro é semelhante à das mãos. Por isso ele recebe, tanto quanto o tato das mãos, os estímulos sensoriais e motores. É uma parte importante de exploração e reconhecimento, que melhora sempre a capacidade de desenvolver e aperfeiçoar a força, o equilíbrio, a coordenação, a consciência corporal e ainda nossa estabilidade postural. E justamente por proporcionar uma maior estabilidade favorece a biomecânica (modo como nossas estruturas se adequam ao movimento) de diversas partes do corpo: quadris, joelho e core, por exemplo. Desta maneira as estruturas articulares são bem mais protegidas, já que os músculos dos membros inferiores ficam mais fortalecidos e, consequentemente, não sobrecarregam as cápsulas articulares e os ligamentos. Pois com maior estabilidade, melhor a capacidade de produção e desenvolvimento da força, da potência e da velocidade. E essas capacidades todas estão relacionadas com um mecanismo de controle, fundamental, que chamamos de propriocepção.

Propriocepção, também denominado de Cinestesia, é o termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Este tipo específico de percepção permite a manutenção do equilíbrio postural e a realização de diversas atividades práticas. Resulta da interação das fibras musculares que trabalham para manter o corpo na sua base de sustentação, de informações táteis e do sistema vestibular, este localizado no ouvido interno. É um sentido interno que fornece informações sensoriais sobre os músculos, articulações, tendões e outros tecidos do corpo, permitindo que o cérebro tenha consciência da posição relativa, da força necessária para determinado gesto e do movimento das diferentes partes do corpo.

A propriocepção é efetiva devido à presença de receptores específicos (que estão inclusive nos pés) que são sensíveis a alterações físicas, tais como variações na angulação de uma articulação, pressão exercida por uma carga, movimentação ou posição da cabeça, tensão exercida sobre um músculo e até mesmo o comprimento da fibra muscular (se o músculo está em maior ou menor contração ou estiramento).

O conjunto das informações dadas por esses receptores sensoriais nos permitem, por exemplo, desviar a cabeça de um galho, mesmo que não se saiba precisamente a distância segura para se passar, ou mesmo o simples fato de poder tocar os dedos do pé e o calcanhar com os olhos vendados, além de permitir atividades importantes como andar, coordenar os movimentos responsáveis pela fala, segurar e manipular objetos, manter-se em pé ou posicionar-se adequadamente em diferentes posturas para realizar com maior eficiência algum gesto motor específico ou alguma atividade corporal desde as mais simples até as mais elaboradas e complexas e, ainda, corrigir movimentos indesejáveis. Ela desempenha um papel importante na execução das atividades da vida diária, como caminhar, correr, subir e descer, pular, pegar objetos e se vestir. Pois através da propriocepção, o cérebro recebe informações contínuas sobre a localização espacial das diferentes partes do corpo e é capaz de ajustar a força e a posição dos músculos de forma precisa, economizando energia e de maneira mais segura.

Esse mecanismo fantástico (a propriocepção) pode ser prejudicado pelo uso continuado de calçados. A propriocepção nos pés é importante para fornecer ao sistema nervoso informações sobre o terreno, a textura e a superfície em que estamos pisando. Esses estímulos sensoriais nos pés ajudam a ativar e coordenar os músculos e articulações apropriados para manter o equilíbrio e a estabilidade (esta importante para uma postura saudável). Quando os pés (e suas estruturas articulares, tendíneas, ligamentares e musculares) ficam tempo demais presos a qualquer tipo de calçados, podem acabar se enfraquecendo e desta forma afetar a propriocepção. Os estímulos sensoriais nos pés também são reduzidos, resultando em uma diminuição da ativação muscular adequada, falta de feedback sensorial preciso e consequentemente o comprometimento da propriocepção. Isso pode levar a uma perda de sensibilidade nos pés e a uma diminuição da capacidade de resposta rápida às mudanças nas superfícies e no terreno que tende a aumentar o risco de desequilíbrios, quedas e lesões, especialmente em atividades que exigem movimentos rápidos, mudanças de direção ou terrenos irregulares. E para agravar pode interferir negativamente no mecanismo natural de absorção de impacto e amortecimento que os pés estão capacitados para realizar. Quando usamos calçados, especialmente aqueles com solas espessas, amortecimento excessivo e suporte rígido, eles podem interferir na propriocepção dos pés, pois os calçados fornecem uma barreira entre os pés e o solo, limitando a quantidade de informações sensoriais e estímulos táteis que os pés recebem durante a caminhada, corrida ou outros movimentos.

Além disso, o uso constante de calçados com suporte excessivo pode levar à atrofia e enfraquecimento dos músculos intrínsecos do pé, que são responsáveis pelo suporte e controle adequado do arco plantar e pela estabilidade do pé. Isso pode afetar negativamente a propriocepção e a capacidade de ajuste fino dos músculos do pé durante os movimentos.

Para mitigar os efeitos negativos do uso excessivo de calçados na propriocepção, é benéfico permitir que os pés tenham algum tempo de exposição descalça ou com calçados minimalistas em ambientes seguros e adequados. Andar descalço em superfícies naturais, como grama, areia ou tapetes sensoriais, ou usar calçados flexíveis que permitam uma maior sensação do solo, podem ajudar a estimular a propriocepção dos pés e promover a força e estabilidade adequadas.

Portanto os pés precisam ser estimulados a fazer diferentes movimentos em superfícies variadas sempre dentro e fora dos calçados. No entanto, é importante encontrar um equilíbrio entre a exposição descalça e a proteção adequada dos pés, especialmente em ambientes onde há riscos de lesões, como superfícies ásperas, objetos pontiagudos ou temperaturas extremas. E como cada pessoa é única e tem diferentes necessidades e condições de saúde, é recomendável consultar um profissional de saúde capacitado para obter orientações individualizadas sobre o uso adequado de calçados e como preservar e/ou aprimorar a propriocepção dos pés.

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