Caçar para repovoar

Foto: wikipedia

Por Édelis Martinazzo Dallagnol

Repovoar de bicho? Encher de animais silvestres? Que facilidade!
Imagine, amigo leitor, repovoar de espécies nativas as nossas reservas legais, partindo-se do nada, ou do quase nada… Trata-se de tarefa difícil, especialmente porque quase nunca temos as matrizes (os primeiros casais) disponíveis… Talvez um manejo de animais… O cerrado é rico; mas, se advindos de lá, haveriam de aclimatar-se e adaptar-se? Talvez necessário um apoio alimentar, na fase inicial. Melhor seria apanharem-se as matrizes na própria região: Serra do Mar, por exemplo, ainda com apreciável população. Em últimos casos, teríamos o Parque Nacional do Iguaçu…
O apoio alimentar consiste no mesmo método de se “roubarem” os bichos das propriedades vizinhas… Como isso se faz? Basta que você passe a colocar, habitualmente, alimento (milho, soja, mandioca, frutas) dentro da propriedade, mas em pontos já visitados, mesmo que mui raramente, pelos “animais do vizinho” – não estamos ensinando, só narrando! Depois, esse alimento passa mais para o interior de sua propriedade, de sorte que os animais irão “aquartelar-se” na sua propriedade… O reforço alimentar nada mais é que o fornecimento de alimento objetivando-se fazer com que os animais “se querenciem”(se acostumem) naquela área.
As matrizes poderiam ser fornecidas pelo próprio poder público, inda mais que conta com centenas (ou milhares) de “ramificações” ociosas, inativas, de ministérios e órgãos. Não é “bicho de sete cabeças”; basta ocupar pequena parte da mão-de-obra ociosa…
A adequação da espécie a determinado meio necessitará de avaliação. Técnica? De “biólogos de escrivaninha”?… Claro, não são todos… mas poucos têm a necessária vivência. Melhor fosse de qualquer caçador. Caso se procurassem caçadores, nenhum se apresentaria; mas se fosse oferecida certa importância para acompanharem o projeto… aí teríamos alguns milhares… Fato é que caçador tem conhecimento prático, imediato, instantâneo. São muitos os fatores que entram na somatória, no emaranhado do meio que irá hospedar e tornar-se morada de cada espécie animal. Por exemplo: a área é seca ou pantanosa; cobertura vegetal, se é campo, faxinal ou mata; se há ervas apreciadas pelos herbívoros, frutas e sementes o ano inteiro; se o solo contém vida, como larvas, minhocas, lesmas, caramujos; se há água para beber e para abrigar animais (paca, capivara, lagarto buscam fugir de predadores sob a água).
Para se ter uma antevisão: cada animal tem um meio preferido. O tatu quer um solo cheio de vida e não área pantanosa (mesmo sendo bom nadador, bom mergulhador). O animal que vive elementarmente da fruta não sobrevive nas áreas de campo ou de Faxinal. Quanto a frutas, há mister que a oferta se estenda por longo período. Por exemplo: julho/agosto, gerivá; setembro/novembro, guavirova, cereja, pitanga, jabuticaba; dezembro/fevereiro, araticum-do-mato, guamirim, uvaia; março/maio, jaracatiá; maio/julho, pinhão… Há dezenas de outras frutas silvestres na região – apenas exemplificamos. Então, cada espécie na área certa, com o alimento necessário.

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