A reconstrução

Foto: Reprodução

Por Édelis Martinazzo Dallagnol

Terrível a situação de milhares de famílias que perderam um ente querido, especialmente quando o pai, a mãe! Imagine-se, amigo leitor, aos quatro, cinco ou seis anos de idade, tendo perdido a mãe! Que calamidade!…
Há dias, conversando a respeito, alguém alegou que milhares de crianças, anualmente, perdem um dos pais por separação de casal ou por “simples” (comum) abandono… Infelizmente, isso vem ocorrendo. Muitos se limitam a explicações egoístas, como: “Já fiz muito pela família”; “Agora estou amando de verdade outra pessoa”… Se o amigo assistir a audiências em varas de família, vai ter pesadelos! Abominável o desprezo de nossa sociedade pela família, pelos laços afetivos com cônjuges e, especialmente, com filhos!
Muita, muita paciência com a revolta, o desânimo, a frustração, a tristeza dos filhos. Compreensível o seu estado de ânimo, porque até um adulto, mais independente, sofre!
Dias atrás conversamos sobre os terríveis efeitos da pandemia e nos lembramos dos pássaros construtores. Cabe a analogia, porquanto anualmente esses pássaros precisam reconstruir “suas vidas”: a casa, a família… Os filhos de anos anteriores foram embora e o sentimentos próprios de pais precisam ser renovados, com novos filhinhos, que precisarão, por muito tempo, dos diuturnos cuidados dos papais!
Quase todos os pássaros constroem seus ninhos. Alguns, entretanto, são verdadeiros profissionais, engenheiros da floresta. Os pica-paus perfuram troncos secos para fazer ninho no interior, protegidos das intempéries e, principalmente, de predadores. O joão-bobo cava toca em barrancas. O joão-de-barro arma sua casa em postes, galhos, entretecendo as paredes com barro e delgados filamentos de capim, grama ou madeira. Os tecelões, entretanto, destacam-se especialmente pela técnica esmerada de construção, especialmente quatro deles: japuaçu, japu, japuíra e japuranã. Começam pela escolha do local, da árvore hospedeira. De regra essas árvores devem dificultar o acesso dos “famigerados” predadores de ninhadas, como macacos, quatis, iraras, gatos e jaguatiricas. Então, a paineira, pelos espinhos, coopera; as garapeiras (grápias) são lisas e especialmente, a árvore conhecida como “escorrega-macaco”, que inviabiliza o acesso dos predadores de pêlo. Nem a jaguatirica a escala!…
O japuaçu é o maior, em envergadura, costumando entretecer suas “sacolas” (ninhos) em escorrega- macacos, bem na pontinha dos galhos, a no mínimo 7 ou 8 m das ramagens mais próximas. Além disso, sua “sacola” é muito bem feitinha e forte. Nem tucanos conseguem comer seus ovos. O japu (aqui no sul conhecido como “guacho” e, no nordeste, como “xexéu”) é do tamanho do sabiá, de cor preta e vermelha. O japuíra é menor, de listas amarelas em fundo cinza; chama a atenção porque imita canto de muitos pássaros — parece um papagaio… O japuranã (que deu nome à cidade do norte do Mato Grosso) é de cor preta azulada; sua “sacola” é preta, e é a maior dentre os tecelões. Também vive na Mata de Araucárias. Todos os anos constroem suas “casas”, seus ninhos…
Como eles, obrigamo-nos a reconstruir tudo, no pós pandemia.

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