Novos vírus e animais selvagens I

Foto: Reprodução

Por Édelis Martinazzo Dallagnol

Vírus não são seres vivos. Existem seres vivos microscópicos (bactérias, protozoários, vários fungos, etc.), e algumas espécies deles podem causar doenças. Afora seres vivos, há dois agentes que causam doenças e não são vivos: os príons (proteínas desnaturadas não-genéticas replicáveis) e os vírus (material genético encapsulado, com ou sem envelope externo).
Alguns alegam que vírus seriam vivos, porque formam linhagens contínuas, “reproduzem-se” (replicam-se, na verdade, totalmente às custas do hospedeiro), mutam e evoluem conforme mudanças no meio ambiente… Mas eles não têm metabolismo próprio, não são sequer uma célula. Por isso, são considerados “partículas infecciosas”, assim como os príons. Logo, por não serem vivos, os vírus não podem ser mortos: o que fazemos é romper o capsídeo viral, destruindo o vírus, o que equivale a “matá-lo”.
Não se sabe como surgiu o primeiro. Duas frentes são mais aceitas: que tenha surgido a partir de uma molécula de RNA, ou que tenha surgido de uma variedade de ser unicelular que, na evolução, perdeu suas estruturas até tornar-se obrigatoriamente dependente de célula hospedeira. Novos vírus surgem a partir da evolução de vírus pre-existente. Da mesma forma que nas espécies pluricelulares (como a nossa), a cada muitas replicações existem pequenas alterações no resultado final, chamadas mutações, que podem ajudar ou dificultar a adaptação ao meio. Como os vírus se replicam aos milhares toda vez que infectam um hospedeiro, e como cada hospedeiro, pela sua própria variação genética, empresta probabilidade de mutação ao vírus, é muito mais frequente a alteração genética significativa em um vírus do que em um mamífero, por exemplo. Eventualmente, as alterações podem facilitar a infeção viral em alguma nova espécie animal…
Mas o surgimento de novas doenças virais capazes de infectar humanos não depende somente das mutações dos vírus. É necessária a efetiva infecção do primeiro humano, e a transmissão desse para mais humanos. O mesmo é verdade quanto às demais espécies animais. Por exemplo, um vírus que, hoje, infecta tatetos, amanhã poderá infectar onças. Todavia, para que a transmissão aconteça, é necessário que se entre em contato com grande quantidade desse vírus, do modo como o vírus é transmitido. Um vírus de gripe se transmite de forma bem distinta do vírus da AIDS, não é?
O mais comum é a adaptação do vírus a espécies geneticamente mais parecidas com seu hospedeiro inicial. Além disso, a transmissão mais frequente se dá pelo contato com secreções e fluidos do animal contaminado. Assim sendo, se surgir hoje um novo vírus que infecte tatetos, ele mais provavelmente infectará também porcos do mato e, depois, quiçá porcos domésticos, não um felino. Uma alteração genética muito mais expressiva é necessária para que o vírus passe a infectar uma espécie tão diferente.
Claro, abordamos o assunto aqui numa visão geral, não detidamente; ainda assim é extenso. Continuaremos na próxima semana.

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