Águas de julho

Foto: Reprodução

Por César Graça

A Ásia está vivendo uma temporada de chuvas intensas, principalmente no sul da China. Vários rios estão transbordando. Ruas se transformam em rios. Várias barragens estão se rompendo, provocando grandes inundações.

Enormes represas como a de Três Gargantas, no rio Yangtzé, estão em risco. Um desastre, até há alguns meses, inimaginável.  Grandes represas produzem muita energia elétrica. Amortecem as oscilações dos rios, mas até certo ponto? Elas têm um limite. Quando esse limite é rompido as coisas podem se complicar.

No Brasil chove bastante, geralmente de forma mais bem distribuída. No Norte e no Nordeste essas variações são bem maiores. Variações ao longo do ano e entre os anos. No Nordeste existe pouca tecnologia de guardar água. Fala-se muito das grandes represas. Mas, mesmo elas, sofrem grandes variações. Soluções simples, como guarda a água da chuva para durar o ano todo ainda são pouco usadas. Quando existem, quase sempre foram feitas pelo governo.

Essas variações variam ao longo dos anos. Em alguns anos elas podem ser muito intensas. O que provocam uma grande perturbação. São momentos decisivos. Mudam a marcha da história.

Para a China é um momento de fraqueza. A estabilidade alimentar da população está ameaçada. No passado esses momentos levaram a grandes instabilidades políticas, algumas chegaram a durar séculos. O governo chinês tem consciência desses riscos. Por esse motivo é preciso garantir uma estabilidade nas fontes alimentares.

A crise entre a China e os Estados Unidos não poderia ocorrer em pior momento, para os chineses. Todo o cuidado é pouco. É preciso reduzir a dependência com cautela. A melhor estratégia é encobrir a retirada com grandes promessas de crescimento.

É o que está acontecendo. Os chineses estão aumentando as compras de alimentos do Brasil e da Argentina. E fazendo compras de alimentos bem comedidas nos Estados Unidos, no Canadá e na Europa, ensaiando uma saída à francesa.

O resultado é um aumento substancial das compras chinesas no Brasil. Não só nas quantidades e diversidades, mas também nos prazos. As compras são antecipadas. O Brasil já vendeu mais de 40% da soja a ser plantada este ano, e a ser colhida no início do ano que vem. No passado, essa venda não passava de 15%, neste momento do ano.

Compras antecipadas criam um clima favorável ao aumento da área plantada. O que implica em novos investimentos. Até agora a agricultura brasileira estava tentando aumentar a produtividade. É uma atividade trabalhosa, mas pouco arriscada. A estratégia deu certo. A rentabilidade melhorou. É bem da verdade que o governo ajudou muito, desvalorizando o real. Ninguém esperava essa estratégia do governo. Nem os investidores estrangeiros, que achavam que o governo iria queimar as grandes reservas de dólar do Banco Central. Tiveram que pagar um alto preço para saírem correndo do país. Quem ganhou foram os exportadores. A agricultura em particular.

Aumentar as áreas de plantio é uma atividade arriscada, necessita de grandes investimentos. A tentação é muito grande. A integração pecuária-floresta-agricultura possibilita a recuperação de áreas degradas de pecuária. Os retornos são interessantes, mas levam tempo. Os agricultores têm fragilidades, a quantidade de silos disponíveis, para guardar as safras, é pequena. Tudo está funcionando bem, pois as safras colhidas são logo embarcadas. A infraestrutura de transporte está funcionando bem, com as obras feitas pelo governo Bolsonaro. O ideal seria aumentar a capacidade de armazenamento, para dar mais estabilidade ao agronegócio. O ponto de retorno dos investimentos em armazenagem é longo. Os financiamentos do governo para investimentos de ampliação da capacidade de armazenagem são difíceis de conseguir. Sair da posição confortável de ter um bom caixa, para contrair dívidas de longo prazo é uma decisão nada fácil. O momento é agora.

 

 

- Anuncie Aqui -