Um salto na agricultura

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Fotos: Jaelson Lucas / AEN

Por Cesar Graça

A safra 2020-2021 começa a ser plantada com um leve atraso. As previsões iniciais são de um crescimento de 5%. Parece pouco. O entusiasmo na agricultura é grande. Os preços estão nas alturas. 55% da safra de soja já foi vendida antes do plantio. Por causa do atraso da primeira safra, que geralmente é soja, o plantio da segunda safra, que geralmente é de milho, está ameaçado. Existe uma janela para o plantio da segunda safra. Se esta janela não for respeitada o risco que perdas, por falta de chuvas ou mesmo geadas precoces, aumenta bastante.
A produção agrícola sofre muita influência do clima. O uso da tecnologia pode minimizar algumas perdas. Uma grande capacidade de plantio pode aproveitar uma janela disponível. Uma grande capacidade de colheita reduz o risco de perdas. E uma grande capacidade armazenamento pode reduzir muito as perdas e propiciar o aproveitamento dos melhores momentos de venda. Poucos agricultores brasileiros, no entanto, têm essas facilidades. A tendência é que, com o tempo, eles consigam montar essa infraestrutura. Hoje a realidade é de grandes riscos por falta de uma infraestrutura adequada. A agricultura hoje é tecnologia e capital intensiva.
A infraestrutura, porteira para fora, ainda é bastante precária, apesar dos avanços nos últimos meses. A concorrência entres os portos está provocando milagres. Os custos de embarque estão caindo e a capacidade aumentando.
As estradas melhoraram bastante com as obras de manutenção feitas pelo governo e pelas concessionárias. As ferrovias estão em construção. Dentro uns cinco anos, a realidade será outra. A agricultura luta com as armas que tem. O desafio é enorme.
As perspectivas são que o Brasil vai produzir uma safra recorde. A indústria de máquinas agrícolas não está atendendo os pedidos. Os fornecedores não conseguem atender o aumento da demanda. Está faltando até caminhões. Capacidade instalada existe. A indústria foi pega desprevenida. Todo o mundo estava esperando uma grande recessão e ela não veio. Em poucos meses a indústria se ajusta. Existe mão de obra treinada. É só recontratar.
Os agricultores estão bem capitalizados. O crédito agrícola é farto. A agricultura está puxando a recuperação da economia. Ninguém esperava por isso. A imprensa tradicional só fala em epidemia. No final, o ano de 2020 não foi tão ruim assim. O Auxílio Emergencial cumpriu o seu papel. Os brasileiros mais pobres conseguiram sobreviver com dignidade.
2021 vai ser diferente. A economia já estará crescendo. A renda agrícola vai atingir as cidades. A intensidade desse movimento vai ser muito forte, pelo aumento da produção agrícola e pelo crescimento da renda. As cidades não estarão preparadas para essa retomada. O clima de depressão ainda é muito grande.
A questão é estimar o crescimento da agricultura. O valor dos grãos já aumentou na ordem de 30%. Parte da safra foi vendida antes do pico do aumento. Então vamos estimar um crescimento médio de 20% no valor da produção agrícola. É uma estimativa bem razoável. É provável que o valor fique um pouco acima.
O outro item é o crescimento da quantidade. A estimativa do mercado é de 5%, que parece bem conservadora. É a média dos últimos 5 anos, um crescimento da área plantada de 3% e um ganho de produtividade de 2%. O que parece pouco. No entanto, se esse crescimento for acumulado em 10 anos dará um crescimento de mais de 60%, e em 20 anos quase de 130%.
Só que agora essa taxa de crescimento mudou. Uma estimativa mais realista é entre 10 e 20%. Um valor médio de 15% é uma estimativa bem realista. Ou seja, o triplo da média histórica. Somando os dois crescimentos teremos um aumento total de 40% do valor da safra porteira para dentro. O impacto na economia vai ser muito grande.
O momento atual ainda é de muito pessimismo. Apesar de que alguns indicadores de falta de produtos no atacado já demonstra que a recuperação já começou.
A percepção das pessoas é que alguns itens subiram muito de preço: arroz, óleo de soja, carne, etc. As empresas já começaram a recontratação, mas ainda de uma forma bem tímida. O cenário ainda é um pouco turvo.
Os economistas mais ligados ao agronegócio já perceberam que os aumentos de preços vieram para ficar. Poucos, no entanto, se arriscam estimar um crescimento na área de plantio e num aumento da produtividade.

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