Crises são oportunidades

O Brasil está passando por grandes transformações. É um momento que pode ser olhado de dois lados. Os mais tradicionais verão as crises; os arrojados, oportunidades.

No cenário internacional, está acontecendo a grande crise de decadência da liderança dos Estados Unidos. O seu grande competidor é a China. O governo Trump está tentando a todo custo conter o poderio militar chinês. Por outro lado, a maior fragilidade da China é a sua capacidade de alimentar o seu povo. No momento atual só existem duas nações capazes de fazer isso: o Brasil e os Estados Unidos.

A escolha dos chineses é óbvia, transferir para o Brasil todas as compras de alimentos que seja possível. E o Brasil está se saindo muito bem. O aumento dos embarques de soja está sendo muito forte, apesar de todas as nossas fragilidades.

Outro lado da decadência dos Estados Unidos é crise com a Turquia. Lá a prisão de um pastor evangélico se tornou uma questão de estado. Essa prisão ocorreu há dois anos. Só agora é que o presidente Trump resolveu fazer da questão um cavalo de batalha. A sua intenção é clara, tentar ganhar as eleições de novembro, na qual quase 100% dos deputados federais e 33% dos senadores estarão envolvidos. A bancada evangélica é decisiva nos Estados Unidos. Tudo mais é jogo de cena.

A crise econômica turca ameaça a Europa e os países em desenvolvimento como o Brasil. Os bancos europeus estão muito comprometidos com empréstimos ao governo e à economia turca, o que forçou uma desvalorização ainda maior do real. E maiores vantagens para os exportadores brasileiros, principalmente os agricultores que plantam soja, milho e algodão.

A rentabilidade da safra 2017-2018 foi a maior nos últimos dez anos. Os agricultores envolvidos com exportação são os grandes beneficiados com a crise atual, e estão com grandes reservas. Apesar do noticiário dos embates com o tabelamento dos fretes, a realidade é outra.

O mais provável para a próxima safra é que os agricultores aumentem bastante a área plantada de soja, milho e algodão. Existe o risco que os preços em reais caiam. No entanto, no momento atual, as margens são muito atraentes. Esse esforço de aumento da produção ainda não ocorreu.

Existe uma grande distância entre as intenções e a economia real. Maior distância ainda entre a economia real e a percepção dos nossos economistas. Eles levam muito tempo para perceber mudanças. Isso só começará a ocorrer durante a colheita da safra 2018-2019, no início do ano que vem. Até lá, viveremos um quadro de previsões bastante pessimistas e irreais.

A crise entre os Estados Unidos e a China abre uma rara oportunidade de negócios. O Brasil poderá se tornar o principal fornecedor de alimentos para a principal economia do mundo nos próximos anos. Outros países verão com bons olhos a estreita relação entre o Brasil e a China, e a decadência dos Estados Unidos.

Isso trará uma estabilidade à ordem mundial. Comida deixará de ser usada como chantagem em disputas militares. O Brasil vai ser visto como um fator de estabilidade num cenário de grandes disputas de interesses. O que deve aumentar a nossa importância numa economia mundial.

Esse quadro de mudanças sugere que algo muito grande está acontecendo. A economia brasileira está se inserindo no mercado mundial numa posição de liderança. Isso é algo que nunca ocorreu antes. As transformações são estruturais. O que leva a hipótese do início um terceiro ciclo de longa duração para a economia brasileira. O primeiro se iniciou com a chegada dos europeus no nosso litoral, em 1500. O segundo, com a chegada de Dom João VI, 1808. Vivemos momentos de grandes transformações: sociais, políticas e econômicas; um ponto de inflexão.

- Anuncie Aqui -